São Paulo, sexta-feira, 09 de julho de 2004

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Oposição pede que Lula não interfira

DO ENVIADO ESPECIAL

O principal líder da oposição boliviana, o cocaleiro Evo Morales, pediu ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não "entrasse no jogo" do crucial referendo sobre a exploração e a comercialização do gás boliviano, daqui a nove dias. Já o oposicionista radical Felipe Quispe disse que Lula deveria vir para ver os manifestantes "queimando as urnas".
"Brasil e Bolívia são dois países irmãos, e os presidentes devem se encontrar, mas, às vésperas da votação, a visita é um desacerto do presidente [da Bolívia, Carlos] Mesa. Não gostaríamos que Lula entrasse nesse jogo", disse o deputado Morales em entrevista, por telefone, à Folha.
Morales disse que Mesa vai usar a visita de Lula na campanha a favor do referendo. Governo e oposição defendem posições distintas. O socialista, no entanto, poupou o presidente brasileiro: "Não acredito que Lula saiba disso".
Morales criticou o fato de o encontro entre os dois presidentes ter em sua agenda o gás natural.
"Peço que o presidente boliviano pare com essas negociações enquanto não sair o resultado do referendo. O tema deveria ser deixado de lado", afirmou.
Morales lidera a segunda maior bancada do Congresso e foi um dos principais líderes dos protestos que levaram à renúncia do ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, em outubro. Em seu lugar, assumiu seu vice, Carlos Mesa, que não descarta renunciar caso seja derrotado no referendo.
Já o principal líder indígena do país, o aimará Quispe, disse que Lula está sendo manipulado tanto por Mesa quanto por Morales.
"Seria melhor que Lula viesse durante o referendo para nos ver bloqueando estradas, marchando e queimando as urnas."
Os protestos de 2003 exigiam o fim dos planos de exportação do gás via Chile e a revogação da legislação vigente. Ao menos 80 manifestantes morreram ao longo de três semanas de distúrbios.
No entanto, diferentemente de Quispe, que defende o boicote no próximo dia 18, Morales apóia a realização do referendo, mas tem posições distintas das do governo.
O referendo preocupa o Brasil sobretudo por causa da Petrobras Bolivia, hoje a maior empresa do país -com US$ 1,5 bilhão de investimentos e 800 funcionários. É o maior investimento da estatal brasileira no exterior. (FM)


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