São Paulo, Quinta-feira, 09 de Setembro de 1999
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TIMOR LESTE
Chanceler diz que país pode conter violência; ONU vai reduzir presença na ex-colônia portuguesa
Indonésia rejeita tropas de paz

Associated Press
Nas ruas de Lisboa, manifestantes pedem intervenção internacional em Timor Leste


das agências internacionais

A Indonésia rejeitou ontem o envio de tropas internacionais de manutenção de paz a Timor Leste, no momento em que aumenta a pressão internacional sobre Jacarta para a resolução do conflito na ex-colônia portuguesa.
O chanceler indonésio, Ali Alatas, após se reunir com uma delegação de cinco representantes do Conselho de Segurança da ONU, disse que a Indonésia pode tratar sozinha de seus assuntos.
Na semana passada, Jacarta chegou a admitir a entrada de tropas estrangeiras em caso de deterioração da situação em Timor.
Agora, porém, afirma que seu Exército é capaz de controlar a onda de violência lançada por grupos paramilitares contrários à independência timorense.
Ontem, o ministro da Defesa, general Wiranto, indicou um novo comandante militar para Timor Leste -medida com a qual tenta mostrar o desejo da Indonésia de encerrar a violência.
O governo da Indonésia disse que não pode cumprir o prazo de 48 horas dado anteontem pela ONU para que suas forças militares conseguissem tranquilizar a situação. "Isso não é como apertar a descarga no banheiro", disse um porta-voz militar.
A ONU anunciou ontem que vai retirar amanhã parte de seus funcionários de Timor Leste. A falta de segurança no território é o principal motivo da retirada.
"Estou tomando medidas para que possamos diminuir nosso contigente em vez de fazer uma retirada completa", disse o secretário-geral da ONU, Kofi Annan.
Sua declaração foi dada após porta-vozes do organismo terem anunciado que todos os integrantes da Missão das Nações Unidas em Timor Leste (Unamet) seriam levados para a Austrália.
A sorte das cerca de 2.000 pessoas que se refugiaram dentro do edifício da Unamet está indefinida. Elas buscaram abrigo tentando escapar à onda de violência.
Kofi Annan declarou que policiais e observadores militares da ONU devem permanecer no edifício para garantir proteção a eles.
A sede da Unamet está sitiada. Suas linhas telefônicas foram cortadas e o sistema de eletricidade, abalado. "Só temos reservas de água e comida para dois ou três dias. Essa situação se tornou insuportável", disse um funcionário.
Oficiais da ONU foram atacados a tiros ontem quando tentavam comprar alimentos.
O anúncio da diminuição do contingente da ONU coloca seus 163 empregados timorenses numa situação difícil. Suas famílias estão escondidas ou foram transferidas a força para Timor Oeste. Eles estão em dúvida entre partir sem os familiares ou arriscar suas vidas para procurá-los.
A agência de notícias indonésia "Antara" afirmou que 60 mil pessoas já tiveram de deixar Timor Leste. Segundo a ONU, esse total pode chegar a 200 mil.
Os grupos paramilitares pró-Jacarta tentam praticar uma "limpeza política" contra os militantes pró-independência.
Apesar de Jacarta ter decretado lei marcial no território, a violência continua em diversas localidades de Timor Leste. A casa do bispo de Baucau, Basílio Nascimento, foi incendiada ontem. "Vamos morrer todos", disse o bispo, ferido no braço, exigindo uma rápida ação da comunidade internacional para conter os ataques dos paramilitares.
Nascimento havia abrigado no local o bispo de Dili, Carlos Ximenes Belo, Prêmio Nobel da Paz de 96. Ximenes Belo também teve sua residência incendiada e fugiu para a Austrália.
Fontes ligadas ao movimento pró-independência afirmaram ontem que a casa dos pais do líder Xanana Gusmão, em Dili, foi incendiada.
Cerca de cem pessoas, entre elas três padres, teriam sido mortas em um massacre na localidade de Suai, segundo a agência de notícias católica italiana "Misna".


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