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IMPRENSA
Juiz quer ver fonte de repórter do "Financial Times" que denunciou corrupção
Argentina quebra sigilo de jornalista
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
Contrariando um artigo da
Constituição argentina que garante o sigilo das fontes jornalísticas, a Justiça do país determinou a
quebra do sigilo telefônico do correspondente em Buenos Aires do
jornal britânico "Financial Times", transformando um caso de
corrupção no Senado denunciado
pelo jornal em agosto em um processo contra o jornalista.
Reportagens publicadas pelo
jornal denunciavam um suposto
pedido de propinas, de senadores
a executivos de bancos estrangeiros no país, para votar contra um
projeto de lei que criava uma taxa
de 2% nas transações financeiras,
a ser cobrada das instituições estrangeiras.
Ante a negativa dos diretores
dos bancos envolvidos em confirmar a informação, o juiz federal
Claudio Bonadío, responsável pela investigação do caso, determinou a quebra do sigilo telefônico
de quatro diretores de bancos,
dos 72 senadores e do jornalista
Thomas Catán, correspondente
do "FT" em Buenos Aires, para
cruzar as ligações feitas por eles.
Na sexta-feira passada, um oficial de Justiça, acompanhado de
dois policiais, esteve no escritório
de Catán, sem um mandado judicial, para obter cópias das reportagens. Alguns executivos de bancos tiveram suas agendas apreendidas, para verificar se mantiveram encontros com o jornalista.
O caso provocou reações de organismos como a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), o
Instituto Internacional de Imprensa (IPI), a Repórteres sem
Fronteiras, a Associação das Empresas Jornalísticas da Argentina
(Adepa) e a Associação de Correspondentes Estrangeiros na Argentina, que rechaçam a ação do
juiz Bonadío, a qual acusam de
ameaçar a liberdade de imprensa
no país.
"Essas ações prejudicam imensamente meu trabalho. Quem é
que vai querer receber uma ligação minha ou me ligar sabendo
que a Justiça vai registrar as ligações? Quem vai se reunir comigo,
sabendo que a polícia pode chegar para apreender suas agendas e
verificar com quem se encontraram?", questiona Catán.
Procurado pela Folha, o juiz Bonadío não respondeu aos recados
em seu gabinete. Um assessor
afirmou que ele não falaria sobre
o caso enquanto as investigações
estivessem em andamento.
Em um despacho no qual nega
o pedido dos advogados do jornalista para destruir as informações
sobre suas ligações, fornecidas
pela companhia telefônica, Bonadío diz que ele não tem direito a
fazer petições por não ser parte no
processo, apenas testemunha.
Os senadores, por sua vez, passaram de acusados a acusadores,
ameaçando processar os diretores
dos bancos e Catán por "traição".
"Já aguardamos um tempo prudente e ninguém confirma a versão de Catán", afirmou o líder da
bancada da União Cívica Radical
(UCR) no Senado, Carlos Maestro. "Pelo contrário, as fontes que
cita em seus artigos o desmentiram", disse, acusando ainda o
"FT" de defender "os grandes interesses econômicos do mundo".
"Após dois anos na Argentina
cobrindo a crise por que passa o
país, verifico que ela tem uma raiz
mais profunda, que tem a ver com
a falta de instituições críveis, das
quais a Justiça é a mais importante", afirma Catán. "Hoje, o sistema de Justiça na Argentina é uma
ferramenta política, usada todos
os dias assim", diz.
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