São Paulo, quarta-feira, 09 de agosto de 2006

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Exército cubano controla 322 empresas

Companhias, que formam o núcleo da economia, respondem por 20% dos assalariados e 89% das exportações da ilha

Organizadas por Raúl Castro a partir da guerrilha e reformadas em 1994, Forças Armadas terão papel fundamental na transição


JEAN-MICHEL CAROIT
DO " MONDE", EM SANTO DOMINGO

As Forças Armadas Revolucionárias (FAR) de Cuba estão ao cerne de todos os cenários visualizados desde a cirurgia sofrida há nove dias pelo ditador Fidel Castro, 79, e da transmissão de seus poderes a seu irmão Raúl Castro, 75.
Em caso de invasão pelos EUA, hipótese qualificada de "rocambolesca" pela secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, Cuba adotaria a estratégia da "guerra de todo o povo", avisa o site das FAR na internet. Além dos 50 mil militares, os invasores enfrentariam reservistas ou integrantes de milícias territoriais.
As FAR foram constituídas por Raúl Castro a partir do grupo guerrilheiro que derrotou a ditadura de Fulgêncio Batista, em 1959. As campanhas africanas de Angola e da Etiópia, entre 1970 e 1980, contribuíram para fortalecer a aura das FAR, abaladas em 1989 pela execução de três oficiais, entre eles o general Arnaldo Ochoa, herói da guerra em Angola. Motivadas oficialmente pelo combate ao narcotráfico drogas, essas condenações foram seguidas por um expurgo entre as forças subordinadas ao Ministério do Interior.
O colapso do bloco soviético mergulhou Cuba numa crise brutal. "Mais valem feijões do que canhões" declarou Raúl Castro ao jornal mexicano "El Sol" em 1993. Os efetivos das FAR foram reduzidos, passando de 250 mil homens para menos de 60 mil.
O Exército precisou suprir suas próprias necessidades, como estipula a Lei de Defesa Nacional de 1994. Desde então, sua participação não parou de crescer em todos os setores da economia, das fazendas exportadoras de cítricos ao turismo.
Hoje as FAR controlam 322 empresas cubanas, que empregam 20% dos assalariados da ilha e são responsáveis por 89% das exportações. Instalado na sede do Ministério das Forças Armadas, o Gaesa (Grupo de Administración Empresarial S.A.) agrupa as empresas controladas pelos militares -tais como Gaviota (turismo e transportes), Cubanacan (turismo), Almacenes Universal (zonas francas) ou Sasa (autopeças).
Outras empresas importantes, tais como a Habanos (charutos) e a Cimex, holding cujo faturamento passa dos 800 milhões de euros, também se situam na esfera militar.
Esses empreendimentos são administrados por uma nova geração de oficiais, formados em escolas de administração européias. Um deles, Luis Alberto Rodríguez, é genro de Raúl Castro. "As FAR também são a instituição em que negros e mulatos são melhor representados", diz Domingo Amuchastegui, ex-oficial do serviço de informação cubano que desde 1994 vive na Flórida.
O ex-general da Força Aérea Rafael del Pino, um dos raros oficiais de alta patente a ter deixado o país, afirma que Raúl Castro se negou a enviar o Exército para reprimir uma manifestação hostil ao regime em 1994, apesar de Fidel lhe ter pedido que o fizesse.


Tradução de Clara Allain

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