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São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2003

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"TOTAL RECALL"

Schwarzenegger ganhou fama como Conan nos anos 1980

Eleição de ator mostra vida real a reboque da ficção

20.mai.1977/Associated Press
Schwarzenegger promove "Pumping Iron" em Cannes, em 1977


INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Se a eleição de Arnold Schwarzenegger espanta é em boa parte porque deixa a impressão de que o mundo já não é o que costumava ser. Um atropelo à razão: num dia, o ator interpreta o presidente da República ou algo assim, no dia seguinte ele vira presidente.
A vida real segue a reboque da ficção -sempre seguiu. A novidade de hoje, que Schwarzenegger, 56, personifica, é a perfeita permeabilidade -para não dizer confusão- entre imagem e coisa real. Num dia você encarna no cinema a força, o equilíbrio, a justiça, a inteligência em ação -para ficar com algumas qualidades que ele costuma encarnar. No outro, a imagem que criou se elege governador da Califórnia.
Ok, mas que isso não leve a uma subestimação apressada e ligeira do homem. Não convém esquecer que esse ex-campeão de cultura física é dotado de uma determinação não negligenciável. Tanto que, quando começou a carreira, os produtores de "Hercules in New York" trocaram seu sobrenome para Strong, de tão difícil que lhes parecia Schwarzenegger.
Isso foi em 1970. Em 1976, seu sobrenome verdadeiro voltou a circular graças a "Pumping Iron", documentário sobre esses corpos meio monstruosos construídos em salas de musculação. Mas o nome Schwarzenegger acabou se impondo nos anos 80, primeiro na pessoa de "Conan, o Bárbaro", em 82. Foi sorte: Arnold tinha o físico que interessava a John Milius. E o personagem desse belo filme ficou mais famoso do que o ator.
Dois anos depois, outro brucutu -na pessoa do Exterminador do Futuro - fez dele uma superestrela. Mas Arnold não ficou restrito aos papéis de força bruta: esforçou-se, aprendeu a interpretar, fez comédias, adquiriu uma desenvoltura considerável. Tornou-se uma estrela de pleno direito.
Ninguém levou a sério quando lançou sua candidatura a governador. Com razão: trocar os finais seguros de roteiro pelas incertezas do poder parece uma insânia. Talvez seja. Ainda uma vez, contudo, convém lembrar que a contaminação do real pelas imagens hoje atinge graus inacreditáveis.
Não precisamos ir aos EUA. A prefeita de São Paulo fez sua fama na TV, assim como muitos deputados. Aliás, o Judiciário, a Câmara e o Senado dispõem de canais de TV. Todo mundo pode ser artista de TV, desde que seja político. Por que não o contrário?


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