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AMÉRICA LATINA
Presidente visita Bolívia dias antes de referendo sobre gás que é exportado ao Brasil e defende cooperação bilateral
Lula apóia líder boliviano antes de votação
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA
A curta visita que o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem à Bolívia teve o objetivo de
demonstrar apoio ao colega boliviano, Carlos Mesa, a dez dias do
referendo sobre a exploração e
comercialização do gás natural
boliviano, segundo fontes diplomáticas brasileiras. O teor político
do evento de ontem foi criticado
pela oposição.
A consulta será no dia 18, e o resultado pode afetar as atividades
da Petrobras Bolivia, considerada
o maior investimento da estatal
brasileira no exterior, com 800
funcionários e um total de R$ 1,5
bilhão investidos. A sede é em
Santa Cruz. "O timing não é por
acaso", disse um alto membro da
comitiva brasileira. "É para dar
uma mão ao Mesa."
"Tudo o que a gente quer dizer é
o seguinte: nós somos os vizinhos
aqui do lado e queremos que vocês tenham sucesso. Se isso acontecer, é importante para nós", disse, sob a condição do anonimato.
A Folha apurou que a viagem
foi inicialmente cogitada para
ocorrer no dia 14 mas foi antecipada por sugestão do governo boliviano -a avaliação do governo
Mesa era de que a data inicial era
muito próxima e não teria muita
repercussão política. "A data foi
escolhida a dedo", afirma o funcionário brasileiro.
Durante discurso ontem à tarde, Lula fez referência direta ao referendo, que decidirá sobre temas
como o modelo de exportação de
gás-o
Brasil é o maior comprador do
produto, via gasoduto.
"A realização do referendo sobre a política energética e a convocação de eleições municipais e
da Assembléia Constituinte
abrem caminho para a Bolívia encontrar respostas para os anseios
de seu povo", disse Lula, logo no
início do discurso.
O brasileiro também "requentou" o anúncio de um pólo gás-petroquímico e de duas termelétricas em Corumbá e Puerto Suarez, na fronteira entre os dois países. Paralisadas, as obras foram
anunciadas no final de 2000 pelos
então presidentes Fernando Henrique Cardoso e Hugo Banzer, em
ato na fronteira.
Em seu discurso, Mesa também
se referiu ao referendo: "Tenho
certeza que, com o sucesso no referendo, poderemos levar adiante
esses empreendimentos, que vão
gerar uma nova dimensão do que
entendemos do uso adequado de
nossas matérias-primas".
Em nota dos dois governos, Lula e Mesa reforçaram "o papel das
exportações de gás ao Brasil e dos
investimentos brasileiros no setor
de hidrocarbonetos para o crescimento da economia boliviana".
Para o público boliviano, a
mensagem é que, se as regras
atuais forem radicalmente mudadas, como defende a oposição, esses investimentos correm o risco
de nunca saírem do papel.
Sem entrar em detalhes, Lula
anunciou que a Bolívia será o
"primeiro parceiro na implementação do Programa de Substituição Competitiva para países do
Mercosul". E também prometeu a
transferência de seis aeronaves
militares à Força Aérea Boliviana.
Os dois governos firmaram diversos acordos bilaterais, como a
criação de uma linha de crédito de
US$ 600 milhões do BNDES -dinheiro que ainda não tem previsão para ser liberado.
Os dois governos também oficializaram o perdão de uma dívida boliviana de cerca de US$ 50
milhões. Essa medida já havia sido anunciada pelo Brasil no final
do ano passado, logo após os violentos protestos que levaram o
presidente Gonzalo Sánchez de
Lozada à renúncia. Seu vice, Mesa, assumiu no lugar.
Também foi firmado acordo
que prevê a não-obrigatoriedade
de passaporte para viajar entre os
dois países, como já ocorre dentro
do Mercosul. Faziam parte da comitiva brasileira os ministros Antonio Palocci (Fazenda), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento,
Indústria e Comércio) e Celso
Amorim (chanceler).
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