São Paulo, sexta-feira, 09 de julho de 2004

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AMÉRICA LATINA

Presidente visita Bolívia dias antes de referendo sobre gás que é exportado ao Brasil e defende cooperação bilateral

Lula apóia líder boliviano antes de votação

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA

A curta visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem à Bolívia teve o objetivo de demonstrar apoio ao colega boliviano, Carlos Mesa, a dez dias do referendo sobre a exploração e comercialização do gás natural boliviano, segundo fontes diplomáticas brasileiras. O teor político do evento de ontem foi criticado pela oposição.
A consulta será no dia 18, e o resultado pode afetar as atividades da Petrobras Bolivia, considerada o maior investimento da estatal brasileira no exterior, com 800 funcionários e um total de R$ 1,5 bilhão investidos. A sede é em Santa Cruz. "O timing não é por acaso", disse um alto membro da comitiva brasileira. "É para dar uma mão ao Mesa."
"Tudo o que a gente quer dizer é o seguinte: nós somos os vizinhos aqui do lado e queremos que vocês tenham sucesso. Se isso acontecer, é importante para nós", disse, sob a condição do anonimato.
A Folha apurou que a viagem foi inicialmente cogitada para ocorrer no dia 14 mas foi antecipada por sugestão do governo boliviano -a avaliação do governo Mesa era de que a data inicial era muito próxima e não teria muita repercussão política. "A data foi escolhida a dedo", afirma o funcionário brasileiro.
Durante discurso ontem à tarde, Lula fez referência direta ao referendo, que decidirá sobre temas como o modelo de exportação de gás-o Brasil é o maior comprador do produto, via gasoduto.
"A realização do referendo sobre a política energética e a convocação de eleições municipais e da Assembléia Constituinte abrem caminho para a Bolívia encontrar respostas para os anseios de seu povo", disse Lula, logo no início do discurso.
O brasileiro também "requentou" o anúncio de um pólo gás-petroquímico e de duas termelétricas em Corumbá e Puerto Suarez, na fronteira entre os dois países. Paralisadas, as obras foram anunciadas no final de 2000 pelos então presidentes Fernando Henrique Cardoso e Hugo Banzer, em ato na fronteira.
Em seu discurso, Mesa também se referiu ao referendo: "Tenho certeza que, com o sucesso no referendo, poderemos levar adiante esses empreendimentos, que vão gerar uma nova dimensão do que entendemos do uso adequado de nossas matérias-primas".
Em nota dos dois governos, Lula e Mesa reforçaram "o papel das exportações de gás ao Brasil e dos investimentos brasileiros no setor de hidrocarbonetos para o crescimento da economia boliviana".
Para o público boliviano, a mensagem é que, se as regras atuais forem radicalmente mudadas, como defende a oposição, esses investimentos correm o risco de nunca saírem do papel.
Sem entrar em detalhes, Lula anunciou que a Bolívia será o "primeiro parceiro na implementação do Programa de Substituição Competitiva para países do Mercosul". E também prometeu a transferência de seis aeronaves militares à Força Aérea Boliviana.
Os dois governos firmaram diversos acordos bilaterais, como a criação de uma linha de crédito de US$ 600 milhões do BNDES -dinheiro que ainda não tem previsão para ser liberado.
Os dois governos também oficializaram o perdão de uma dívida boliviana de cerca de US$ 50 milhões. Essa medida já havia sido anunciada pelo Brasil no final do ano passado, logo após os violentos protestos que levaram o presidente Gonzalo Sánchez de Lozada à renúncia. Seu vice, Mesa, assumiu no lugar.
Também foi firmado acordo que prevê a não-obrigatoriedade de passaporte para viajar entre os dois países, como já ocorre dentro do Mercosul. Faziam parte da comitiva brasileira os ministros Antonio Palocci (Fazenda), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e Celso Amorim (chanceler).


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