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Exército cubano controla 322 empresas
Companhias, que formam o núcleo da economia, respondem por 20% dos assalariados e 89% das exportações da ilha
Organizadas por Raúl Castro a partir da guerrilha e reformadas em 1994, Forças Armadas terão papel fundamental na transição
JEAN-MICHEL CAROIT
DO " MONDE", EM SANTO DOMINGO
As Forças Armadas Revolucionárias (FAR) de Cuba estão
ao cerne de todos os cenários
visualizados desde a cirurgia
sofrida há nove dias pelo ditador Fidel Castro, 79, e da transmissão de seus poderes a seu irmão Raúl Castro, 75.
Em caso de invasão pelos
EUA, hipótese qualificada de
"rocambolesca" pela secretária
de Estado americana, Condoleezza Rice, Cuba adotaria a estratégia da "guerra de todo o
povo", avisa o site das FAR na
internet. Além dos 50 mil militares, os invasores enfrentariam reservistas ou integrantes
de milícias territoriais.
As FAR foram constituídas
por Raúl Castro a partir do grupo guerrilheiro que derrotou a
ditadura de Fulgêncio Batista,
em 1959. As campanhas africanas de Angola e da Etiópia, entre 1970 e 1980, contribuíram
para fortalecer a aura das FAR,
abaladas em 1989 pela execução de três oficiais, entre eles o
general Arnaldo Ochoa, herói
da guerra em Angola. Motivadas oficialmente pelo combate
ao narcotráfico drogas, essas
condenações foram seguidas
por um expurgo entre as forças
subordinadas ao Ministério do
Interior.
O colapso do bloco soviético
mergulhou Cuba numa crise
brutal. "Mais valem feijões do
que canhões" declarou Raúl
Castro ao jornal mexicano "El
Sol" em 1993. Os efetivos das
FAR foram reduzidos, passando de 250 mil homens para menos de 60 mil.
O Exército precisou suprir
suas próprias necessidades, como estipula a Lei de Defesa Nacional de 1994. Desde então,
sua participação não parou de
crescer em todos os setores da
economia, das fazendas exportadoras de cítricos ao turismo.
Hoje as FAR controlam 322
empresas cubanas, que empregam 20% dos assalariados da
ilha e são responsáveis por 89%
das exportações. Instalado na
sede do Ministério das Forças
Armadas, o Gaesa (Grupo de
Administración Empresarial
S.A.) agrupa as empresas controladas pelos militares -tais
como Gaviota (turismo e transportes), Cubanacan (turismo),
Almacenes Universal (zonas
francas) ou Sasa (autopeças).
Outras empresas importantes, tais como a Habanos (charutos) e a Cimex, holding cujo
faturamento passa dos 800 milhões de euros, também se situam na esfera militar.
Esses empreendimentos são
administrados por uma nova
geração de oficiais, formados
em escolas de administração
européias. Um deles, Luis Alberto Rodríguez, é genro de
Raúl Castro. "As FAR também
são a instituição em que negros
e mulatos são melhor representados", diz Domingo Amuchastegui, ex-oficial do serviço de
informação cubano que desde
1994 vive na Flórida.
O ex-general da Força Aérea
Rafael del Pino, um dos raros
oficiais de alta patente a ter deixado o país, afirma que Raúl
Castro se negou a enviar o
Exército para reprimir uma
manifestação hostil ao regime
em 1994, apesar de Fidel lhe ter
pedido que o fizesse.
Tradução de Clara Allain
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