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Guerra reforçou facção pró-Síria no Exército
GUSTAVO CHACRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NOVA YORK
Uma espécie de acordo não
oficial divide os poderes na área
militar do Líbano. As Forças
Armadas são responsáveis pela
segurança doméstica, enquanto o Hizbollah cuida da defesa
libanesa em caso de ataques de
Israel, como vem acontecendo
agora. Dessa forma, o Exército
não mobiliza suas forças para o
sul do Líbano, conforme exigiram resoluções da ONU após a
retirada israelense em 2000.
Com o anúncio do premiê
Fouad Siniora de que 15 mil soldados serão enviados para o
sul, o cenário se altera, com o
Exército assumindo o controle
da região, o que fez surgir novamente a questão sobre a capacidade de as Forças Armadas libanesas controlarem o Hizbollah e se há intenção de levar
adiante essa missão.
Muitos analistas defendem a
tese de que o Exército é inferior
militarmente ao Hizbollah. Estudo do centro de estudos militares Jane, nos EUA, diz que as
"Forças Armadas são deficientes, com tanques obsoletos",
sendo "incapazes de agir contra
o bem organizado Hizbollah".
Outros, como o professor
Oren Barak, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém e um dos principais estudiosos das forças militares do
Líbano, discordam. "As Forças
Armadas têm os meios para
confrontar o Hizbollah. Também conhecem o território, seu
contingente é muito maior e a
maior parte das armas da organização xiita, como os Katyushas, é inútil num combate contra o Exército doméstico", diz.
O problema das Forças Armadas para controlar o Hizbollah é outro, afirma Barak. "O
Exército só poderia agir contra
o grupo se houvesse um consenso nacional de que o grupo
age contra os interesses do país.
Ele poderia ter sido alcançado
antes, mas é muito difícil agora,
após tantas mortes e destruição." Hoje agir contra o Hizbollah significaria para a população que o Exército "está colaborando com o Estado judeu".
A aliança entre o Exército e o
Hizbollah se intensificou após
a eleição de Émile Lahoud
-um cristão maronita, como
exige a Constituição- para
presidente, em 1998, e a indicação do também cristão Michel
Suleiman para o Comando do
Exército, segundo o professor.
Lahoud, que se mantém no
poder graças ao apoio dos xiitas, preside o Conselho Supremo de Defesa, com membros
das seis principais religiões do
Líbano, enquanto Suleiman é
subordinado ao Conselho de
Ministros, comandado pelo
premiê Fouad Siniora. Um órgão não está acima do outro.
Até a guerra, havia uma divisão que punha Lahoud, Suleiman e o Hizbollah, aliados da
Síria, de um lado, e Siniora do
outro. Segundo Barak, com a
crise, a influência da então decadente ala pró-Síria voltou a
crescer no Exército, que é dividido de acordo com a composição étnica do país. Para o especialista, essa espécie de aliança
militar entre Lahoud, Suleiman e o Hizbollah é muito mais
significativa para o poder do
grupo no Exército que o crescente número de xiitas nele.
Para o professor, o Exército
só funciona caso três fatores
atuem conjuntamente: quando
seu comando inclui membros
de todos os setores da sociedade; quando a composição dos
oficiais é balanceada; e quando
há consenso em uma missão.
Os dois primeiros fatores existem, diz. Será necessário o terceiro para o sucesso no sul, o
que incluiria o apoio do Hizbollah -daí a dificuldade.
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