|
Próximo Texto | Índice
2ª GUERRA
Estudo mostra que a ação de simpatizantes do 3º Reich tornou o Brasil atraente para refúgio após a guerra
Estrutura propiciou vinda de nazistas
ROGÉRIO SIMÕES
da Reportagem Local
A estrutura montada por nazistas no Brasil na década de 30 e no
início dos anos 40 transformou o
país em um local atraente para representantes do 3º Reich depois da
2ª Guerra Mundial.
Pesquisa inédita da USP (Universidade de São Paulo), com base
nos arquivos do Dops (Departamento de Ordem Política e Social),
revela que membros da colônia
alemã criaram uma situação propícia para a vinda de nazistas.
Um Partido Nazista bem organizado no Sudeste e a distribuição de
espiões inclusive no Nordeste garantiram importante presença da
ideologia nazista no país.
Coordenado pela historiadora
Maria Luiza Tucci Carneiro, o trabalho descreve, por meio dos arquivos da polícia paulista, reunidos no Arquivo do Estado, como
se organizou o nazismo brasileiro.
A pesquisa servirá de base para a
atuação da Comissão Especial de
Apuração de Patrimônios Nazistas
no Brasil, estabelecida pelo governo federal para apurar a existência
no país de bens de judeus usurpados por nazistas.
Para Carneiro, que participa da
comissão, os membros do 3º Reich
que passaram ou mesmo se estabeleceram no Brasil depois de 1945
tiveram auxílio ao chegar. "Os que
vieram foram recebidos por alguém", afirma.
Segundo ela, ainda não foi possível determinar o número de nazistas existentes no Brasil na época.
O estudo aborda três aspectos da
presença alemã antes e durante a
guerra: o funcionamento do Partido Nazista, a espionagem e o cerco
da polícia à comunidade alemã.
Maria Tucci Carneiro alerta para
o fato de os documentos analisados serem da polícia, que classificava algumas pessoas como simpatizantes do 3º Reich simplesmente por serem alemãs.
Segundo ela, há até mesmo casos
de judeus alemães apontados pela
polícia como nazistas.
Partido
De acordo com os documentos
do Deops-SP, alemães que viviam
no Brasil já mantinham um núcleo
do Partido Nazista no início da década de 30, ainda antes da ascensão de Hitler ao poder.
Otto Braun, que ocupou a função de tesoureiro do partido, declarou à polícia paulista que em
1931 existia uma diretoria provisória, formada por Henning von
Cossel, o chefe local, Karl Illinger,
tesoureiro, e Oto Emil Schuke, como secretário.
Em 1934, a sede da agremiação
foi transferida do Rio de Janeiro
para São Paulo, o que provocou
um aumento no número de diretorias, que incluíam pessoas responsáveis pela propaganda.
Segundo Ana Maria Dietrich, 24,
autora do capítulo sobre o Partido
Nazista, até 1938 o governo brasileiro "fechava os olhos" para as
atividades do grupo.
A partir desta data, começaram a
vigilância e a perseguição dos
membros do partido. O rompimento das relações entre o Brasil e
os países do Eixo, em 1942, marcou o acirramento da repressão
contra a organização.
Ana Maria Dietrich diz que a
propaganda era uma das principais atividades do partido e era feita desde 1931, quando discursos de
Hitler já eram distribuídos entre a
comunidade alemã em São Paulo.
Entre as empresas que davam cobertura ao Partido Nazista, a mais
citada nos prontuários da polícia é
o Banco Alemão Transatlântico,
onde Otto Braun trabalhava.
O banco teria sido um dos principais caminhos para a entrada de
dinheiro no país para financiar as
atividades dos nazistas.
A polícia paulista da época também identificou uma célula militar
do partido, conhecida como SO.
Ela seria uma organização paramilitar que serviria como um exército reserva dos alemães dentro do
país. Os jovens da comunidade
que não tivessem condições de servir ao exército na própria Alemanha seriam obrigados a se apresentar, no Brasil, à SO.
Próximo Texto | Índice
|