São Paulo, sexta-feira, 09 de julho de 2004

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ÁSIA

Novo governo, de centro-esquerda, aumenta ajuda aos pobres e eleva impostos dos ricos; Orçamento prevê crescimento de até 8%

Índia gastará bilhões em programas sociais

DA REDAÇÃO

O novo governo indiano, de centro-esquerda, prevê gastar bilhões de dólares em programas sociais destinados aos pobres, de acordo com seu primeiro Orçamento anual divulgado ontem.
O Orçamento, com gastos adicionais de cerca de US$ 2,2 bilhões, prevê um déficit de 4,4% do PIB (um pouco abaixo dos 4,6% atuais) e aumento de impostos para os mais ricos.
Ao assumir em 22 de maio, o premiê Manmohan Singh, do Partido do Congresso, prometeu dar seguimento às reformas econômicas que vêm sendo implementadas no país desde o início dos anos 90, mas prometeu um governo com "rosto humano".
Ontem, o ministro das Finanças, Palaniappan Chidambaram, anunciou uma série de programas nas áreas de educação, saúde, reformas rurais, habitação e água.
"Essas pessoas [beneficiadas pelos programas] são reais. Têm carne e osso. Precisamos dar a elas alguma esperança", disse Chidambaram.
O aumento nos gastos visa colocar em prática a promessa do Partido do Congresso, vitorioso nas eleições de maio, de um "new deal" para a Índia rural. "Se a agricultura cresce, tudo cresce", disse Chidambaram.
"New deal" foi o nome dado ao plano de recuperação da economia americana após o crash da Bolsa de Nova York em 1929, com fortes gastos públicos.
O Partido do Congresso (o mais tradicional partido da Índia pós-independência) derrotou o nacionalista Bharatiya Janata (BJP) nas urnas em maio. O resultado surpreendeu, pois acreditava-se numa nova vitória do BJP, que havia feito um governo de orientação liberal e tinha a seu favor as altas taxas de crescimento da Índia.
Avalia-se que o desenvolvimento não chegou aos habitantes pobres das áreas rurais, que castigaram o governo nas urnas.
Com a vitória da oposição, o mercado financeiro indiano teve uma forte queda, devido ao temor de que o novo governo, dependente dos comunistas para obter maioria no Parlamento, poderia frear as reformas econômicas. O mercado caiu novamente ontem com o novo Orçamento.
Também houve um certo receio quanto à provável indicação da então líder do Partido do Congresso, Sonia Gandhi, para o cargo de premiê. Sua origem italiana desagradava setores da população mais radicais.
Mas Sonia abriu mão do cargo e indicou Manmohan Singh, o primeiro sikh (minoria religiosa indiana) a governar a Índia. A indicação foi bem recebida.
Singh, 71, é formado em economia na Universidade de Oxford (Reino Unido) e foi ministro das Finanças durante cinco anos no início dos anos 90.
Quando Singh assumiu o cargo na época, o país estava à beira da falência, com um déficit orçamentário de 8,5%. Ele lançou reformas que transformaram a economia, modificando leis tributárias e facilitando a cooperação entre empresas indianas e estrangeiras. Como resultado, o país tem vivido um período de crescimento econômico acelerado. Segundo analistas, com as reformas iniciadas por Singh milhões de indianos -fala-se em até 200 milhões- saíram da pobreza.

Déficit
O Orçamento prevê uma pequena redução do déficit público (de 4,6% para 4,4%) e aposta num crescimento da economia da ordem de 7% a 8% ao ano para financiar os gastos adicionais de mais de US$ 2 bilhões.
Também houve um aumento de 10% nos impostos pagos pelos que ganham acima de US$ 19 mil (cerca de R$ 57 mil) por ano.
O ministro das Finanças tentou amenizar reações negativas do meio financeiro. "É meu objetivo criar um ambiente atraente aos investidores na Índia", disse ele.
"[O Orçamento] parece ter sido um ato muito bem pensado e balanceado", disse o analista político Mahesh Rangarajan. "Mas a questão é: de onde virá o dinheiro para essas medidas [sociais]?"
O Orçamento também prevê um crescimento de 17% nos gastos militares da Índia. As autoridades fizeram questão de salientar, no entanto, que o investimento na área bélica não prejudicará o nascente processo de paz entre a Índia e o Paquistão, vizinhos com capacidade nuclear que já entraram em guerra três vezes durante os últimos 50 anos.


Com agências internacionais

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