São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2001

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MÍDIA

Dificuldade de entrar em Cabul cria "síndrome do Marriot", hotel dos jornalistas no Paquistão

Sem imagens do front, TVs dos EUA estão paralisadas

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

A guerra começou e a imprensa americana, sentindo-se completamente fora dela, compete com voracidade por imagens do canal de TV a cabo árabe Al Jazeera, do Qatar.
Sob censura do Pentágono e impedidos de entrar na parte do Afeganistão controlada pelo Taleban, a mídia dos EUA entrou num clima de desespero batizado pela vice-presidente de jornalismo da rede de TV CBS como a "síndrome do Marriot de Islamabad", o hotel dos jornalistas no Paquistão.
Enquanto os telespectadores estão esperando imagens instantâneas da guerra, a mídia dos EUA está paralisada. "Sabemos das dificuldades de cobrir esse tipo de conflito, mas o público espera que estejamos ao menos no país em que a guerra está acontecendo, e não no telhado do Marriot de Islamabad."
É na capital do Paquistão, país vizinho ao Afeganistão, onde as TVs norte-americanas concentram seus jornalistas e equipamentos. A CNN ocupa 30 quartos no Marriot, pagando US$ 200 por noite para cada um deles.
São dois os problemas das TVs americanas. O primeiro é a decisão do Pentágono de restringir o acesso de jornalistas a operações militares. Embora tenha dito que entende a importância de manter o público informado, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, declarou há duas semanas que não irá deixar a imprensa prejudicar o objetivo estratégico militar e colocar a vida dos militares em risco.
Rumsfeld fechara há dez dias um acordo com a imprensa que tinha como base a formação de um pool que seria coordenado pela rede de TV NBC. Segundo esse acordo, toda vez que os ataques iniciassem, os militares avisariam os jornalistas que acompanham os militares dentro de porta-aviões. Fotos e textos são produzidos dentro dos navios de guerra, revisados pelos militares e, depois, enviados para os EUA.
O problema é que, distantes dos alvos, os jornalistas só enxergam aviões levantando vôo dos porta-aviões e mísseis sendo lançados.
Barbara Cochran, chefe do escritório da CBS em Washington, tem a impressão de que a mídia está sendo novamente manipulada, dez anos depois da Guerra do Golfo, na qual jornalistas também foram isolados dos fatos.
O segundo problema da imprensa americana é sua dificuldade de entrar em Cabul.
Como o Taleban baniu a presença dos jornalistas estrangeiros, apenas a Al Jazeera está presente na capital afegã. Ontem, detalhes surgiram sobre a batalha das redes de TV abertas para obter cópia do vídeo entregue pelo grupo do terrorista Osama Bin Laden à rede do Qatar e transmitido no domingo nos EUA.
Embora a CNN tenha um acordo de exclusividade com a Al Jazeera, as TVs abertas, alegando uma situação de emergência, conseguiram "captar" as imagens da declaração transmitidas pela rede árabe, divulgando-as repetidamente. "Não há dúvida de que essas imagens da Al Jazeera têm uma importância nacional extrema", disse o porta-voz da ABC, Jeffreu Schenider. "Sentimo-nos no dever de divulgá-las para o povo americano e esse dever supera os objetivos comerciais que a CNN pretendia obter com sua exclusividade."
O presidente de jornalismo da CNN, Walter Isaacson, informou ontem que, embora a rede tivesse os direitos de exclusividade sobre a fita, sua direção decidiu não processar as outras redes. "Em tempos de guerra, não faremos uma confusão sobre o assunto."


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