São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2000

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Hillary é presidenciável em 2004

France Presse - 7.nov.2000
A senadora eleita Hillary Clinton faz seu discurso de vitória, observada por Bill Clinton e a filha


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Se o vice-presidente Al Gore for eleito, Hillary Clinton será o segundo nome mais forte do Partido Democrata. Se for George W. Bush o presidente, a atual primeira-dama será a democrata mais célebre no cenário político.
Em ambos os casos, ela pode concorrer com chances a uma indicação na corrida presidencial de 2004. A opinião é de analistas ouvidos pela Folha.
"Ela tem a máquina de fazer dinheiro azeitada nas mãos e sabe usá-la muito bem", disse Mitchel Moss, doutor em análise política da Universidade de Nova York.
Segundo ele, a senadora eleita conta com "Hollywood, os estúdios e Barbra Streisand, que levanta US$ 1 milhão cada vez que se dispõe a cantar para ela".
Roger Stone, estrategista do Partido Republicano em Nova York, concorda. "Realmente, ela só não será a candidata natural dos democratas à corrida presidencial de 2004 se não quiser".
Em entrevista ontem, Hillary disse que pretende cumprir seus seis anos de mandato no Senado.
Hillary Rodham Clinton, 53, foi eleita anteontem a primeira senadora pelo Estado de Nova York, derrotando o republicano Rick Lazio, 43, deputado federal por Long Island. É ainda a primeira mulher de um presidente a ser escolhida para um cargo eletivo.
A democrata ganhou por uma margem de vitória maior do que a prevista, 55% dos votos contra 43% do republicano. Há dois motivos para o êxito: a presença maciça dos eleitores da cidade de Nova York e a boa votação obtida no interior do Estado, reduto tradicionalmente republicano.
De fato, a eleição na cidade de Nova York teve 70% de presentes, um recorde recente. Destes, a primeira-dama obteve mais de 7 em cada 10 votos. Em 1996, apenas 56% foram às urnas. O voto não é obrigatório nos EUA.
Além disso, nos 16 meses que esteve em campanha, uma das mais longas na história, ela visitou todos os 62 condados (aglomeração de cidades sob um mesmo comando administrativo) do interior, o que batizou de "minha turnê de aprendizado".
"Senti nos últimos dias que o apoio nas cidades pequenas crescia", disse ontem. Ela teve 47% dos votos do interior, contra 50% de Lazio. O esperado era ao menos 70% para o republicano.
Já a derrota de Rick Lazio ganhou um pai logo após o encerramento das urnas. A mulher do governador do Estado, George Pataki (republicano), veio a público dizer que, se o prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, tivesse saído da campanha antes, Hillary não teria vencido.
"Saí da campanha assim que soube de minha doença", rebateu o republicano. O prefeito desistiu de concorrer ao Senado em maio, após anunciar que tinha câncer na próstata e iria se divorciar.
Outro calcanhar-de-aquiles apontado é que Lazio baseou toda a sua campanha no sentimento anti-Hillary entre os nova-iorquinos, que ele julgava mais forte do que se revelou nas urnas.
"É ingenuidade você achar que ganha uma eleição deste porte apenas dizendo que não é a Hillary Clinton", diz Julie Weprin, da TV VH1.
O voto anti-Hillary se revelou insuficiente: apenas 46% dos que escolheram Rick Lazio disseram estar protestando contra ela. Entre estes, os motivos citados foram o fato de não ser nova-iorquina e sua postura condescendente no escândalo Lewinsky.
Durante a campanha, Hillary não mascarou suas intenções nem o que pensava. Politicamente, ela está à esquerda de Bill Clinton. Sempre que perguntada, batia na mesma tecla de seu programa: direito ao aborto, reforma dos programas federais de educação, saúde e previdência e a manutenção dos direitos civis adquiridos.


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