São Paulo, terça, 9 de setembro de 1997.



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Albright quer abrir negociação final

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

Madeleine Albright, a secretária norte-americana de Estado, desembarca hoje em Israel com uma proposta que seria ousada em qualquer circunstância: acelerar a negociação para o formato final do acordo entre Israel e os palestinos.
Depois dos atentados suicidas de julho e da semana passada, em que morreram 25 pessoas (incluindo os cinco terroristas), a proposta parece beirar o delírio.
Afinal, os acordos interinos de paz, assinados em 1993, foram concebidos como uma forma de construir paulatinamente a confiança entre as partes para, a partir dela, entrar na negociação sobre os temas mais complexos e de difícil entendimento (ver quadro).
Após os atentados e as retaliações israelenses aos palestinos, o nível de confiança, no entanto, caiu "abaixo de zero", na definição de Saeb Erekat, principal negociador palestino.
Parece impossível negociar as questões mais complexas em meio a tão tremenda desconfiança.
Mas Albright acha que, "se as partes tiverem um sentido claro da direção última das negociações, será mais fácil para elas superar retrocessos e evitar desvios".
De todo modo, a secretária de Estado traçou uma espécie de roteiro preliminar para que seja possível marcar o início das negociações finais.

Os dois passos
O primeiro passo caberá, na visão norte-americana, à ANP (Autoridade Nacional Palestina). Ela será chamada a "prender a processar os envolvidos em planejar, financiar, armar ou favorecer o terrorismo". Também será convocada a "criar uma atmosfera moral na qual a advocacia da violência e do terrorismo desapareça".
No fim-de-semana, a ANP mandou prender 35 supostos integrantes do Hamas (Movimento de Resistência Islâmico), que assumiu a autoria dos dois mais recentes atentados. Parece uma resposta antecipada aos pedidos de Albright.
Mas é insuficiente. Ela também exige que, no caso das prisões, não haja "portas giratórias", o jargão que vem sendo usado para designar o fato de que a ANP prende, sob pressão, suspeitos de terrorismo, apenas para libertá-los quando a pressão diminui.
Para os israelenses, Albright dirá que devem suspender ou mínimo congelar a construção de colônias judaicas nos territórios palestinos, assim como o confisco de terras pertencentes a cidadãos árabes.
Fará menção especificamente a Har Homa, uma nova colônia em Jerusalém oriental que fecha o círculo de colônias em torno da cidade, isolando a Cisjordânia palestina da cidade que é reivindicada como capital por ambas as partes.
Ninguém espera que a simples visita de Madeleine Albright possa servir para romper o impasse em que caiu o processo de paz.
Ela própria admite que "reenergizar o processo de paz não se fará da noite para o dia".
Sua missão é muito mais a de tentar levar as partes de volta à mesa de negociações. Ainda assim, o momento é delicado demais, não apenas pelos atentados e suas sequelas, mas pela própria situação interna em Israel.
Depois do fiasco no Líbano, na sexta-feira, quando um comando israelense foi dizimado por militantes dos grupos Hizbollah (Partido de Deus, financiado pelo Irã) e Amal (milícia xiita libanesa, pró-Síria), há um debate interno azedo. Tão azedo que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu se viu forçado a passar uma descompostura no ministro da Ciência, Michael Eitan, na frente de todo o gabinete, no domingo.
Eitan pregava a imediata retirada de Israel do sul do Líbano, área que ocupa desde que foi obrigado se retirar do resto do país, em 1985.







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