São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2000

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ANÁLISE
Declarações dos eleitores mostram sinais de confusão

R. W. APPLE
DO "THE NEW YORK TIMES"

Depois de todos os dólares e todos os debates, todos os anúncios e todos os adjetivos, os EUA tiveram enorme dificuldade em se decidir.
E, assim, a corrida pela Presidência, que nas últimas semanas da campanha parecia sempre estar oscilando no fio da navalha, oscilou mais um pouco quando as urnas foram fechadas.
Nenhum tema nacional de grande impacto emergiu da votação, mas, quando os últimos votos foram tabulados, surgiram grandes questões.
1 - Já que nenhum dos candidatos conseguiu obter uma maioria popular grande e as urnas indicam que a disputa no Colégio Eleitoral também será acirrada, como o vencedor conseguirá liderar? Como mostrou o democrata John F. Kennedy ao vencer o republicano Richard Nixon por margem muito estreita, em 1960, o líder pode liderar independentemente da maioria que obteve, mas quem vence por margem muito estreita tem grande dificuldade em implementar programas legislativos amplos. Muitas das idéias da administração Kennedy só puderam ser realizadas plenamente após a vitória esmagadora de Lyndon B. Johnson, em 1964.
2 - Estará a política americana ingressando numa fase não-ideológica ou antiideológica? Há apenas seis anos os republicanos obtiveram o controle da Câmara, com base num programa radical de direita. Mas conseguiram implementar relativamente pouco desse programa. Nesta eleição, os candidatos tanto presidenciais quanto parlamentares, se esforçaram ao máximo para se aproximar do centro.
3 - O que o país quer? Os candidatos expuseram visões de governo muito diferentes. Gore declarou uma filosofia mais ativista do que Bush. Quando indagados que candidato compartilhava sua (dos eleitores) visão de governo, cerca de um terço dos eleitores apontou Gore, cerca de um terço, Bush, e o restante respondeu "ambos" ou "nenhum dos dois". No entanto, respondendo a outras perguntas, os entrevistados nas pesquisas de boca-de-urna disseram que queriam menos governo e que preferiam o crescimento econômico à proteção ambiental, outra visão de governo pequeno.
Bush recebeu os votos da maioria das pessoas que não gostam de Clinton, que tomaram sua decisão com base na personalidade do candidato e que queriam cortes de impostos iguais para todos os setores da sociedade. Não foi surpresa para ninguém. Gore teve o apoio daqueles que dão ênfase maior à experiência, domínio dos problemas, redução diferenciada nos impostos e promessas de reforma do sistema de saúde. Bush esperava que sua promessa de uma reforma radical do sistema previdenciário fosse bem recebida, mas ela pode ter assustado mais eleitores do que atraiu, especialmente na Flórida.
As respostas dos eleitores trazem sinais de confusão. Quase dois terços dos entrevistados na boca-de-urna disseram que o país está no rumo certo, e não no rumo errado. Em termos morais, porém, quase 60% afirmaram que o país está no rumo errado. Apesar disso, 6 em cada 10 eleitores disseram que ter um presidente que é bom administrador é mais importante do que ter um presidente que é um líder moral.
Muitos eleitores disseram que, depois de votar, ficaram em dúvida. Em vista dos sentimentos tão contraditórios expressos, isso não chega a surpreender.
Quatro em cada dez disseram ter dado seu voto sem reservas -não chega a ser um voto de confiança no candidato que escolheram. Cerca de metade dos eleitores disse que a perspectiva de Bush ou Gore na Presidência os deixa preocupados, senão alarmados.
Desde que Woodrow Wilson, antigo governador de Nova Jersey, chegou à Presidência, em 1916, sem vencer em seu próprio Estado, nenhum presidente americano é eleito sem vencer em seu Estado natal. Gore perdeu em seu Estado, o Tennessee. Bush ganhou no seu, o Texas.
A pesquisa também revelou mudanças nos padrões de formação de opinião. Mais de 60% dos entrevistados disseram usar a Internet regularmente. Quatro anos atrás, a Internet ainda não passava de curiosidade.
Um dos grandes vencedores dessa eleição foi a indústria das sondagens políticas. Durante semanas as sondagens discordaram entre si e apontaram grandes oscilações em alguns Estados. Sua metodologia foi questionada. Mas a maioria das sondagens finais, em muitos casos concluídas apenas no domingo ou segunda-feira, indicou resultados espantosamente próximos dos resultados reais, Estado por Estado.


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