São Paulo, terça, 9 de dezembro de 1997.




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MUNDO ISLÂMICO
Irã recebe antigos inimigos na cúpula da Organização da Conferência Islâmica, que começa hoje
Irã rompe isolamento e recebe ex-rivais

das agências internacionais

O mundo islâmico está se unin do novamente, a contragosto dos interesses dos Estados Unidos. Es te é um dos principais recados que o Irã quer enviar ao Ocidente ao abrigar a oitava reunião de cúpula da Organização da Conferência Is lâmica (OCI), que começa hoje e durará três dias.
Representantes de 55 países de população islâmica -estima-se que existam 1,1 bilhão de muçul manos no mundo- estão em Tee rã (capital) para o encontro que discutirá sua situação no contexto internacional e fará considerações sobre 140 tópicos -entre os quais a questão palestina e de Jerusalém, o embargo econômico ao Iraque e à Líbia e a situação no Afeganistão.
A presença de líderes do Iraque, da Arábia Saudita e das monar quias petrolíferas do golfo Pérsico simboliza a retomada do diálogo no Oriente Médio. Desde a imple mentação do Estado teocrático iraniano, em 1979, a maior parte dos países da região, temendo a exportação da Revolução Islâmi ca, se afastaram do Irã.
À exceção da Síria, os países ára bes se perfilaram ao lado do Iraque durante a guerra contra o Irã (1980-88). O vice-presidente ira quiano, Taha Iassin Ramadan, foi enviado por Saddam Hussein a Teerã. Ele é o mais alto funcioná rio iraquiano a visitar o país desde o final do conflito.
O príncipe Abdulla, herdeiro do trono da Arábia Saudita, foi rece bido com beijos, ontem, pelo pre sidente iraniano, Mohammad Khatami. Há um ano, os sauditas -aliados dos EUA e maiores ex portadores mundiais de petró leo- mantêm conversas para me lhorar a relação com o Irã.
O líder palestino Iasser Arafat também comparece ao evento. Considerado pelo regime dos aia tolás como um traidor ao assinar os tratados de paz com Israel, Ara fat não viajava ao Irã havia 18 anos.
"Felizmente hoje, mais do que em qualquer momento, os países islâmicos estão se olhando olho no olho e chegando a um acordo so bre questões internacionais", de clarou o chanceler iraniano, Ka mal Kharrazi.
As maiores ausências da reunião são, até o momento, o presidente do Egito, Hosni Mubarak, o rei Hassan, do Marrocos, o rei Fahd, da Arábia Saudita, e o rei Hussein, da Jordânia.
Pertencem à OIC não apenas paí ses árabes. Nações da Ásia e da África -como Bangladesh, Indo nésia, Malásia, Gabão, Nigéria e Senegal- estão entre os 55 inte grantes representados na reunião.
Turquia e Israel
O presidente da Turquia, Suley man Demirel, também participa da reunião da OCI. Estará, porém, em situação desconfortável. Nos encontros que precederam o even to, os países islâmicos adotaram resoluções que condenam parce rias militares com Israel.
Estados árabes moderados inter vieram para que a Turquia não ti vesse seu nome citado no docu mento. Mas Demirel sabe que seu país, que assinou, em 96, acordos de cooperação militar com Israel, está na mira das críticas.
A Turquia, Estado de caráter lai co e população islâmica, parece não temer represálias. Ontem, re cebeu pela primeira vez um minis tro da Defesa de Israel, Yitzhak Mordechai, em Ancara (capital).
Foram discutidos projetos de ar mas e planejadas manobras navais conjuntas entre Israel, Turquia e Estados Unidos, marcadas para o próximo mês no mar Mediterrâ neo. "Nosso relacionamento é es tratégico, com o objetivo de nos fortalecer. Mas não nos unimos contra nenhum país de forma es pecífica", disse Mordechai.
A Turquia é membro da Otan, a aliança militar ocidental. Segundo tratado assinado em 1996, aviões de guerra israelenses têm permis são para treinar sobre território turco. Analistas dizem que há tam bém uma cooperação entre os ser viços de inteligência para troca de informação sobre inimigos co muns, caso da Síria, Iraque e Irã.



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