São Paulo, terça, 9 de dezembro de 1997.




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AQUECIMENTO GLOBAL
O vice-presiden te, Al Gore, em Kyoto, anuncia também flexibili zação da posição de seu país
EUA exigem compromisso do 3º Mundo

RICARDO BONALUME NETO
enviado especial a Kyoto


O vice-presidente dos EUA, Al Gore, anuncio ontem em Kyoto (Japão) uma flexibilização da posição de seu país, mas continuou a exigir que os países em desenvolvimento limitem a emissão de seus gases-estufa.
A rápida passagem do vice-presidente deu um novo fôlego às negociações sobre a redução de gases que causam o aquecimento global, o chamado efeito estufa.
Mas a iniciativa veio muito em cima hora, pois a conferência termina amanhã. Talvez não haja tempo útil para se chegar a um acordo satisfatório para todos os 166 países presentes, apesar de as negociações terem continuado por dentro da madrugada.
O acúmulo desses gases-estufa aumenta a temperatura do planeta, criando com isso, a longo prazo, distúrbios climáticos variados -até mesmo um possível "esfriamento" glacial da Europa.
O discurso de Gore não agradou totalmente nem ao lobby industrial americano, nem aos ambientalistas ou aos congressistas de seu país -mas abriu uma "janela de oportunidade", nas palavras de um diplomata europeu, para que se possa chegar a um protocolo ou outro instrumento legal para reduzir as emissões dos gases.
"Estou instruindo nossa delegação agora para que mostre uma flexibilidade de negociação maior se um plano abrangente puder ser obtido, um com objetivos e prazos realistas, mecanismos de mercado, e uma participação significativa dos principais países em desenvolvimento", disse Gore.
A declaração abriu uma brecha para um acordo que contemple alguma ação a longo prazo dos países do Terceiro Mundo, sem ferir a letra do que fora decidido em Berlim em 1995 -que esses países ainda não teriam compromissos de redução de gases.
Ontem, foi a vez de o presidente Bill Clinton sair em defesa de sua posição. Clinton ligou para seus colegas Fernando Henrique Cardoso, Carlos Menem (Argentina), Fidel Ramos (Filipinas) e Benjamin William Mkapa (Tanzânia).
"Os telefonemas foram uma conversa franca com as nações em desenvolvimento sobre alguns dos pontos que estão sendo debatidos em Kyoto", disse Mike McCurry, porta-voz da Presidência.
O Congresso dos EUA é contra um acordo que não preveja um maior compromisso de países em desenvolvimento como China, Índia, Brasil e México.
O senador Robert Byrd (democrata por Virgínia Ocidental), comentando o discurso de Gore, afirmou que vai ser "provavelmente impossível" conseguir um acordo incluindo os principais emissores do Terceiro Mundo. "Qualquer acordo a que se chegue em Kyoto provavelmente não será completo o suficiente para aprovação pelo Senado", declarou Byrd.
Gore disse estar certo de que um eventual acordo será ratificado pelo Congresso. A posição básica dos EUA é reduzir suas emissões em 30% entre 2008 e 2012 -isto é, pelas projeções de crescimento da economia, equivalendo a uma estabilização nas emissões de 1990.
Já os europeus continuavam a pressionar por compromissos dos EUA semelhantes aos seus -redução de 15% dos gases em 2010. Um dos mais críticos foi Svend Auken, ministro do Ambiente e Energia da Dinamarca. Para ele, em vez de prejuízo econômico, a redução das emissões "é um incentivo para novas tecnologias". Auken disse que a Dinamarca pretende ir além das metas da União Européia -menos 20% em 2005, menos 25% em 2010, e menos 50% das emissões em 2050.



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