São Paulo, segunda-feira, 09 de novembro de 2009

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Briga com a mídia não mobiliza argentinos

Para profissionais do setor, população está indiferente a ameaças à liberdade de expressão no país, que podem piorar

Sociedade Interamericana de Imprensa, reunida em Buenos Aires, discute ainda conflitos na Venezuela, em Cuba e em outros países

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

Embora o governo argentino dê sucessivas mostras da intenção de cercear meios de comunicação que lhe são incômodos, a sociedade está apática em relação à ameaça de retrocesso institucional no país.
Essa é a análise de profissionais do ramo sobre as condições para o desempenho do trabalho jornalístico na Argentina, feita na 65ª Assembleia da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), que começou na última sexta-feira e termina amanhã, em Buenos Aires.
"A defesa da liberdade de imprensa não parece estar na agenda social da região. É um problema do traço cultural das nossas sociedades, com democracias de baixa potência, submetidas aos métodos de censura e controle da imprensa", afirmou Julio Blanck, editor-chefe do jornal "Clarín", o de maior circulação no país.
O Grupo Clarín foi citado no informe da delegação argentina à Comissão de Liberdade de Imprensa da SIP, que subsidiará o comunicado oficial da entidade. Diz o texto que o maior conglomerado de mídia argentino sofre "perseguições" do governo Cristina Kirchner, com o propósito de "debilitá-lo economicamente".
É uma referência à nova Lei de Serviços Audiovisuais do governo, aprovada no mês passado. A lei fixa limites à propriedade de rádios e TVs e à participação no total do mercado. As regras obrigarão o Clarín a se desfazer de parte de seus negócios televisivos. O grupo questiona na Justiça a constitucionalidade da lei.
"A sociedade parece não se importar com esse momento especialmente arriscado", disse o escritor Marcos Aguinis, autor de "Pobre Patria Mia" (ed. Sudamericana), um autointitulado manifesto contra o legado da era Kirchner.

Transparência
Para a jornalista Maria O'Donnell, que investigou o uso da verba oficial de publicidade sob Néstor Kirchner (2003-2007), não há mobilização social "porque não fomos abertos nessa discussão [relações imprensa-governo]".
O'Donnell afirmou que "ser transparente sobre nossas práticas é muito útil, num contexto em que há muita confusão". A jornalista citou o aumento da verba oficial de publicidade desde o início da gestão Néstor Kirchner -US$ 11,3 milhões em 2003 para US$ 262 milhões neste ano- e defendeu o jornalismo profissional como a "única trincheira que temos".
Blanck alertou para o perigo da autocensura por parte dos jornalistas. "A autocensura é o que favorece o desprestígio do jornalismo. E é o luxo dos censores", disse.
Na tentativa de neutralizar o impacto da assembleia da SIP, o governo venezuelano promove hoje em Buenos Aires uma "contracúpula". O evento tem presença anunciada do ideólogo da Lei de Serviços Audiovisuais do governo argentino, Gabriel Mariotto, além de uma passeata prevista pela cidade.


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