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São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2003

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CALIFÓRNIA

Presidente diz que o ator "seria o um bom governador", indicando o peso da candidatura para os republicanos

Bush declara apoio a Schwarzenegger

Nick Ut/Associated Press
 
Warner Bros/Reuters
 
Robyn Beck - 7.ago.2003/France Presse
Acima, o editor da revista pornográfica "Hustler", Larry Flint, o ator Arnold Schwarzenegger (em cena do filme "O Exterminador do Futuro 3") e a atriz pornô Mary Carey, candidatos ao governo da Califórnia


ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

O presidente dos EUA, George W. Bush, colocou-se ontem no meio da tumultuada eleição californiana ao dar uma importante declaração de apoio ao ator Arnold Schwarzenegger na corrida pelo comando do Estado.
"Eu acho que ele seria um bom governador", afirmou Bush em seu rancho no Texas, logo depois de brincar dizendo que "nunca disputaria uma queda-de-braço com Schwarzenegger". Os dois são do Partido Republicano.
A afirmação do presidente, que vai passar dois dias da próxima semana na Califórnia, é mais um sinal de que os republicanos tendem a apostar em peso na candidatura do ator -ele pode ser o postulante único do partido.
Schwarzenegger vai concorrer no "recall" do governador Gray Davis, em 7 de outubro. Numa votação inédita no pós-guerra americano, os eleitores vão decidir se Davis, que enfrenta séria crise de impopularidade, deve terminar seu mandato. Caso a maioria peça sua saída, ele será substituído por quem tiver mais votos na segunda pergunta.
A votação deverá ter reflexos na disputa presidencial de 2004, quando Bush tentará novo mandato. Nas três últimas eleições, os candidatos republicanos à Casa Branca foram derrotados na Califórnia, maior colégio eleitoral dos EUA. Assim, parte do partido vê na conquista do governo estadual a chance de mudar essa história -outra ala diz que a situação é tão ruim que não vale a pena.
Hoje acaba o prazo para a inscrição de candidaturas. A reta final tem sido marcada pelo racha do Partido Democrata, que inicialmente pretendia concentrar seus esforços para salvar o atual governador. Mas o partido terá outro nome de peso na cédula, o do vice-governador, Cruz Bustamante, que quebrou a orientação.
Os democratas poderão ter ainda outros representantes, como Larry Flynt, editor da revista de pornografia "Hustler". Além disso, o partido deverá ser, como tradicionalmente, o que mais perderá votos para os independentes.
Assim, no meio de plataformas que viraram motivo de piada -como a de uma atriz pornô que quer taxar os implantes de silicone-, a candidatura de Schwarzenegger emerge como uma opção seriamente considerada.
Numa campanha curta, o ator carrega a enorme de vantagem de já ser bastante conhecido dos eleitores. Jornais americanos discutiram a sua candidatura e cobraram propostas -que ele passou a divulgar ontem, ao aparecer na TV para falar sobre educação.
"A vontade do sr. Schwarzenegger de tomar conta da crise é admirável, e ele tem mais que uma filmografia a oferecer. Tendo chegado da Áustria em 1968 com pouco dinheiro, ele é um empreendedor de sucesso. Talvez seja o homem certo para resgatar a Califórnia", opinou o jornal "The Wall Street Journal".
Já o diário "The New York Times" implicou com o fato de o ator bater no bordão "Hasta la vista, baby" para falar do atual governador e disse que espera melhor leque de candidatos. Mas fez uma concessão dizendo que Schwarzenegger "pode se mostrar um candidato mais sensato do que pareceu inicialmente".
Já o "Los Angeles Times" comparou a eleição a "circo", "carnaval" e "história em quadrinhos".
Seja lá quem for o governador após o "recall", é certo que terá muito trabalho pela frente.
O mais respeitado historiador da Califórnia, Kevin Starr, define a crise como a mais grave que o Estado já conheceu. Ele aponta que o desafio será reescrever a estrutura do mais poderoso governo da Federação americana, que quebrou com a desaceleração da economia do país. "Diz respeito a qual é a natureza da entidade pública com a qual todos concordamos. É uma grande questão", diz.
A reinvenção do governo terá de ser feita sem esperar melhora na economia: no mês passado, a Califórnia sozinha foi responsável por metade dos empregos que desapareceram em todos os EUA.
O esgotamento do que antes era visto como o eldorado americano faz o Estado conhecer uma situação inédita na história dos censos americanos: êxodo populacional.
Números recém-divulgados mostram que, na segunda metade da última década, 2,2 milhões de pessoas saíram da Califórnia, superando o 1,4 milhão que entrou -movimento inverso ao detectado por todos os censos americanos feitos desde os anos 40.


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