São Paulo, quarta-feira, 09 de outubro de 2002

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DIREITOS HUMANOS

Patricio Campos é acusado de obstruir investigações sobre desaparecimentos ocorridos na ditadura

Brigadeiro da reserva é preso no Chile

Claudia Daut/Reuters
Familiares de vítimas da ditadura fazem protesto em Santiago


DA REDAÇÃO

O brigadeiro da reserva Patricio Campos foi preso ontem por ordem da Justiça chilena. Há três semanas, ele havia passado para a reserva por conta da acusação de obstruir as investigações sobre desaparecidos durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
A prisão de Campos aumenta a pressão sobre o comandante da Força Aérea chilena, o brigadeiro Patricio Ríos, para que renuncie. Ríos é acusado de acobertar Campos, que era o quinto na hierarquia da Força Aérea.
O caso deu origem a uma campanha por mudanças constitucionais. Seus líderes querem o fim norma que dá estabilidade e autonomia aos chefes militares do país e impede o presidente de substituí-los antes do término do mandato de quatro anos.
O presidente Ricardo Lagos lamentou, há duas semanas, não ter o poder de remover os comandantes militares quando esses perdessem sua confiança.
Os partidos que formam a coalizão governista Concertación Democrática também pediram publicamente o afastamento de Ríos. O impedimento é considerado um dos resquícios antidemocráticos do período de Pinochet remanescentes no país. A atual Constituição foi promulgada pelo ex-ditador em 1980.
Campos foi encarregado, há dois anos, de compilar informações sobre desaparições de presos políticos atribuídas a um grupo chamado Comando Conjunto, que operou nos primeiros anos da ditadura. Mas seu relatório omitia alguns desses casos. No mês passado, o jornal "La Nación" revelou que a mulher de Campos, Viviana Ugarte, teria feito parte do Comando Conjunto e enfrentaria acusações sobre a desaparição de ao menos três pessoas.
Campos renunciou ao posto em seguida, mas Ríos resiste à pressão e diz que não renunciará. Seu mandato termina no ano que vem. Campos está preso numa base aérea. O comandante da Força Aérea diz ter comunicado o presidente Lagos e seu antecessor, Eduardo Frei (1994-2000), sobre o caso, mas ambos negam.
Na semana passada, Lagos classificou de "deplorável" um relatório entregue por Ríos no qual ele dizia que havia encarregado Campos de realizar o levantamento porque sua relação com Viviana Ugarte "permitiria construir uma ponte de confiança com os possíveis conhecedores da informação relevante". Durante o governo Pinochet, 3.197 pessoas morreram ou desapareceram, segundo a Comissão de Verdade e Reconciliação, criada em 1990.


Com agências internacionais

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