São Paulo, Quinta-feira, 09 de Setembro de 1999
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REAÇÃO NACIONAL
Brasil já prepara envio de tropas

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

O Brasil já está preparando o envio de tropas para Timor Leste como parte de um contingente militar patrocinado pela Organização das Nações Unidas (ONU) ou autorizado por ela.
Os ministros das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, e da Defesa, Elcio Alvares, se reúnem hoje para tratar do assunto.
"O Brasil não pode ficar ausente dos esforços da comunidade internacional" em Timor Leste, disse Lampreia à Folha.
Segundo ele, o presidente Fernando Henrique Cardoso "sinalizou concretamente", com nota divulgada ontem, que o país vai "promover ações concretas" em relação a Timor.
Na nota, FHC diz ter conversado por telefone com seu colega indonésio, B.J. Habibie. "É de toda urgência que as autoridades daquele país adotem medidas eficazes para conter imediatamente a violência crescente e ostensiva dos direitos básicos do povo timorense", diz o documento.
O presidente afirmou ainda ser "inaceitável que se busque frustrar pela força a aspiração inequívoca do povo de Timor Leste pela independência".
Segundo Lampreia, ainda não está resolvido se o Brasil financiará o envio de seus soldados ou se as despesas correrão por conta da ONU. Isso depende do tipo de missão que for enviada.
O ministro também realçou que é necessária a concordância da Indonésia para que as tropas sejam despachadas.
"Mas a comunidade internacional não pode ficar insensível" diante do problema de Timor Leste, disse Lampreia. "É o outro lado da moeda de Kosovo, onde a intervenção militar se justificou por motivos humanitários."
O Brasil tinha quatro militares desarmados, seis policiais e 19 peritos eleitorais na missão da ONU que fiscalizou o plebiscito em que a maioria absoluta dos timorenses optou pela independência.
Além disso, o país já vinha se preparando para dar assistência ao futuro governo independente nas áreas de saúde, educação, agricultura e formação de quadros para administração pública.
No desenho de cenários feito pelo governo brasileiro antes do plebiscito, a pior situação seria a Indonésia não conseguir manter a segurança de Timor Leste e ocorrer um banho de sangue, seguido do êxodo de pessoas que têm posição contra a independência, receosas de um acerto de contas do futuro governo.
Nessa situação, ficariam em Timor Leste apenas radicais pela reanexação à Indonésia, que poderiam inviabilizar o futuro governo com guerra de guerrilhas.
A mais recente participação do Brasil em forças de paz da ONU ocorreu entre 1995 e 1997 em Angola. O Brasil mandou 800 militares em um total de 5 mil que fiscalizavam o cumprimento do acordo de Lusaka entre o governo angolano e a Unita, grupo armado de oposição.
Um militar brasileiro, o cabo fuzileiro naval Aladarque Cândido dos Santos, morreu quando um comboio de comida que ajudava a escoltar foi atacado.


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