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Crise no governo
começou com a
bolha da internet
DE NOVA YORK
Estudiosos apontam que a
crise política que ameaça derrubar o governador da Califórnia tem origem econômica e
começou com a explosão da
bolha do mercado de internet,
em 2000. A debacle acionária
arrasou a arrecadação do mais
rico Estado dos EUA, uma economia que rivaliza com a francesa pelo posto de quinta
maior do mundo.
A bola-de-neve cresceu graças à legislação californiana,
que limita o leque de opções
para arrecadar, mas mantém o
cofre público aberto para gastar. O resultado foi um rombo
de US$ 38 bilhões no atual orçamento -o maior buraco da
história de um Estado americano, coberto com empréstimos
aprovados na última hora.
"Esse orçamento é o principal motivo pelo qual tantos californianos estão irritados com
o governador", diz Junfu
Zhang, do Instituto de Políticas
Públicas da Califórnia. "Mais
do que outros Estados, a Califórnia confia em impostos sobre a renda, que sobem e caem
com os ciclos econômicos."
A queda do preço de ações de
tecnologia em Nova York atingiu primeiro o Vale do Silício,
uma região californiana que é o
principal centro mundial da
chamada nova economia.
"Fomos o Estado mais afetado", afirma Henry Brady, professor de políticas públicas da
Universidade de Berkeley.
Ao tombo no setor mais dinâmico de sua economia, somou-se, no mesmo ano, uma
crise energética, fruto de uma
desregulamentação malfeita.
O pior, porém, ocorreu nas
contas públicas. O sistema de
arrecadação foi montado num
esquema altamente progressivo (taxando mais os mais ricos)
e visando parte dos ganhos de
capital. "Quando a economia
vai para baixo, a arrecadação
vai lá para baixo. Quando a
economia sobe, vai lá para cima. Isso não é bom", diz Brady.
Quem dá os números é o historiador Kevin Starr: "Durante
a ascensão da internet, aumentamos o orçamento de US$ 67
bilhões em 1998 para US$ 97 bilhões em 2002. Quando essa
renda sumiu, tínhamos todos
os programas em andamento".
Ele acha que o Estado terá de
se adaptar à realidade. "Todas
as crises acontecem em ciclos.
É uma questão de sustentabilidade nas épocas ruins."
Ao problema fiscal se soma o
fato de a legislação californiana
limitar muito as mudanças no
orçamento, já que é preciso haver aprovação de dois terços do
Legislativo -o que dá relevo à
minoria republicana.
"Temos um impasse como
resultado dos nossos requisitos
de maioria ampla e das recusas
dos republicanos em aumentar
impostos e dos democratas em
cortar despesas", afirma John
Ellwood, do Instituto de Políticas Públicas da Califórnia.
Como o drama das contas
públicas não é exclusividade da
Califórnia, outros Estados já
têm motivos para se inquietar.
"O futuro em geral chega primeiro à Califórnia. Agora o
"Golden State" está degenerando numa república de bananas.
O país pode ir atrás?", escreveu
o economista Paul Krugman
no "New York Times".
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