São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2011

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Cartéis comandam área metropolitana de Buenos Aires

Traficantes de países latinos dividem regiões de atuação na capital; a negociação é feita nos bares e nos salões fechados

O 'paco', semelhante ao crack, é a droga mais disseminada entre crianças e adolescentes na periferia portenha

DE BUENOS AIRES

Claudio Izaguirre tem 51 anos e está "limpo" há 35. Ex-viciado em drogas, hoje lidera a Associação Antidrogas da Argentina, com a qual se dedica a mapear a produção e a exportação de drogas e a ajudar viciados.
Segundo sua organização, existem cartéis internacionais atuando em diversos pontos do país. Em Buenos Aires, operariam os dominicanos (nos bairros de Monserrat e Constituición), os peruanos (em Flores), os paraguaios (em Villa Soldati) e os bolivianos (em Liniers).
Na região metropolitana da capital, atuariam os mexicanos, enquanto os colombianos estão nas províncias de Santa Fé e Chaco.
Izaguirre vive a poucas quadras do centro de operações de um dos cartéis de drogas em Buenos Aires, o dos traficantes de origem dominicana, localizado entre as avenidas de Belgrano, Entre Ríos e San Juan, na região dos bairros portenhos de Constitución e Monserrat.
Ele acompanhou a Folha em visita a essa zona numa noite durante a semana, mostrando os principais pontos de venda de droga.
A atividade está quase sempre associada a casas de prostituição.
Nas ruas mal iluminadas, não é fácil perceber que, detrás de cortinas de cabeleireiros ou de bares que parecem fechados e tem os vidros escuros, há uma movimentação.
Homens sozinhos caminham e espiam dentro das casas. Às vezes decidem entrar, noutras, seguem andando em busca do próximo ponto. Mulheres em grupo fumam na porta de alguns estabelecimentos.
Tudo é muito discreto e um desavisado poderia andar por ali sem perceber muita coisa. Izaguirre vai apontando sinais de como a região fica violenta com frequência. Marcas de bala na entrada de um prédio são vestígios de um tiroteio recente.
Contrário à despenalização das drogas, ele diz que o principal investimento que precisa ser feito na Argentina hoje é em prevenção.

NOVA DROGA
O médico toxicologista Carlos Damin diz que o "paco", mistura do alcaloide base da cocaína com bicarbonato de sódio e cafeína, similar ao crack, vem se disseminando entre crianças e adolescentes nas periferias da grande Buenos Aires.
"O efeito destrutivo do 'paco' é imenso. Deteriora o cérebro, os pulmões e o aparelho digestivo de forma aguda em questão de meses", diz Damin, que trabalha no hospital Fernandez, na capital, um dos únicos que possui uma equipe multidisciplinar para tratar o tema.
Como a Argentina não tem estatísticas confiáveis sobre narcotráfico e o consumo de drogas -as do governo são incompletas e antigas-, o controle e a repressão não são eficazes. (LUCAS FERRAZ E SYLVIA COLOMBO)


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