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São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2003

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Palestinos estão pessimistas com mudança

DA REUTERS, EM GAZA E NA CISJORDÂNIA

O premiê palestino indicado, Ahmed Korei, não se sairá melhor do que seu antecessor, Mahmoud Abbas (mais conhecido como Abu Mazen), a não ser que Israel interrompa os ataques contra os grupos terroristas, disseram vários palestinos ontem na faixa de Gaza e na Cisjordânia.
"Se a agressão israelense continuar, Korei não vai conseguir impedir os militantes de retaliar, e a situação só irá piorar", disse o engenheiro de computadores Ahmed Ayyesh, de Gaza. "Korei só vai conseguir avançar se Israel lhe der o que não deu a Mazen: não apenas respeito, mas também um compromisso sério com a paz."
Israel continuou a perseguir e prender ou matar supostos terroristas palestinos depois que seus líderes declararam um cessar-fogo unilateral, em junho, dizendo que não tinha outra escolha porque Mazen não estava desmantelando os grupos armados, conforme prevê o novo plano de paz.
Líderes palestinos dizem que o cessar-fogo não teria terminado com novos atentados suicidas, no mês passado, se Israel tivesse tido uma atitude recíproca.
"Mazen falhou porque Israel levou adiante a agressão e ignorou totalmente suas necessidades políticas. Não foi em função de suas divergências com Arafat", disse Samir, residente de Jerusalém Oriental, de maioria árabe. "A não ser que Israel ponha fim aos ataques e aos assassinatos políticos, o governo de Korei não vai sobreviver muito tempo", opinou Samir.
Político moderado aliado de Arafat, o próprio Korei pediu ontem moderação por parte de Israel e garantias de apoio dos EUA e Europa antes de aceitar o cargo de premiê. Foi uma ajuda que Mazen disse não ter recebido e cuja falta citou como razão-chave de sua renúncia, junto com a falta de ações de Israel e a disputa de poder com Arafat.
Na opinião de Ayyesh, de Gaza, "Korei vai acabar ao lado de Mazen, na berlinda, a não ser que os Estados Unidos realmente pressionem Israel a comprometer-se com o processo de paz".
Outros palestinos entrevistados disseram que Korei terá duas vantagens em relação a Mazen: é um político mais hábil e não vai dever seu cargo a pressões externas.
Acusando Iasser Arafat de incitar a violência (o que ele nega), Washington o obrigou a indicar o reformista Mazen para dividir o poder com ele, como pré-requisito do plano de paz, que prevê a criação de um Estado palestino em 2005.
"Korei não foi imposto de fora para dentro, de modo que tem chance maior de dar certo como primeiro-ministro. Prevemos uma coordenação melhor entre ele e o presidente Arafat", opinou um residente de Ramallah, Abdel-Salam al Remawi.
Para Haitham, da mesma cidade, Korei "possui um certo carisma que poderá lhe ajudar. Em última análise, porém, é um processo que requer a colaboração de duas partes. A não ser que Israel o ajude, interrompendo suas ações militares, também ele fracassará."
Outros palestinos expressaram pouca fé nas chances de êxito de um processo de paz negociado com o governo israelense de direita, por mais reformista ou moderado que seja o premiê palestino.
Para eles, o acordo de paz interino de Oslo, que Korei ajudou a negociar uma década atrás, apenas levou mais assentamentos judaicos aos territórios ocupados, em lugar dos avanços reais prometidos em direção ao Estado palestino. O processo de paz foi pontuado também por novos atentados suicidas cometidos por extremistas que se opõem à existência de Israel.
"Acho que Korei não vai conseguir. Dez anos de acordo de Oslo não nos trouxeram paz", disse o professor Mohammad Ahmed Hassan, de Gaza.


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