São Paulo, terça, 9 de setembro de 1997.



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ORIENTE MÉDIO
Guerrilha saberia de plano israelense e armou emboscada que resultou na morte de 12 soldados no Líbano
Espião pode ter causado fracasso, diz analista

Reuter
David Yashar senta-se com sua neta cercado por soldados israelenses em Ben Yehuda, Jerusalém, onde ocorreu atentado na semana passada


OTÁVIO DIAS
da Reportagem Local

Um agente duplo pode ter sido o responsável pela emboscada contra um comando de elite do Exército de Israel no sul do Líbano, levada a cabo por integrantes do grupo radical islâmico Hizbollah na madrugada da última sexta-feira (horário local) e que causou a morte de 12 soldados israelenses. Foi a pior derrota militar de Israel em solo libanês desde 1985.
É o que pensa o jornalista Zeev Schiff, 60, editor do jornal israelense "Haaretz" e principal analista militar do país. De acordo com Schiff, um dos árabes que trabalham como espiões para Israel deve ter "vazado informações" para o Hizbollah ou não passado informações a Israel. Ele não admite a possibilidade de o suposto espião ser israelense.
"É possível que haja um agente duplo árabe, que trabalhe para o Exército de Israel e que tenha vazado informações para os adversários", disse Schiff, em entrevista à Folha por telefone de Tel Aviv, em Israel.
"Além disso, um agente duplo, quando quer prejudicar um dos lados, revela a este lado 99% de informações corretas. Apenas 1% pode ser deliberadamente incorreto ou simplesmente omitido. Por causa desse 1%, uma operação pode falhar completamente", afirmou o especialista.
O conflito entre o comando, composto por 16 soldados segundo a agência de notícias "France Presse", e integrantes do Hizbollah (Movimento de Resistência Islâmico, apoiado pelo Irã), começou por volta da 1h da madrugada de sexta-feira (19h em Brasília).
Os soldados israelenses desembarcaram de helicóptero perto da cidade de Ansariah, no Líbano, cerca de 20 km ao sul da cidade portuária de Sidon e cerca de 30 km ao norte da faixa de segurança ocupada por Israel.
A faixa, em território libanês e com cerca de 10 km de largura, fica na fronteira com Israel, e é ocupada pelos israelenses desde 1982 sob o argumento de que seria necessário proteger o norte do país de ataques do Hizbollah.
O comando israelense preparava-se para realizar uma operação militar no Líbano cujo objetivo é desconhecido quando, aparentemente, foi surpreendido pelo Hizbollah. Zeev Schiff não tem dúvidas: os israelenses foram vítimas de uma emboscada.
"Minha conclusão é de que a primeira explosão foi provocada pelo Hizbollah. Cheguei a ela porque imediatamente após a explosão, alguém abriu fogo contra a unidade de comando israelense", disse. "Foi tudo muito bem orquestrado. Além disso, a explosão aconteceu exatamente no meio do grupo israelense. Foi uma emboscada clássica", afirmou.
A explosão inicial deve ter sido causada por bombas colocadas no chão, mas que explodem a cerca de 1 metro de altura.
"Esse acontecimento sem precedentes precisa ser muito bem investigado. Aquela era uma unidade de elite muito bem sucedida durante anos", afirmou o jornalista. "Numa batalha, algo pode não dar certo. Pode-se não atingir o objetivo pretendido, pode-se perder pessoas. Mas, nesse caso, foi algo único porque, no caminho, antes de atingir seu objetivo, os soldados caíram numa emboscada. Isso nunca aconteceu antes."
"Como nós conseguimos, de quando em quando, obter vazamentos do lado árabe -dos palestinos, do Hizbollah, dos sírios e de outros exércitos árabes-, temos de considerar a possibilidade de eles conseguirem informações do nosso lado também."
Ontem, o grupo Hizbollah anunciou que só entregará os corpos dos soldados mortos em troca de um igual número de prisioneiros detidos em prisões israelenses.



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