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MÍDIA
Dificuldade de entrar em Cabul cria "síndrome do Marriot", hotel dos jornalistas no Paquistão
Sem imagens do front, TVs dos EUA estão paralisadas
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
A guerra começou e a imprensa
americana, sentindo-se completamente fora dela, compete com
voracidade por imagens do canal
de TV a cabo árabe Al Jazeera, do
Qatar.
Sob censura do Pentágono e impedidos de entrar na parte do Afeganistão controlada pelo Taleban,
a mídia dos EUA entrou num clima de desespero batizado pela vice-presidente de jornalismo da
rede de TV CBS como a "síndrome do Marriot de Islamabad", o
hotel dos jornalistas no Paquistão.
Enquanto os telespectadores estão esperando imagens instantâneas da guerra, a mídia dos EUA
está paralisada. "Sabemos das dificuldades de cobrir esse tipo de
conflito, mas o público espera que
estejamos ao menos no país em
que a guerra está acontecendo, e
não no telhado do Marriot de Islamabad."
É na capital do Paquistão, país
vizinho ao Afeganistão, onde as
TVs norte-americanas concentram seus jornalistas e equipamentos. A CNN ocupa 30 quartos
no Marriot, pagando US$ 200 por
noite para cada um deles.
São dois os problemas das TVs
americanas. O primeiro é a decisão do Pentágono de restringir o
acesso de jornalistas a operações
militares. Embora tenha dito que
entende a importância de manter
o público informado, o secretário
da Defesa, Donald Rumsfeld, declarou há duas semanas que não
irá deixar a imprensa prejudicar o
objetivo estratégico militar e colocar a vida dos militares em risco.
Rumsfeld fechara há dez dias
um acordo com a imprensa que
tinha como base a formação de
um pool que seria coordenado
pela rede de TV NBC. Segundo esse acordo, toda vez que os ataques
iniciassem, os militares avisariam
os jornalistas que acompanham
os militares dentro de porta-aviões. Fotos e textos são produzidos dentro dos navios de guerra,
revisados pelos militares e, depois, enviados para os EUA.
O problema é que, distantes dos
alvos, os jornalistas só enxergam
aviões levantando vôo dos porta-aviões e mísseis sendo lançados.
Barbara Cochran, chefe do escritório da CBS em Washington,
tem a impressão de que a mídia
está sendo novamente manipulada, dez anos depois da Guerra do
Golfo, na qual jornalistas também
foram isolados dos fatos.
O segundo problema da imprensa americana é sua dificuldade de entrar em Cabul.
Como o Taleban baniu a presença dos jornalistas estrangeiros,
apenas a Al Jazeera está presente
na capital afegã. Ontem, detalhes
surgiram sobre a batalha das redes de TV abertas para obter cópia do vídeo entregue pelo grupo
do terrorista Osama Bin Laden à
rede do Qatar e transmitido no
domingo nos EUA.
Embora a CNN tenha um acordo de exclusividade com a Al Jazeera, as TVs abertas, alegando
uma situação de emergência, conseguiram "captar" as imagens da
declaração transmitidas pela rede
árabe, divulgando-as repetidamente. "Não há dúvida de que essas imagens da Al Jazeera têm
uma importância nacional extrema", disse o porta-voz da ABC,
Jeffreu Schenider. "Sentimo-nos
no dever de divulgá-las para o povo americano e esse dever supera
os objetivos comerciais que a
CNN pretendia obter com sua exclusividade."
O presidente de jornalismo da
CNN, Walter Isaacson, informou
ontem que, embora a rede tivesse
os direitos de exclusividade sobre
a fita, sua direção decidiu não
processar as outras redes. "Em
tempos de guerra, não faremos
uma confusão sobre o assunto."
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