São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2008

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Rússia promete deixar Geórgia em um mês

Novo acordo prevê substituição de tropas por monitores internacionais, com russos permanecendo só em regiões separatistas

Saakashvili elogia decisão; governo dos EUA anuncia que desistiu de aprovação de acordo de cooperação nuclear civil com Moscou


DA REDAÇÃO

Para neutralizar os mal-entendidos em torno do cessar-fogo negociado entre Rússia e Geórgia, com a intermediação da União Européia, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, que exerce a presidência rotativa do bloco, obteve ontem do colega russo, Dmitri Medvedev, o compromisso de retirada, dentro de um mês, de seus militares do território georgiano.
Isso ocorrerá com a chegada de monitores internacionais -das Nações Unidas, da OSCE (Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa) e da própria UE- que garantirão a inviolabilidade das divisas que separam a Geórgia dos territórios autonomistas da Ossétia do Sul e da Abkházia.
O presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, declarou que o novo acordo "é um passo importante" e "um bom começo".
O conflito de seis dias eclodiu em 7 de agosto, quando o governo georgiano tentou retomar pela força a Ossétia do Sul, que por acordos internacionais estava desde 1992 sob a tutela da Rússia. Em resposta, o governo russo enviou contingentes que ocuparam uma parcela do solo georgiano.

Zona-tampão
Moscou assegurava que o cessar-fogo lhe dava o direito de manter militares numa zona-tampão de dez quilômetros, dentro da Geórgia, nas divisas com as duas áreas autonomistas, o que era negado por Tbilisi. Os dois países chegaram a evocar a existência de versões contraditórias do cessar-fogo.
Essas razões levaram ontem Sarkozy novamente aos dois países em litígio. Ele chegou à noite à Geórgia para submeter a Saakashvili o novo plano de sete pontos negociado mais cedo com Medvedev.
O plano prevê a retirada russa em duas etapas. Na primeira, dentro de sete dias, a Rússia recuará para trás de uma linha que vai das cidades de Poti a Senaki. Na segunda, ela voltará com seus militares para dentro da Ossétia do Sul e da Abkházia, após a chegada da equipe internacional de monitoramento.
A União Européia enviará "ao menos" 200 monitores. Apenas dez dias depois da chegada deles é que os russos se retirarão totalmente da Geórgia.
O primeiro ponto do plano prevê que a Geórgia não usará a força contra a Ossétia do Sul e a Abkházia, territórios formalmente seus, mas de população majoritariamente russa.
O acordo também estipula negociações em Genebra, a partir de 15 de outubro, sobre a "segurança e a estabilidade" da região. O texto não prevê para a Geórgia sua integridade territorial, condição evocada pelo presidente daquele país depois de encontro, já tarde da noite, com o presidente francês.
"Acredito que esse [novo] acordo representa o máximo que se poderia obter", declarou Sarkozy, ainda na Rússia.
Medvedev disse estar cumprindo sua parte e criticou duramente Saakashvili e os EUA, a seu ver responsáveis pelo conflito ao terem armado a Geórgia e acenado com o ingresso dela na Otan, a aliança militar ocidental.
O presidente francês criticou a Rússia por ter unilateralmente reconhecido os dois territórios autonomistas. Medvedev respondeu que a decisão do Kremlin é "irrevogável".

EUA
Em nova demonstração de seu desagrado com a situação no Cáucaso, o governo dos EUA anunciou ontem que desistiu de aprovar no Congresso um acordo de cooperação nuclear civil com Moscou.
"O presidente notificou o Congresso que ele desistiu de sua determinação anterior em relação ao acordo de cooperação nuclear pacífica com a Rússia. Tomamos essa decisão com pesar", disse um comunicado do Departamento de Estado.
A Rússia não comentou a decisão de Washington.

Com agências internacionais



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