São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2001

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TRAGÉDIA

Autoridades do país descartam atentado terrorista como explicação para a colisão de um Cessna com um MD-87

Aviões se chocam e 118 morrem na Itália

France Presse
Equipes trabalham para recolher destroços no local onde dois aviões se chocaram ontem, no aeroporto de Linate, em Milão (Itália)


DA REDAÇÃO

Um acidente envolvendo dois aviões no aeroporto de Linate, em Milão (Itália), provocou ontem a morte de ao menos 118 pessoas -todos os que estavam a bordo nas duas aeronaves e mais quatro funcionários na pista.
Autoridades italianas descartaram a possibilidade de ataque terrorista.
A tragédia -o pior acidente na aviação civil italiana em 30 anos- está sendo atribuída à combinação de falha humana e de baixa visibilidade provocada pela neblina pesada.
O acidente ocorreu às 8h15 (3h15 da manhã em Brasília), quando a pequena aeronave particular invadiu a pista de onde se preparava para decolar um MD-87 da companhia aérea escandinava SAS.
Após a colisão, o avião da SAS, que estava a aproximadamente 300 km por hora e prestes a decolar, deu um giro de 45º e avançou até o hangar que armazenava bagagens do aeroporto.
Em seguida, a aeronave explodiu e se transformou em uma "imensa bola de fogo", segundo a descrição de testemunhas do acidente.
Parentes das vítimas aguardavam ontem o resgate dos corpos em uma sala do aeroporto, longe da imprensa e de curiosos.
Houve relatos emocionados. A sueca Ritva Karjalauta contou que mal se despedira de seu filho Jan e de seu neto Alex, que embarcaram no avião da SAS havia alguns minutos, quando ouviu três explosões. "Imediatamente entendi o que havia acontecido", disse ela aos jornalistas, chorando desesperadamente.

Atriz a bordo
A atriz dinamarquesa Brigitte Nielsen, ex-mulher do ator norte-americano Sylvester Stallone, conseguiu escapar do acidente.
A atriz estaria a bordo do avião da SAS, mas, na última hora, cancelou sua ida a Copenhague a fim de participar de um programa da TV italiana. "Não sei o que dizer, estou emocionada", afirmou Nielsen à agência "Ansa".
O vôo da SAS partia de Milão para Copenhague, capital da Dinamarca. Transportava 104 passageiros e seis tripulantes. A bordo do pequeno Cessna, que se dirigia a Paris, estavam quatro pessoas -o piloto e o co-piloto, de origem alemã, e dois executivos italianos, entre eles o representante da Cessna na Europa.
Autoridades italianas iniciaram as investigações para determinar as causas do acidente, mas já existem algumas suspeitas. Aparentemente, a aeronave particular pegou a direção errada enquanto o piloto manobrava na pista.
Existe ainda a suspeita de que o piloto do Cessna tenha tentado cortar caminho até a pista de onde iria decolar. Especialistas afirmam ainda que, por serem de origem alemã, piloto e co-piloto não estavam familiarizados com o aeroporto de Linate.
O ministro dos Transportes italiano, Pietro Lunardi, visitou ontem o local da tragédia. Lunardi descartou a hipótese de atentado e afirmou que o acidente havia ocorrido por causa de falha humana. O ministro italiano disse que havia sido impossível resgatar os passageiros ainda com vida. "As equipes de resgate iniciaram seu trabalho imediatamente, mas foi impossível salvar alguém no avião. Todos já estavam mortos."
Há indícios de que o piloto do SAS, que já se preparava para decolar, tentou interromper sua rota, mas foi tarde demais. "O pequeno avião não estava onde devia estar quando houve a batida", afirmou Roberto Arditti, porta-voz do ministério do Interior. "Houve falha humana, mas a neblina pesada no aeroporto também contribuiu para provocar o acidente. Pode ter causado confusão no piloto."
O sistema de radar do aeroporto estava sem funcionar havia meses. Por essa razão, o sindicato de pilotos da Itália afirmou ontem que o acidente poderia ter sido evitado. Mas as autoridades atribuem a falha ao piloto do Cessna. O avião taxiava na pista, apesar de as regras do aeroporto proibirem manobras como essa em períodos de visibilidade ruim.

Crise
A tragédia de ontem em Milão ocorre em um momento adverso para o setor de aviação civil. Companhias aéreas de todo o mundo, que já vinham acumulando prejuízos nos últimos anos, viram sua crise se agravar depois do ataque terrorista ao WTC e ao Pentágono no último dia 11 de setembro. Em consequência dos ataques, houve queda expressiva do número de reservas nos vôos e aumento do preço dos prêmios pagos pelas companhias aéreas às seguradoras. Medidas de segurança adicionais também elevaram os custos das empresas.


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