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Kirchner estourou gastos em US$ 15,6 bi
Verba fora do Orçamento argentino, designada por decreto, financia conclusão de obras e soma US$ 6,6 bi em ano eleitoral
Dinheiro não passa pelo controle do Congresso; oposição diz que governo subestima arrecadação
para conseguir fundos livres
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
O governo argentino já gastou desde 2004, sob a batuta do
presidente Néstor Kirchner,
US$ 15,6 bilhões além do que
havia previsto nos Orçamentos
que enviou ao Congresso. Só
neste ano, eleitoral, o gasto extra, que não é fiscalizado, atingiu US$ 6,6 bilhões.
Os números foram revelados
ontem pelo jornal argentino
"La Nación". A oposição acusa
o governo Kirchner de subestimar propositadamente a arrecadação para poder dispor de
mais dinheiro para gastar de
forma discricionária.
O dinheiro arrecadado além
da previsão é gasto pelo governo por meio de decretos de necessidade e urgência, o equivalente às medidas provisórias do
Poder Executivo brasileiro, e
não passa pela supervisão do
Congresso, diferentemente dos
gatos previstos no Orçamento.
O governo Kirchner é recordista em emissão de decretos
no país. O mais recente deles
data de agosto deste ano. Por
meio dele, o governo injetou no
Orçamento US$ 4,5 bilhões.
Cerca de metade desse valor foi
destinado ao Ministério do Planejamento, órgão que coordena as obras públicas no país.
Na Argentina, não há impedimento legal para a inauguração
de obras por autoridades ou
candidatos nos meses que antecedem as eleições. A verba
extra é um combustível para
acelerar a finalização de obras
antes do pleito. Só na semana
passada, a primeira-dama e
candidata presidencial favorita, Cristina Fernández de
Kirchner, participou de três
inaugurações com o marido.
Uma das obras beneficiadas
por esses gastos não orçados foi
a de um complexo poliesportivo na Grande Buenos Aires. A
obra, feita em parceria com o
empresário e apresentador de
TV Marcelo Tinelli, deve ser
inaugurada com um ato de
Cristina na semana que vem, às
vésperas das eleições do próximo dia 28. O programa de Tinelli é o mais popular da TV argentina, e a inauguração do
centro deve ter uma grande repercussão nesse espaço.
Em valores absolutos, os gastos fora do Orçamento por
meio de decretos neste ano superam os de todos os anos anteriores do governo Kirchner -o
recorde anterior, de 2004, é de
US$ 3,6 bilhões. O Orçamento
total deste ano é quase o dobro
do de 2004, porém, proporcionalmente, o gasto naquele ano
ainda foi maior (veja quadro).
O projeto de Orçamento para
o ano que vem indica que, em
um eventual governo Cristina,
a prática usada por seu marido
não deve ser alterada -um levantamento feito pelo jornal
"Perfil" mostra que, só em promessas de campanha, o governo se comprometeu em gastar
US$ 1,6 bilhão com obras para
as quais só destinou US$ 700
milhões no projeto.
Superpoderes
Além dos decretos de necessidade e urgência, o governo
dispõe de outra ferramenta para alterar as disposições orçamentárias: os superpoderes
concedidos ao chefe-de-gabinete (o equivalente ao ministro
da Casa Civil) para alterar o
destino dos gastos, projeto polêmico aprovado no ano passado pela maioria governista.
"O Orçamento já não é crível.
Enquanto houver os superpoderes e o presidente continuar
abusando dos decretos, teremos um país sem divisão de Poderes", afirmou o deputado Esteban Bullrich, candidato a vice-presidente na chapa do opositor Ricardo López Murphy.
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