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COMENTÁRIO
É hora de ampliar nossa ação libertadora "incansável"
WILLIAM SAFIRE
DO "THE NEW YORK TIMES"
"Os Estados Unidos estão repletos de medo", vangloriou-se o jubiloso Osama bin Laden,em uma
mensagem gravada em antecipação à nossa resposta pelo massacre de 6.000 pessoas. "Eles choram por seus filhos."
Em uma expressão entusiástica
de seu orgulho pelo assassinato
em massa, o fanático prometeu
que "ninguém se sentirá seguro
nos Estados Unidos",a menos que
os norte-americanos se retirem
das terras árabes. Ele a seguir
identificou seus termos para a
nossa rendição: a retirada dos judeus da Palestina e o fim da interferência dos Estados Unidos no
Iraque.
Isso traz uma nota de clareza
aos movimentos iniciais do conflito, ontem. Nenhum líder árabe
vacilante pode continuar fingindo
que duvida da culpa direta de Bin
Laden pelos atentados utilizando
aviões sequestrados. E, dado que
os interesses dos terroristas do
Oriente Médio são claramente os
mesmos, o mundo não pode mais
separar sua seita Al Qaeda dos terroristas do Hamas, do Hizbollah e
da OLP [Organização para a Libertação da Palestina", que combatem contra Israel, e do centro
mundial de terror em Bagdá dirigido por Saddam Hussein.
A estratégia do terrorismo
mundial era provocar o Ocidente
a um bombardeio e invasão do
Afeganistão, causados pela indignação. Isso seria a seguir interpretado pelos mulás radicais como
uma nova cruzada dos infiéis contra o islã, permitindo que as ruas
árabes se tornassem corredores
do poder.
Não vamos cair nesse truque.
Cientes da derrota da União Soviética diante dos brutalizados
afegãos nos anos 80, os Estados
Unidos e o Reino Unido -líderes
do mundo civilizado- estão na
verdade promovendo uma guerra
de libertação islâmica. Porque o
regime do Taleban (não o chamamos "governo") não tem legitimidade diante da ONU, contamos
com apoio mundial para "afeganizar" a guerra contra aqueles que
dão abrigo a Bin Laden.
Vamos nos esforçar ao máximo
pela divisão e derrota dos fanáticos. Nossas bombas contra os
maus se alternarão com lançamentos de comida para os bons.
Toda a nossa retórica envolverá o
alinhamento com o oprimido povo afegão e com os muçulmanos
não radicais em toda parte. Destruiremos as torres de rádio do
Taleban, que transmitem propaganda do ódio, e reforçaremos
nossas transmissões em idioma
local de verdades opostas ao fanatismo.
Essa estratégia de libertação faz
sentido. "Não se enfureça, desconte", não é a reação ocidental
furiosa pela qual os fanáticos esperavam. Matanças frias e calmas
não são nosso método predileto,
mas precisamos nos adaptar para
enfrentar um inimigo incomum
que recebe a morte com agrado.
Mas uma segunda parte de nossa estratégia não faz sentido. Ao
não ouvirmos direito -e levarmos a sério- a mensagem aberta
de Bin Laden declarando seus
propósitos, agimos como aqueles
que, no passado, não leram ou levaram a sério o "Mein Kampf"
[de Adolf Hitler".
Os propósitos declarados da rede terrorista são expulsar do
Oriente Médio qualquer manifestação de democracia e direitos humanos, como Israel, e libertar o
avatar do totalitarismo selvagem,
Saddam Hussein, das sanções ocidentais. Não se trata apenas de
metas populistas adotadas para
conquistar a adesão dos fundamentalistas; são passos para obter
armas de destruição em massa
com as quais intimidar e dominar
o mundo. Loucura? Hitler era louco também, mas quase venceu.
A parte problemática da nossa
estratégia é a idéia de que podemos limitar a guerra de maneira
ordenada. Assim, deixamos Hamas e Hizbollah, patrocinados
pela Síria e pelo Irã, de fora da lista
de grupos cujos ativos congelaremos. O secretário de Estado Colin
Powell responde a essa crítica alegando que "eles estão em outra
lista", o que é verdade, mas irrelevante. As novas restrições são
mais severas; ao deliberadamente
excluir as organizações de "caridade" que apóiam esses grupos
que promovem atentados suicidas contra Israel, Powell espera
construir pontes para Damasco e
Teerã.
Isso isola e solapa Israel. E a decisão foi anunciada no momento
em que "vazou" o plano para recompensar a violência árabe reconhecendo prematuramente o Estado palestino e, portanto, conferindo uma soberania que lhe permitiria importar armas e atrair
novos fanáticos fugitivos. Pouco
admira que Ariel Sharon tenha
objetado a esse duplo parâmetro,
que recusa negociações entre os
Estados Unidos e os terroristas de
Bin Laden, mas exige negociações
entre Israel e os terroristas de Arafat.
Outro motivo para que não estreitemos demais os nossos alvos
acaba de nos ser fornecido pelo
vídeo provocativo de Bin Laden.
Os norte-americanos "não se sentirão seguros" enquanto seu aliado, Saddam, estiver no poder, ganhando forças. Já que libertamos
os tão sofridos afegãos, que sejamos igualmente "incansáveis"
-expressão empregada pelo presidente George W. Bush- na libertação dos iraquianos oprimidos. É a mesma luta, contra o
mesmo inimigo mortal.
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