São Paulo, sexta-feira, 09 de junho de 2006

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Pentágono tem fotos que podem provar massacre em Haditha

Imagens digitais vistas por jornalista da CNN retratariam os 24 civis iraquianos executados por fuzileiros navais norte-americanos, em novembro de 2005

DE WASHINGTON

Trinta imagens digitais da morte de 24 civis iraquianos -homens, mulheres e crianças- vistas pelo correspondente no Pentágono da emissora de notícias CNN contradizem a versão dos fuzileiros navais americanos investigados pelo chamado massacre de Haditha, cidade iraquiana a noroeste de Bagdá, em novembro de 2005.
Segundo os soldados, eles respondiam a fogo de insurgentes após seu comboio ser atingido por um explosivo que matou um marine. Mas, de acordo com dezenas de relatos obtidos primeiro pela revista "Time" a partir de um vídeo amador feito por um iraquiano e depois por outras organizações jornalísticas, os soldados resolveram vingar a morte do colega, matando os civis, alguns com tiros na nuca e à queima-roupa.
As fotos a que o jornalista teve acesso nesta semana teriam sido feitas por um time de inspeção de outro grupo de fuzileiros, que chegou à cidade para registrar a cena do crime. São provas da investigação para apurar as responsabilidades do ocorrido. O Pentágono confirma a existência das imagens, mas não comenta seu teor nem autoriza sua divulgação, por se tratar de indício de prova de investigação em andamento.
Segundo o jornalista Jamie McIntyre, as cenas são "grotescas" e mostram corpos em roupas civis, com números vermelhos marcados na testa. "Alguns têm tiros no rosto ou na cabeça. Uma mulher e uma criança, talvez mãe e filha, foram executadas contra uma parede. Outra mulher e criança, na cama. Uma mulher de mais idade teve seu pescoço quebrado, talvez pela força do disparo de um projétil."
Os corpos estão dentro de casas, e não nas ruas, e não têm ferimentos de explosão ou por balas perdidas. "Vi as fotos, mas não vou fazer comentários a respeito", disse o general Michael Hagee, comandante dos fuzileiros navais.

Segurança nacional
Para o Pentágono, a exibição das imagens pode ter o mesmo efeito no mundo árabe do escândalo da tortura de iraquianos por americanos na prisão de Abu Ghraib, que veio à tona em 2004: o de incitar um sentimento antiamericano. Seria, portanto, uma "ameaça à segurança nacional".
Tal defesa pode ser uma nova tentativa do governo de George W. Bush de segurar o crescente desconforto da opinião pública com uma guerra que não parece perto do fim. Antes, quando cobrada por não divulgar fotos dos soldados mortos no Iraque, a Casa Branca disse que era em respeito aos familiares -até um blog publicar as imagens.
Mesmo se divulgadas, as imagens poderiam sofrer outro tipo de bloqueio: a autocensura a qual se submete hoje a grande imprensa dos EUA. Fotos de outro massacre de civis, em março, na cidade de Ishaqi, feitas pela agência de notícias France Presse, foram distribuídas a emissoras e publicações, mas virtualmente ignoradas no país. A justificativa foi a de que fotos de alguém morto brutalmente chocariam a audiência. A mesma audiência que via ontem imagens do corpo do terrorista Abu Musab al Zarqawi. (SÉRGIO DÁVILA)


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