São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Participação de franceses é certa e irrestrita, diz Paris

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

A participação da França nas operações militares no Afeganistão é certa e será irrestrita, segundo o ministro da Defesa francês, Alain Richard. Ela depende apenas da definição sobre que tipo de atuação o país terá -o que está sendo discutido com os EUA. "É coisa de dias", disse Richard. "Poderiam ser forças especiais, suporte naval e apoio aéreo. Nós não temos limitações."
O Ministério da Defesa divulgou ontem que agentes secretos franceses já estão atuando no Afeganistão há semanas, ao lado da Aliança do Norte, que luta contra o regime do Taleban. Detalhes são mantidos em segredo. Para especialistas, esses agentes estariam relacionados aos vários órgãos de operação antiterrorista da França.
"A França pode ser útil nos serviços de espionagem. A rede de espiões franceses é forte, pois o país tem sido confrontado com ataques extremistas desde os anos 90 e está mais preparada", afirmou à Folha a pesquisadora Nathalie Cettina, autora de "O Antiterrorismo em Questão".
O governo francês vai ainda consultar o Parlamento antes de se engajar nas operações, o que pode levar tempo. Amanhã, Richard e o ministro das Relações Exteriores, Hubert Védrine, serão ouvidos por comissões especiais.
A questão provocou uma crise na esquerda francesa, que é maioria parlamentar, depois de pronunciamentos de dirigentes do Partido Verde e do Partido Comunista Francês.
O verde Noël Mamère declarou que os ataques eram "um ato de guerra contra o povo afegão". O comunista Robert Hue, secretário-geral do partido, disse que "são reais" os riscos de se desencadear uma "engrenagem incontrolável". Tantos os verdes quanto os comunistas são aliados do Partido Socialista, ao qual pertence o primeiro-ministro Lionel Jospin. Manifestações contra os ataques ocorreram em Paris ontem e no domingo.
Até o momento, a participação da França tem sido discreta na crise. O país liberou o seu espaço aéreo para os vôos militares americanos e ingleses, ofereceu os seus portos para escalas e colocou à disposição dois navios, a fragata Courbet e o petroleiro Var. Ontem, enviou para o Egito e o mar Vermelho cerca de 1.500 homens.
A participação da Alemanha não tem sido maior. O chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, ofereceu seu apoio militar. "A Alemanha, como a França, dará sua contribuição na medida de nossas possibilidades e das demandas que nos sejam feitas", disse. Schröder viaja hoje para os EUA, a fim de discutir a participação da Alemanha com Bush.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) também renovou ontem seu apoio às ações militares e anunciou o envio de cinco aviões Awacs, de vigilância por radar, para apoiar as forças anglo-americanas.
Em Luxemburgo, durante reunião excepcional ocorrida ontem, os ministros de Relações Exteriores dos 15 países da União Européia reafirmaram o seu "apoio completo" aos Estados Unidos e defenderam um novo regime político para o Afeganistão, na "hora certa".


Texto Anterior: Segurança em Londres é reforçada
Próximo Texto: Papa evita falar do ataque, mas pede paz
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.