São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2008

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Morales faz de Lula seu "cabo eleitoral"

Discurso de brasileiro é usado no rádio como resposta à campanha da oposição, que pinta o boliviano como fantoche de Chávez

Lula tem imagem positiva até em regiões hostis a Morales, que amanhã põe seu mandato em jogo em um referendo revogatório

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ

Na campanha do referendo revogatório no qual está em jogo amanhã o mandato do presidente boliviano, Evo Morales, seu aliado estratégico venezuelano, Hugo Chávez, é a adaga. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o escudo.
"Chávez manda, Evo cumpre" é um dos principais bordões da oposição, um trocadilho com o slogan do presidente sobre o cumprimento de suas promessas de campanha de 2005. A palavra de ordem está no rádio, na TV e na boca de quem vota contra Morales -que, no entanto, segundo pesquisas recentes e analistas, deve ser ratificado.
A campanha da oposição, apoiada em frases de Chávez, diz que Morales quer transformar a Bolívia numa nova Venezuela ou Cuba. Afirma que os cheques venezuelanos que o presidente distribui às prefeituras são "esmolas" que fazem o país dependente do "instável" governo de Caracas.
Mas a influente rede de rádio pública Pátria Nova contra-ataca, dizendo que os apoios internacionais de Morales vão além de Chávez. Usa trechos de discurso de Lula -que é aclamado, com reservas, até na oposicionista Santa Cruz, no leste e sob forte influência brasileira.
"Gostaria de dizer ao companheiro Evo Morales, transmitir meu sentimento mais profundo, a minha mais profunda alegria, quando vi o povo boliviano eleger um índio para presidente", diz Lula num spot da rádio. Não se menciona o nome do brasileiro e há tradução.
O trecho foi retirado do discurso de Lula na visita a Riberalta, na região amazônica de Beni, em 18 de julho. Foi um ato de apoio a Morales em uma região ferrenhamente opositora -o presidente foi impedido de chegar a cinco dessas regiões nesta semana.
Ao lado de Lula, estava Chávez. A presença do presidente brasileiro, e o anúncio da cooperação para a construção de uma estrada altiplano-Amazônia, funcionaram como escudo para que não ocorresse o mesmo que em Tarija, na última terça-feira, quando protestos impediram o encontro do venezuelano e da argentina Cristina Kirchner com Morales.
Na época da visita de Lula, um Comitê Cívico de Beni chegou a ameaçar Chávez num comunicado distribuído até à Embaixada do Brasil em La Paz, que se reuniu com os líderes para acalmar os ânimos.
"Expressamos nosso repúdio à descarada intenção de Chávez de querer somar-se à visita do presidente do Brasil", diz o texto, de 16 de julho. "Estaremos atentos para tomar ações, se persistir sua ingrata visita."
Apesar da ameaça, o encontro entre os presidentes ocorreu sem problemas.


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