São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2001

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RÚSSIA

Mais de um ano após o naufrágio, plataforma iça a embarcação nuclear; toda a operação só deve terminar em 2002

Holandeses tiram submarino Kursk do fundo do mar

DA REPORTAGEM LOCAL

O submarino nuclear russo Kursk foi içado com sucesso ontem, mais de um ano depois de seu naufrágio quando fazia manobras no mar de Barents. Morreram 118 marinheiros na tragédia.
A operação havia sido marcada inicialmente para 15 de setembro, mas teve de ser adiada na ocasião por causa do mau tempo. Existia ainda o temor de que, durante o resgate, ocorresse contaminação radioativa.
A retirada do submarino do fundo do mar durou pouco mais de 15 horas, informou Larissa van Seumeren, porta-voz da companhia holandesa Mammoet, contratada pelo governo russo para fazer o resgate.
Além do risco envolvido, e das condições climáticas adversas, a operação também era considerada difícil por causa do porte do submarino. O Kursk possui 154 metros de comprimento e quase 20 mil toneladas de peso.
A Mammoet informou que o submarino estava muito mais próximo do nível do mar do que a equipe de resgate havia previsto inicialmente. "Podemos dizer que foi mais fácil do esperávamos", disse a porta-voz da Mammoet.
A Marinha russa recebeu com alívio a notícia de que a primeira parte da operação havia sido concluída sem incidentes. "Recebemos a notícia com comoção. Significa que todo o trabalho de marinheiros, mergulhadores e técnicos de todo o tipo não foi em vão", disse ontem o vice-almirante Mikhail Motsak, que chefia a divisão norte da Marinha russa.
Nos sete dias que antecederam o içamento, mergulhadores tiveram de afixar 26 cabos do navio Giant 4 no Kursk. Ontem, logo após seu içamento, o Giant-4 começou a transportar o submarino até um dique seco na cidade russa de Rosliakovo.
A equipe responsável pelo resgate disse que ia tentar tirar o máximo de proveito das condições meteorológicas favoráveis para completar a operação. Se o bom tempo persistir, a previsão é que o Kursk chegue a Rosliakovo em um prazo de 36 horas.
"A única coisa que tememos neste momento é que o tempo mude", afirmou Vladimir Navrotsky, porta-voz da divisão norte da Marinha russa.

Custo
Toda a operação de resgate do Kursk, que vai custar US$ 65,2 milhões ao governo russo, só deve terminar no ano que vem.
No dique seco de Rosliakovo, vão ser desmontados os mísseis instalados no submarino. Na última etapa da operação, calculada para ser iniciada dentro de seis meses, o submarino será transportado para Snezhnogorsk, de onde será retirado o combustível de seus reatores nucleares.
Ontem, as Forças Armadas russas informaram que os sensores instalados em diversos pontos do casco do submarino não haviam registrado qualquer tipo de contaminação radioativa.
Enquanto o Kursk era içado, foram recolhidos vários fragmentos de sua proa para que sejam avaliadas as possíveis causas das explosões que provocaram o naufrágio do submarino russo.

Sem sobreviventes
O acidente com o Kursk ocorreu em agosto de 2000 e resultou na morte de 118 marinheiros. A maioria morreu nos minutos que se seguiram à explosão, mas, como se soube graças a um bilhete deixado pelo tripulante Dmitri Kolesnikov (um dos 12 mortos cujos corpos foram resgatados), 23 marinheiros ainda sobreviveram por várias horas.
A tragédia com o Kursk foi considerada por analistas como mais um sintoma dentro do quadro geral de decadência da Marinha russa. Na ocasião do acidente, o presidente russo, Vladimir Putin, foi duramente criticado porque não quis interromper suas férias para visitar o local do acidente.
Meses atrás, Ilia Klebanov, vice-premiê responsável pela indústria militar, afirmou que o maior problema é que há um número indeterminado de torpedos não havia explodido. Assim, não se sabe o que pode acontecer quando a proa for separada do resto do corpo do submarino.


Com agências internacionais


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