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López Obrador radicaliza os protestos no México
Manifestantes tomam cabines de pedágio e liberam motoristas de cobrança
Candidato de esquerda
exige recontagem dos votos
da eleição presidencial; a
principal avenida da capital
continua bloqueada
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
Cabines de pedágio das três
principais saídas da Cidade do
México foram tomadas ontem
por simpatizantes do candidato
esquerdista à presidência do
país, Andrés Manuel López
Obrador, que liberaram os motoristas da cobrança.
Ao mesmo tempo, prédios
públicos na capital, como o Ministério da Agricultura, tiveram seus acessos bloqueados
por manifestantes. Ambas são
ações do movimento de "resistência civil" convocado por López Obrador, que exige a recontagem dos votos da eleição presidencial de 2 de julho.
Pelo resultado oficial, ele
perdeu por apenas 244.000 votos, 0,58% do total, para o conservador Felipe Calderón, do
mesmo partido do presidente
Vicente Fox.
Os protestos da esquerda
vêm se radicalizando. Desde o
passado 30 de julho, López
Obrador dorme em uma barraca instalada no Zócalo, a maior
praça da capital. Ele lidera um
grupo de 20.000 militantes que
estão acampados, bloqueando
treze quilômetros da principal
avenida da cidade, o Paseo de la
Reforma.
Algumas das principais ruas
e avenidas do Centro Histórico,
a principal área turística da cidade, também estão cortadas
ao trânsito pela manifestação.
O comando da campanha
anunciou que mais estradas e
prédios públicos serão bloqueados. A prefeitura da capital, governada pela esquerda,
nada faz para desfazer os bloqueios.
Recontagem parcial
No fim de semana, o Tribunal
Federal Eleitoral (Trife) rejeitou o pedido de recontagem total dos votos, feito pelo Partido
da Revolução Democrática
(PRD), de López Obrador. Mas
determinou a recontagem de
quase 12 mil urnas onde o PRD
apontou irregularidades. O país
aguarda com expectativa o resultado dessa recontagem parcial, previsto para segunda-feira (veja texto ao lado).
Desde que perdeu a eleição
por diferença mínima, o popular ex-prefeito da Cidade do
México denunciou fraude e entrou na Justiça com pedido de
impugnação e recontagem dos
votos. Ele foi favorito por dois
anos à Presidência, até maio
passado, quando Calderón, ex-ministro da Energia de Fox, o
alcançou na reta final.
Apesar de não ter mostrado
provas convincentes de fraude
- observadores internacionais
não constataram irregularidades -, López Obrador não aceita a derrota. Ele diz que só aceita a decisão do Tribunal se for
confirmada a sua vitória.
"Os setores mais radicais da
esquerda estão pautando a
campanha de resistência de López Obrador e não vão aceitar a
derrota. Mas setores mais moderados que votaram nele começam a criticar sua postura
intransigente", diz Rossana
Fuentes-Beráin, editora da revista "Foreign Affairs" em espanhol.
O escritor Carlos Monsiváis,
um dos maiores intelectuais
mexicanos, e que fez campanha
para López Obrador, chamou o
bloqueio do Paseo de la Reforma de "uma insensatez altamente lesiva para milhares de
pessoas". Em editorial, o jornal
espanhol de centro-esquerda
"El País", de Madri, afirma que
López Obrador parece empenhado "na desestabilização do
país" e que o bloqueio da capital
é uma "coação à cidadania mexicana".
País dividido
Uma pesquisa publicada na
semana passada pelo jornal El
Universal mostra a divisão dos
mexicanos: 53% acham que a
vitória de Calderón é legítima.
Mas 35% concordam com
Obrador e acham que houve
fraude; 48% querem uma recontagem total dos votos.
Para vários analistas ouvidos
pela Folha, houve mais irregularidades na campanha do que
na apuração. "O presidente, o
empresariado e os grandes canais de televisão fizeram campanha para o Calderón. Mas
como López Obrador achava
que venceria fácil, não reclamou na hora. Suas críticas chegaram tarde", afirma o analista
político e colunista do jornal
"El Universal", Jorge Zepeda
Patterson.
"Mesmo que seja confirmado presidente, Calderón vai enfrentar protestos nas ruas diariamente. Não será fácil começar um governo assim."
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