São Paulo, sexta, 9 de outubro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RECONCILIAÇÃO
Primeiro-ministro japonês diz pela primeira vez lamentar violência durante domínio colonial sobre o país
Japão se desculpa por ocupação da Coréia

Reuters
O presidente sul-coreano, Kim Dae Jung (esq.), e o premiê japonês, Keizo Obuchi, dão entrevista em Tóquio


das agências internacionais

O Japão assinou ontem pela primeira vez um pedido formal de desculpas à população da Coréia do Sul pela violência de seus 35 anos (1910-45) de domínio colonial na península coreana.
Ao lado do presidente sul-coreano, Kim Dae Jung, em Tóquio, o premiê japonês, Keizo Obuchi, tornou público documento em que reconhece "o fato histórico de que nosso país infligiu danos e sofrimento consideráveis ao povo da Coréia do Sul e expressa profundo remorso e sinceras desculpas".
Os japoneses nunca haviam assinado antes um documento de desculpas a países que estiveram sob sua ocupação no período anterior ou durante a Segunda Guerra.
Kim aceitou o pedido. "É realmente infantil descartar o significado de 1.500 anos de trocas e cooperação por causa de períodos desafortunados que totalizam menos de 50 anos", afirmou.
Ele enfatizou a formação de uma frente nipo-coreana para enfrentar a ameaça do regime comunista da Coréia do Norte -que, em agosto, aumentou a tensão na região ao testar um míssil.
A violência do período de colonização japonesa -quando as mulheres coreanas foram forçadas a se prostituir aos soldados da ocupação- motivou o total esfriamento das relações entre os dois países durante a segunda metade deste século.
Em 1965, relações diplomáticas foram reatadas. Mas filmes, música ou desenhos animados da TV japonesa têm veiculação proibida na Coréia do Sul.
Agora, com o pedido de desculpas, os líderes esperam uma reabertura não só no campo econômico-foi assinado um empréstimo bancário privado de cerca de US$ 3 bilhões aos sul-coreanos- mas também no cultural.
"Disse que a abertura para a importação da cultura japonesa seria gradual", disse Kim. "Mas acredito que ela virá rapidamente."
Um projeto de intercâmbio também está previsto. Jovens japoneses e sul-coreanos de 18 a 25 anos poderão viajar ao país vizinho com bolsas mistas de trabalho e estudo.
Mas apesar do otimismo da cerimônia de ontem, analistas políticos alertam para um difícil caminho até a reconciliação.
Muitos coreanos ainda atacam o Japão pelas medidas do período de colonização, quando foram proibidos de falar a própria língua e obrigados a usar nomes japoneses.
O sentimento anticoreano também é forte entre muitos japoneses. Nas últimas semanas, dezenas de parlamentares tentaram demover o premiê Obuchi da idéia de formalizar o pedido de desculpas.
Além disso, dizem os analistas, dois temas polêmicos ainda não foram tratados entre os governos: a questão das escravas sexuais e a disputa pela soberania de algumas pequenas ilhas no Pacífico.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.