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Para analistas, ataques de Bush passam dos limites
ADAM NAGOURNEY
RICHARD W. STEVENSON
DO "NEW YORK TIMES"
Desde o começo do ano, a Casa
Branca vem agindo de forma jamais vista no que tange à propaganda negativa contra os seus adversários, iniciada por US$ 80 milhões em anúncios atacando o senador John Kerry, logo após a indicação do democrata para disputar a Presidência, em julho.
Mas os ataques ferozes promovidos por Bush contra Kerry nos
últimos dias antes do debate de
ontem representam um novo
marco de violência.
No processo, dizem diversos
analistas, Bush transpôs os limites
da interpretação subjetiva e ofereceu versões imprecisas ou exageradas quanto às posições de Kerry
sobre saúde, impostos, Guerra do
Iraque e política externa.
Diante de uma platéia exultante,
em Michigan, Bush afirmou que,
sob um governo de Kerry, o país
teria de "esperar que outras nações e líderes nos dessem nota"
antes de agir em sua própria defesa. Kerry já afirmou repetidamente que não abriria mão do direito
de agir preventivamente "de qualquer maneira necessária a proteger os EUA", mas sugeriu que um
presidente deveria ter razões legítimas para ações desse tipo.
Causando risos na audiência,
Bush sugeriu que Kerry imporia
aos EUA o "plano Hillary", um
imenso programa federal de saúde que aumentaria o controle federal sobre as decisões de saúde
dos cidadãos.
O plano de saúde proposto por
Kerry é significativamente maior
que o de Bush e inclui maior dependência do sistema Medicaid
de assistência médica e de seguros
de saúde estaduais, beneficiando
os mais pobres. Mas, diferentemente da proposta apresentada
por Hillary Clinton em 1993, sua
proposta não requer a criação de
uma nova burocracia federal de
grande porte e manteria o sistema
atual, baseado em contribuições
de empregadores. Kerry disse
também que não apoiava nenhuma forma de plano nacional de
saúde.
Bush declarou, causando vaias
da platéia, que Kerry havia estabelecido "cronogramas artificiais"
para retirar soldados do Iraque,
atitude que, na opinião do presidente, tornaria o inimigo mais
confiante e colocaria as tropas em
perigo. Na verdade, Kerry disse
que era possível prever que o início da retirada acontecesse em
apenas seis meses, mas apenas se
ele obtivesse sucesso em promover maior estabilidade no Iraque;
o democrata se recusou repetidas
vezes a estabelecer um cronograma firme de retirada.
Os assessores do presidente defenderam as declarações de Bush,
dizendo que ele havia colocado
em destaque, de maneira limpa,
posições assumidas por Kerry ao
longo dos anos. "As críticas de
campanha a Kerry são meticulosas e precisas, e a maior parte delas envolve citações textuais", disse Steve Schmidt, um porta-voz
da campanha Bush.
Mas outros analistas, entre os
quais alguns republicanos, disseram que Bush estava repetidamente tirando frases e parágrafos
do contexto, ou escolhendo posições do adversário quanto a causas muito específicas, para criar
argumentos desfavoráveis.
"Muitas dessas acusações estão
fora de contexto", disse Kathleen
Hall Jamieson, diretor do Centro
Annenberg de Política Pública, da
Universidade da Pensilvânia, e
autora de um livro sobre campanhas eleitorais negativas. "É uma
questão de tirar frases, ou partes
de frases, do contexto. E é difícil
para os jornalistas recolocá-las no
contexto, porque isso exige tempo." Scott Reed, que dirigiu a
campanha de Bob Dole à Presidência em 1996, disse que "eles estão não só esbarrando nos limites
como os pressionam fortemente".
Reed considera que Bush ainda
não ultrapassou os limites do admissível, e elogiou os ataques veementes a Kerry como manobra
tática, dizendo que eles energizam
os eleitores da base republicana,
desanimados com o desempenho
de Bush no primeiro debate. Mas,
indagado se concordava com a
descrição apresentada por Bush
sobre a posição de Kerry em relação a ataques preventivos, Reed
disse que não.
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