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Albright quer abrir negociação final
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
Madeleine Albright, a secretária
norte-americana de Estado, desembarca hoje em Israel com uma
proposta que seria ousada em
qualquer circunstância: acelerar a
negociação para o formato final do
acordo entre Israel e os palestinos.
Depois dos atentados suicidas de
julho e da semana passada, em que
morreram 25 pessoas (incluindo
os cinco terroristas), a proposta
parece beirar o delírio.
Afinal, os acordos interinos de
paz, assinados em 1993, foram
concebidos como uma forma de
construir paulatinamente a confiança entre as partes para, a partir
dela, entrar na negociação sobre os
temas mais complexos e de difícil
entendimento (ver quadro).
Após os atentados e as retaliações israelenses aos palestinos, o
nível de confiança, no entanto,
caiu "abaixo de zero", na definição de Saeb Erekat, principal negociador palestino.
Parece impossível negociar as
questões mais complexas em meio
a tão tremenda desconfiança.
Mas Albright acha que, "se as
partes tiverem um sentido claro da
direção última das negociações,
será mais fácil para elas superar retrocessos e evitar desvios".
De todo modo, a secretária de
Estado traçou uma espécie de roteiro preliminar para que seja possível marcar o início das negociações finais.
Os dois passos
O primeiro passo caberá, na visão norte-americana, à ANP (Autoridade Nacional Palestina). Ela
será chamada a "prender a processar os envolvidos em planejar,
financiar, armar ou favorecer o
terrorismo". Também será convocada a "criar uma atmosfera moral na qual a advocacia da violência
e do terrorismo desapareça".
No fim-de-semana, a ANP mandou prender 35 supostos integrantes do Hamas (Movimento de Resistência Islâmico), que assumiu a
autoria dos dois mais recentes
atentados. Parece uma resposta
antecipada aos pedidos de Albright.
Mas é insuficiente. Ela também
exige que, no caso das prisões, não
haja "portas giratórias", o jargão
que vem sendo usado para designar o fato de que a ANP prende,
sob pressão, suspeitos de terrorismo, apenas para libertá-los quando a pressão diminui.
Para os israelenses, Albright dirá
que devem suspender ou mínimo
congelar a construção de colônias
judaicas nos territórios palestinos,
assim como o confisco de terras
pertencentes a cidadãos árabes.
Fará menção especificamente a
Har Homa, uma nova colônia em
Jerusalém oriental que fecha o círculo de colônias em torno da cidade, isolando a Cisjordânia palestina da cidade que é reivindicada como capital por ambas as partes.
Ninguém espera que a simples
visita de Madeleine Albright possa
servir para romper o impasse em
que caiu o processo de paz.
Ela própria admite que "reenergizar o processo de paz não se fará
da noite para o dia".
Sua missão é muito mais a de
tentar levar as partes de volta à mesa de negociações. Ainda assim, o
momento é delicado demais, não
apenas pelos atentados e suas sequelas, mas pela própria situação
interna em Israel.
Depois do fiasco no Líbano, na
sexta-feira, quando um comando
israelense foi dizimado por militantes dos grupos Hizbollah (Partido de Deus, financiado pelo Irã) e
Amal (milícia xiita libanesa,
pró-Síria), há um debate interno
azedo. Tão azedo que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu
se viu forçado a passar uma descompostura no ministro da Ciência, Michael Eitan, na frente de todo o gabinete, no domingo.
Eitan pregava a imediata retirada
de Israel do sul do Líbano, área que
ocupa desde que foi obrigado se
retirar do resto do país, em 1985.
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