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Entrevista
Força libanesa deve conviver com Hizbollah
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BEIRUTE
A aprovação pelo Hizbollah do envio de 15 mil soldados do Exército libanês à
fronteira com Israel não significa que o grupo xiita concorda em se desarmar, mas é
um primeiro e importante
passo para a suspensão dos
combates.
A avaliação é de Timur
Goksel, ex-porta-voz e conselheiro da Força Interina da
ONU no Líbano e professor
da Universidade Americana
de Beirute. Criada em 1978
para "confirmar a retirada de
Israel" e "ajudar o governo
do Líbano a restaurar sua autoridade" na região, a Unifil
(na sigla em inglês), que conta pouco menos de 2.000 soldados, terá mais uma chance
de cumprir sua missão.
A Unifil é o único contingente estrangeiro que o Hizbollah aceitará para baixar as
armas no sul, diz ele. Leia
trechos da entrevista concedida à Folha em Beirute.
FOLHA - Qual a importância da
decisão do gabinete libanês de
enviar tropas à fronteira, caso Israel deixe a região?
TIMUR GOKSEL - É uma decisão importante e um bom
primeiro passo para resolver
o problema. Todos estão falando que o Exército libanês
não tem armas. Mas ele não
estará indo para uma guerra
e sim para controlar parte de
seu país. É um Exército respeitado pelo povo libanês,
por isso acho que é um passo
importante e inteligente.
FOLHA - O sr. acha que, reforçada pelo Exército libanês, a Unifil
manteria a paz na fronteira?
GOKSEL - A Unifil é a única
força estrangeira que o Hizbollah aceitaria. O povo do
sul do Líbano conhece e gosta das tropas. Como não há
outra força que seria aceita,
ela é a melhor, talvez a única
opção para pôr fim à guerra.
Não é uma relação perfeita,
mas é melhor que qualquer
força que chegar aqui.
FOLHA - Mas o Exército libanês
será capaz de impedir ataques do
Hizbollah contra Israel?
GOKSEL - Sua missão não é
essa e ele não poderia lutar
contra o Hizbollah. Sua missão é manter a região segura
e pacífica, e isso os soldados
têm capacidade de fazer por
meio do diálogo com o Hizbollah, com quem o Exército
libanês tem ótimas relações.
FOLHA - Ao concordar em ser
substituído pelo Exército, o Hizbollah aceitaria se desarmar?
GOKSEL - Não, esse não é o
ponto. O governo libanês
tem dito que não pode simplesmente desarmar o Hizbollah, esse é um longo processo interno, que não pode
ser feito do dia para a noite.
Não há ninguém que tire as
armas do Hizbollah à força.
Se o Exército libanês tentasse fazer isso seria o começo
de uma nova guerra civil.
FOLHA - Há uma mudança política importante no sinal verde dado pelo Hizbollah ao Exército?
GOKSEL - Sem dúvida. Se o
Hizbollah aceita o envio de
tropas libanesas, quer dizer
que respeita o Exército e que
vai manter sua palavra. As
pessoas fora do Líbano não
entendem. Se aceitou a presença do Exército na fronteira, é porque o Hizbollah não
pretende causar problemas.
Há um respeito mútuo.
FOLHA - A chegada do Exército
libanês levará à retirada militar
do Hizbollah do sul do país, como
Israel exige?
GOKSEL - Essa é uma noção
errada. O Hizbollah não é um
Exército para se retirar. O
Hizbollah trabalha com a população, portanto não pode
se retirar. Eles vivem nessas
aldeias [do sul]. O Hizbollah
não tem um batalhão, uma
brigada, não é um Exército
regular. [Os combatentes]
vão se retirar e voltar para
suas aldeias, é lá que eles vivem. A importância da decisão é que, se o Hizbollah
aceita o envio de soldados, isso significa uma indicação de
que poderia parar de lutar.
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