|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Declarações dos eleitores mostram sinais de confusão
R. W. APPLE
DO "THE NEW YORK TIMES"
Depois de todos os dólares
e todos os debates, todos os
anúncios e todos os adjetivos, os
EUA tiveram enorme dificuldade
em se decidir.
E, assim, a corrida pela Presidência, que nas últimas semanas
da campanha parecia sempre estar oscilando no fio da navalha,
oscilou mais um pouco quando as
urnas foram fechadas.
Nenhum tema nacional de
grande impacto emergiu da votação, mas, quando os últimos votos
foram tabulados, surgiram grandes questões.
1 - Já que nenhum dos candidatos conseguiu obter uma maioria
popular grande e as urnas indicam que a disputa no Colégio
Eleitoral também será acirrada,
como o vencedor conseguirá liderar? Como mostrou o democrata
John F. Kennedy ao vencer o republicano Richard Nixon por
margem muito estreita, em 1960,
o líder pode liderar independentemente da maioria que obteve,
mas quem vence por margem
muito estreita tem grande dificuldade em implementar programas
legislativos amplos. Muitas das
idéias da administração Kennedy
só puderam ser realizadas plenamente após a vitória esmagadora
de Lyndon B. Johnson, em 1964.
2 - Estará a política americana
ingressando numa fase não-ideológica ou antiideológica? Há apenas seis anos os republicanos obtiveram o controle da Câmara,
com base num programa radical
de direita. Mas conseguiram implementar relativamente pouco
desse programa. Nesta eleição, os
candidatos tanto presidenciais
quanto parlamentares, se esforçaram ao máximo para se aproximar do centro.
3 - O que o país quer? Os candidatos expuseram visões de governo muito diferentes. Gore declarou uma filosofia mais ativista do
que Bush. Quando indagados que
candidato compartilhava sua
(dos eleitores) visão de governo,
cerca de um terço dos eleitores
apontou Gore, cerca de um terço,
Bush, e o restante respondeu
"ambos" ou "nenhum dos dois".
No entanto, respondendo a outras perguntas, os entrevistados
nas pesquisas de boca-de-urna
disseram que queriam menos governo e que preferiam o crescimento econômico à proteção ambiental, outra visão de governo
pequeno.
Bush recebeu os votos da maioria das pessoas que não gostam de
Clinton, que tomaram sua decisão com base na personalidade
do candidato e que queriam cortes de impostos iguais para todos
os setores da sociedade. Não foi
surpresa para ninguém. Gore teve
o apoio daqueles que dão ênfase
maior à experiência, domínio dos
problemas, redução diferenciada
nos impostos e promessas de reforma do sistema de saúde. Bush
esperava que sua promessa de
uma reforma radical do sistema
previdenciário fosse bem recebida, mas ela pode ter assustado
mais eleitores do que atraiu, especialmente na Flórida.
As respostas dos eleitores trazem sinais de confusão. Quase
dois terços dos entrevistados na
boca-de-urna disseram que o país
está no rumo certo, e não no rumo errado. Em termos morais,
porém, quase 60% afirmaram
que o país está no rumo errado.
Apesar disso, 6 em cada 10 eleitores disseram que ter um presidente que é bom administrador é
mais importante do que ter um
presidente que é um líder moral.
Muitos eleitores disseram que,
depois de votar, ficaram em dúvida. Em vista dos sentimentos tão
contraditórios expressos, isso não
chega a surpreender.
Quatro em cada dez disseram
ter dado seu voto sem reservas
-não chega a ser um voto de
confiança no candidato que escolheram. Cerca de metade dos eleitores disse que a perspectiva de
Bush ou Gore na Presidência os
deixa preocupados, senão alarmados.
Desde que Woodrow Wilson,
antigo governador de Nova Jersey, chegou à Presidência, em
1916, sem vencer em seu próprio
Estado, nenhum presidente americano é eleito sem vencer em seu
Estado natal. Gore perdeu em seu
Estado, o Tennessee. Bush ganhou no seu, o Texas.
A pesquisa também revelou
mudanças nos padrões de formação de opinião. Mais de 60% dos
entrevistados disseram usar a Internet regularmente. Quatro anos
atrás, a Internet ainda não passava de curiosidade.
Um dos grandes vencedores
dessa eleição foi a indústria das
sondagens políticas. Durante semanas as sondagens discordaram
entre si e apontaram grandes oscilações em alguns Estados. Sua
metodologia foi questionada.
Mas a maioria das sondagens finais, em muitos casos concluídas
apenas no domingo ou segunda-feira, indicou resultados espantosamente próximos dos resultados
reais, Estado por Estado.
Texto Anterior: Republicanos mantêm maioria no Congresso Próximo Texto: Hillary é presidenciável em 2004 Índice
|