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MUNDO ISLÂMICO
Irã recebe antigos inimigos na cúpula da Organização da Conferência Islâmica, que começa hoje
Irã rompe isolamento e recebe ex-rivais
das agências internacionais
O mundo islâmico está se unin
do novamente, a contragosto dos
interesses dos Estados Unidos. Es
te é um dos principais recados que
o Irã quer enviar ao Ocidente ao
abrigar a oitava reunião de cúpula
da Organização da Conferência Is
lâmica (OCI), que começa hoje e
durará três dias.
Representantes de 55 países de
população islâmica -estima-se
que existam 1,1 bilhão de muçul
manos no mundo- estão em Tee
rã (capital) para o encontro que
discutirá sua situação no contexto
internacional e fará considerações
sobre 140 tópicos -entre os quais
a questão palestina e de Jerusalém,
o embargo econômico ao Iraque e
à Líbia e a situação no Afeganistão.
A presença de líderes do Iraque,
da Arábia Saudita e das monar
quias petrolíferas do golfo Pérsico
simboliza a retomada do diálogo
no Oriente Médio. Desde a imple
mentação do Estado teocrático
iraniano, em 1979, a maior parte
dos países da região, temendo a
exportação da Revolução Islâmi
ca, se afastaram do Irã.
À exceção da Síria, os países ára
bes se perfilaram ao lado do Iraque
durante a guerra contra o Irã
(1980-88). O vice-presidente ira
quiano, Taha Iassin Ramadan, foi
enviado por Saddam Hussein a
Teerã. Ele é o mais alto funcioná
rio iraquiano a visitar o país desde
o final do conflito.
O príncipe Abdulla, herdeiro do
trono da Arábia Saudita, foi rece
bido com beijos, ontem, pelo pre
sidente iraniano, Mohammad
Khatami. Há um ano, os sauditas
-aliados dos EUA e maiores ex
portadores mundiais de petró
leo- mantêm conversas para me
lhorar a relação com o Irã.
O líder palestino Iasser Arafat
também comparece ao evento.
Considerado pelo regime dos aia
tolás como um traidor ao assinar
os tratados de paz com Israel, Ara
fat não viajava ao Irã havia 18 anos.
"Felizmente hoje, mais do que
em qualquer momento, os países
islâmicos estão se olhando olho no
olho e chegando a um acordo so
bre questões internacionais", de
clarou o chanceler iraniano, Ka
mal Kharrazi.
As maiores ausências da reunião
são, até o momento, o presidente
do Egito, Hosni Mubarak, o rei
Hassan, do Marrocos, o rei Fahd,
da Arábia Saudita, e o rei Hussein,
da Jordânia.
Pertencem à OIC não apenas paí
ses árabes. Nações da Ásia e da
África -como Bangladesh, Indo
nésia, Malásia, Gabão, Nigéria e
Senegal- estão entre os 55 inte
grantes representados na reunião.
Turquia e Israel
O presidente da Turquia, Suley
man Demirel, também participa
da reunião da OCI. Estará, porém,
em situação desconfortável. Nos
encontros que precederam o even
to, os países islâmicos adotaram
resoluções que condenam parce
rias militares com Israel.
Estados árabes moderados inter
vieram para que a Turquia não ti
vesse seu nome citado no docu
mento. Mas Demirel sabe que seu
país, que assinou, em 96, acordos
de cooperação militar com Israel,
está na mira das críticas.
A Turquia, Estado de caráter lai
co e população islâmica, parece
não temer represálias. Ontem, re
cebeu pela primeira vez um minis
tro da Defesa de Israel, Yitzhak
Mordechai, em Ancara (capital).
Foram discutidos projetos de ar
mas e planejadas manobras navais
conjuntas entre Israel, Turquia e
Estados Unidos, marcadas para o
próximo mês no mar Mediterrâ
neo. "Nosso relacionamento é es
tratégico, com o objetivo de nos
fortalecer. Mas não nos unimos
contra nenhum país de forma es
pecífica", disse Mordechai.
A Turquia é membro da Otan, a
aliança militar ocidental. Segundo
tratado assinado em 1996, aviões
de guerra israelenses têm permis
são para treinar sobre território
turco. Analistas dizem que há tam
bém uma cooperação entre os ser
viços de inteligência para troca de
informação sobre inimigos co
muns, caso da Síria, Iraque e Irã.
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