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São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2003

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Crise no governo começou com a bolha da internet

DE NOVA YORK

Estudiosos apontam que a crise política que ameaça derrubar o governador da Califórnia tem origem econômica e começou com a explosão da bolha do mercado de internet, em 2000. A debacle acionária arrasou a arrecadação do mais rico Estado dos EUA, uma economia que rivaliza com a francesa pelo posto de quinta maior do mundo.
A bola-de-neve cresceu graças à legislação californiana, que limita o leque de opções para arrecadar, mas mantém o cofre público aberto para gastar. O resultado foi um rombo de US$ 38 bilhões no atual orçamento -o maior buraco da história de um Estado americano, coberto com empréstimos aprovados na última hora.
"Esse orçamento é o principal motivo pelo qual tantos californianos estão irritados com o governador", diz Junfu Zhang, do Instituto de Políticas Públicas da Califórnia. "Mais do que outros Estados, a Califórnia confia em impostos sobre a renda, que sobem e caem com os ciclos econômicos."
A queda do preço de ações de tecnologia em Nova York atingiu primeiro o Vale do Silício, uma região californiana que é o principal centro mundial da chamada nova economia.
"Fomos o Estado mais afetado", afirma Henry Brady, professor de políticas públicas da Universidade de Berkeley.
Ao tombo no setor mais dinâmico de sua economia, somou-se, no mesmo ano, uma crise energética, fruto de uma desregulamentação malfeita.
O pior, porém, ocorreu nas contas públicas. O sistema de arrecadação foi montado num esquema altamente progressivo (taxando mais os mais ricos) e visando parte dos ganhos de capital. "Quando a economia vai para baixo, a arrecadação vai lá para baixo. Quando a economia sobe, vai lá para cima. Isso não é bom", diz Brady.
Quem dá os números é o historiador Kevin Starr: "Durante a ascensão da internet, aumentamos o orçamento de US$ 67 bilhões em 1998 para US$ 97 bilhões em 2002. Quando essa renda sumiu, tínhamos todos os programas em andamento".
Ele acha que o Estado terá de se adaptar à realidade. "Todas as crises acontecem em ciclos. É uma questão de sustentabilidade nas épocas ruins."
Ao problema fiscal se soma o fato de a legislação californiana limitar muito as mudanças no orçamento, já que é preciso haver aprovação de dois terços do Legislativo -o que dá relevo à minoria republicana.
"Temos um impasse como resultado dos nossos requisitos de maioria ampla e das recusas dos republicanos em aumentar impostos e dos democratas em cortar despesas", afirma John Ellwood, do Instituto de Políticas Públicas da Califórnia.
Como o drama das contas públicas não é exclusividade da Califórnia, outros Estados já têm motivos para se inquietar. "O futuro em geral chega primeiro à Califórnia. Agora o "Golden State" está degenerando numa república de bananas. O país pode ir atrás?", escreveu o economista Paul Krugman no "New York Times".


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