São Paulo, quarta-feira, 09 de agosto de 2006

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López Obrador radicaliza os protestos no México

Manifestantes tomam cabines de pedágio e liberam motoristas de cobrança

Candidato de esquerda exige recontagem dos votos da eleição presidencial; a principal avenida da capital continua bloqueada


RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

Cabines de pedágio das três principais saídas da Cidade do México foram tomadas ontem por simpatizantes do candidato esquerdista à presidência do país, Andrés Manuel López Obrador, que liberaram os motoristas da cobrança.
Ao mesmo tempo, prédios públicos na capital, como o Ministério da Agricultura, tiveram seus acessos bloqueados por manifestantes. Ambas são ações do movimento de "resistência civil" convocado por López Obrador, que exige a recontagem dos votos da eleição presidencial de 2 de julho.
Pelo resultado oficial, ele perdeu por apenas 244.000 votos, 0,58% do total, para o conservador Felipe Calderón, do mesmo partido do presidente Vicente Fox.
Os protestos da esquerda vêm se radicalizando. Desde o passado 30 de julho, López Obrador dorme em uma barraca instalada no Zócalo, a maior praça da capital. Ele lidera um grupo de 20.000 militantes que estão acampados, bloqueando treze quilômetros da principal avenida da cidade, o Paseo de la Reforma.
Algumas das principais ruas e avenidas do Centro Histórico, a principal área turística da cidade, também estão cortadas ao trânsito pela manifestação. O comando da campanha anunciou que mais estradas e prédios públicos serão bloqueados. A prefeitura da capital, governada pela esquerda, nada faz para desfazer os bloqueios.

Recontagem parcial
No fim de semana, o Tribunal Federal Eleitoral (Trife) rejeitou o pedido de recontagem total dos votos, feito pelo Partido da Revolução Democrática (PRD), de López Obrador. Mas determinou a recontagem de quase 12 mil urnas onde o PRD apontou irregularidades. O país aguarda com expectativa o resultado dessa recontagem parcial, previsto para segunda-feira (veja texto ao lado).
Desde que perdeu a eleição por diferença mínima, o popular ex-prefeito da Cidade do México denunciou fraude e entrou na Justiça com pedido de impugnação e recontagem dos votos. Ele foi favorito por dois anos à Presidência, até maio passado, quando Calderón, ex-ministro da Energia de Fox, o alcançou na reta final.
Apesar de não ter mostrado provas convincentes de fraude - observadores internacionais não constataram irregularidades -, López Obrador não aceita a derrota. Ele diz que só aceita a decisão do Tribunal se for confirmada a sua vitória.
"Os setores mais radicais da esquerda estão pautando a campanha de resistência de López Obrador e não vão aceitar a derrota. Mas setores mais moderados que votaram nele começam a criticar sua postura intransigente", diz Rossana Fuentes-Beráin, editora da revista "Foreign Affairs" em espanhol.
O escritor Carlos Monsiváis, um dos maiores intelectuais mexicanos, e que fez campanha para López Obrador, chamou o bloqueio do Paseo de la Reforma de "uma insensatez altamente lesiva para milhares de pessoas". Em editorial, o jornal espanhol de centro-esquerda "El País", de Madri, afirma que López Obrador parece empenhado "na desestabilização do país" e que o bloqueio da capital é uma "coação à cidadania mexicana".

País dividido
Uma pesquisa publicada na semana passada pelo jornal El Universal mostra a divisão dos mexicanos: 53% acham que a vitória de Calderón é legítima. Mas 35% concordam com Obrador e acham que houve fraude; 48% querem uma recontagem total dos votos.
Para vários analistas ouvidos pela Folha, houve mais irregularidades na campanha do que na apuração. "O presidente, o empresariado e os grandes canais de televisão fizeram campanha para o Calderón. Mas como López Obrador achava que venceria fácil, não reclamou na hora. Suas críticas chegaram tarde", afirma o analista político e colunista do jornal "El Universal", Jorge Zepeda Patterson.
"Mesmo que seja confirmado presidente, Calderón vai enfrentar protestos nas ruas diariamente. Não será fácil começar um governo assim."


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