São Paulo, sábado, 09 de outubro de 2004

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Para analistas, ataques de Bush passam dos limites

ADAM NAGOURNEY
RICHARD W. STEVENSON
DO "NEW YORK TIMES"

Desde o começo do ano, a Casa Branca vem agindo de forma jamais vista no que tange à propaganda negativa contra os seus adversários, iniciada por US$ 80 milhões em anúncios atacando o senador John Kerry, logo após a indicação do democrata para disputar a Presidência, em julho.
Mas os ataques ferozes promovidos por Bush contra Kerry nos últimos dias antes do debate de ontem representam um novo marco de violência.
No processo, dizem diversos analistas, Bush transpôs os limites da interpretação subjetiva e ofereceu versões imprecisas ou exageradas quanto às posições de Kerry sobre saúde, impostos, Guerra do Iraque e política externa.
Diante de uma platéia exultante, em Michigan, Bush afirmou que, sob um governo de Kerry, o país teria de "esperar que outras nações e líderes nos dessem nota" antes de agir em sua própria defesa. Kerry já afirmou repetidamente que não abriria mão do direito de agir preventivamente "de qualquer maneira necessária a proteger os EUA", mas sugeriu que um presidente deveria ter razões legítimas para ações desse tipo.
Causando risos na audiência, Bush sugeriu que Kerry imporia aos EUA o "plano Hillary", um imenso programa federal de saúde que aumentaria o controle federal sobre as decisões de saúde dos cidadãos.
O plano de saúde proposto por Kerry é significativamente maior que o de Bush e inclui maior dependência do sistema Medicaid de assistência médica e de seguros de saúde estaduais, beneficiando os mais pobres. Mas, diferentemente da proposta apresentada por Hillary Clinton em 1993, sua proposta não requer a criação de uma nova burocracia federal de grande porte e manteria o sistema atual, baseado em contribuições de empregadores. Kerry disse também que não apoiava nenhuma forma de plano nacional de saúde.
Bush declarou, causando vaias da platéia, que Kerry havia estabelecido "cronogramas artificiais" para retirar soldados do Iraque, atitude que, na opinião do presidente, tornaria o inimigo mais confiante e colocaria as tropas em perigo. Na verdade, Kerry disse que era possível prever que o início da retirada acontecesse em apenas seis meses, mas apenas se ele obtivesse sucesso em promover maior estabilidade no Iraque; o democrata se recusou repetidas vezes a estabelecer um cronograma firme de retirada.
Os assessores do presidente defenderam as declarações de Bush, dizendo que ele havia colocado em destaque, de maneira limpa, posições assumidas por Kerry ao longo dos anos. "As críticas de campanha a Kerry são meticulosas e precisas, e a maior parte delas envolve citações textuais", disse Steve Schmidt, um porta-voz da campanha Bush.
Mas outros analistas, entre os quais alguns republicanos, disseram que Bush estava repetidamente tirando frases e parágrafos do contexto, ou escolhendo posições do adversário quanto a causas muito específicas, para criar argumentos desfavoráveis.
"Muitas dessas acusações estão fora de contexto", disse Kathleen Hall Jamieson, diretor do Centro Annenberg de Política Pública, da Universidade da Pensilvânia, e autora de um livro sobre campanhas eleitorais negativas. "É uma questão de tirar frases, ou partes de frases, do contexto. E é difícil para os jornalistas recolocá-las no contexto, porque isso exige tempo." Scott Reed, que dirigiu a campanha de Bob Dole à Presidência em 1996, disse que "eles estão não só esbarrando nos limites como os pressionam fortemente".
Reed considera que Bush ainda não ultrapassou os limites do admissível, e elogiou os ataques veementes a Kerry como manobra tática, dizendo que eles energizam os eleitores da base republicana, desanimados com o desempenho de Bush no primeiro debate. Mas, indagado se concordava com a descrição apresentada por Bush sobre a posição de Kerry em relação a ataques preventivos, Reed disse que não.


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