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Briga com a mídia não mobiliza argentinos
Para profissionais do setor, população está indiferente a ameaças à liberdade de expressão no país, que podem piorar
Sociedade Interamericana de Imprensa, reunida em Buenos Aires, discute ainda conflitos na Venezuela, em Cuba e em outros países
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
Embora o governo argentino
dê sucessivas mostras da intenção de cercear meios de comunicação que lhe são incômodos,
a sociedade está apática em relação à ameaça de retrocesso
institucional no país.
Essa é a análise de profissionais do ramo sobre as condições para o desempenho do trabalho jornalístico na Argentina, feita na 65ª Assembleia da
SIP (Sociedade Interamericana
de Imprensa), que começou na
última sexta-feira e termina
amanhã, em Buenos Aires.
"A defesa da liberdade de imprensa não parece estar na
agenda social da região. É um
problema do traço cultural das
nossas sociedades, com democracias de baixa potência, submetidas aos métodos de censura e controle da imprensa",
afirmou Julio Blanck, editor-chefe do jornal "Clarín", o de
maior circulação no país.
O Grupo Clarín foi citado no
informe da delegação argentina
à Comissão de Liberdade de
Imprensa da SIP, que subsidiará o comunicado oficial da entidade. Diz o texto que o maior
conglomerado de mídia argentino sofre "perseguições" do
governo Cristina Kirchner,
com o propósito de "debilitá-lo
economicamente".
É uma referência à nova Lei
de Serviços Audiovisuais do governo, aprovada no mês passado. A lei fixa limites à propriedade de rádios e TVs e à participação no total do mercado. As
regras obrigarão o Clarín a se
desfazer de parte de seus negócios televisivos. O grupo questiona na Justiça a constitucionalidade da lei.
"A sociedade parece não se
importar com esse momento
especialmente arriscado", disse
o escritor Marcos Aguinis, autor de "Pobre Patria Mia" (ed.
Sudamericana), um autointitulado manifesto contra o legado
da era Kirchner.
Transparência
Para a jornalista Maria
O'Donnell, que investigou o
uso da verba oficial de publicidade sob Néstor Kirchner
(2003-2007), não há mobilização social "porque não fomos
abertos nessa discussão [relações imprensa-governo]".
O'Donnell afirmou que "ser
transparente sobre nossas práticas é muito útil, num contexto em que há muita confusão".
A jornalista citou o aumento da
verba oficial de publicidade
desde o início da gestão Néstor
Kirchner -US$ 11,3 milhões
em 2003 para US$ 262 milhões
neste ano- e defendeu o jornalismo profissional como a "única trincheira que temos".
Blanck alertou para o perigo
da autocensura por parte dos
jornalistas. "A autocensura é o
que favorece o desprestígio do
jornalismo. E é o luxo dos censores", disse.
Na tentativa de neutralizar o
impacto da assembleia da SIP,
o governo venezuelano promove hoje em Buenos Aires uma
"contracúpula". O evento tem
presença anunciada do ideólogo da Lei de Serviços Audiovisuais do governo argentino, Gabriel Mariotto, além de uma
passeata prevista pela cidade.
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