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Pentágono tem fotos que podem provar massacre em Haditha
Imagens digitais vistas por jornalista da CNN retratariam os 24 civis iraquianos executados por fuzileiros navais norte-americanos, em novembro de 2005
DE WASHINGTON
Trinta imagens digitais da
morte de 24 civis iraquianos
-homens, mulheres e crianças- vistas pelo correspondente no Pentágono da emissora de
notícias CNN contradizem a
versão dos fuzileiros navais
americanos investigados pelo
chamado massacre de Haditha,
cidade iraquiana a noroeste de
Bagdá, em novembro de 2005.
Segundo os soldados, eles
respondiam a fogo de insurgentes após seu comboio ser atingido por um explosivo que matou
um marine. Mas, de acordo
com dezenas de relatos obtidos
primeiro pela revista "Time" a
partir de um vídeo amador feito
por um iraquiano e depois por
outras organizações jornalísticas, os soldados resolveram
vingar a morte do colega, matando os civis, alguns com tiros
na nuca e à queima-roupa.
As fotos a que o jornalista teve acesso nesta semana teriam
sido feitas por um time de inspeção de outro grupo de fuzileiros, que chegou à cidade para
registrar a cena do crime. São
provas da investigação para
apurar as responsabilidades do
ocorrido. O Pentágono confirma a existência das imagens,
mas não comenta seu teor nem
autoriza sua divulgação, por se
tratar de indício de prova de investigação em andamento.
Segundo o jornalista Jamie
McIntyre, as cenas são "grotescas" e mostram corpos em roupas civis, com números vermelhos marcados na testa. "Alguns têm tiros no rosto ou na
cabeça. Uma mulher e uma
criança, talvez mãe e filha, foram executadas contra uma parede. Outra mulher e criança,
na cama. Uma mulher de mais
idade teve seu pescoço quebrado, talvez pela força do disparo
de um projétil."
Os corpos estão dentro de casas, e não nas ruas, e não têm ferimentos de explosão ou por
balas perdidas. "Vi as fotos, mas
não vou fazer comentários a
respeito", disse o general Michael Hagee, comandante dos
fuzileiros navais.
Segurança nacional
Para o Pentágono, a exibição
das imagens pode ter o mesmo
efeito no mundo árabe do escândalo da tortura de iraquianos por americanos na prisão
de Abu Ghraib, que veio à tona
em 2004: o de incitar um sentimento antiamericano. Seria,
portanto, uma "ameaça à segurança nacional".
Tal defesa pode ser uma nova
tentativa do governo de George
W. Bush de segurar o crescente
desconforto da opinião pública
com uma guerra que não parece perto do fim. Antes, quando
cobrada por não divulgar fotos
dos soldados mortos no Iraque,
a Casa Branca disse que era em
respeito aos familiares -até
um blog publicar as imagens.
Mesmo se divulgadas, as imagens poderiam sofrer outro tipo de bloqueio: a autocensura a
qual se submete hoje a grande
imprensa dos EUA. Fotos de
outro massacre de civis, em
março, na cidade de Ishaqi, feitas pela agência de notícias
France Presse, foram distribuídas a emissoras e publicações,
mas virtualmente ignoradas no
país. A justificativa foi a de que
fotos de alguém morto brutalmente chocariam a audiência.
A mesma audiência que via ontem imagens do corpo do terrorista Abu Musab al Zarqawi.
(SÉRGIO DÁVILA)
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