São Paulo, terça, 9 de dezembro de 1997.




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Clima de revolta permanece em Gaza, uma década após o início da revolta palestina
Geração da Intifada não tem mais alvos

SÉRGIO MALBERGIER
da Redação

Quando, há exatamente dez anos, um caminhão militar israelense atropelou e matou quatro palestinos na faixa de Gaza, o incidente serviu como estopim para combates entre jovens palestinos e as tropas da ocupação israelense.
Diferentemente de incidentes anteriores, os confrontos foram de intensidade maior e mais duradouros. A revolta das pedras, ou Intifada, durou seis anos.
Até israelenses e palestinos assinarem os primeiros acordos de paz, em 1993.
As crianças palestinas, nascidas já sob a ocupação israelense, encontraram nas pedras a única forma de expressar a sua fúria.
O que a liderança palestina no exílio e os Exércitos árabes não conseguiram, foi realizado por jovens desiludidos, em condições miseráveis, que viam seus pais serem humilhados diariamente pelo Exército ocupante.
A Intifada foi a primeira manifestação dentro dos territórios ocupados a abalar de forma duradoura a rotina da ocupação israelense, iniciada em 1967.
Durante seis anos, os confrontos envolvendo vítimas em Gaza foram quase diários. Os soldados desciam de seus jipes, sob uma chuva intensa de pedras, e apontavam suas metralhadoras e fuzis automáticos contra crianças.
Os mortos entre os palestinos passaram de 1.000. Entre os israelenses, chegaram a 300.
Mas a Intifada não gerou líderes carismáticos ou aparentes. Sob a mira dos serviços secretos israelenses, quem se destacasse era imediatamente preso, exilado ou levado à clandestinidade.
Gaza continua quase tão miserável quanto antes. Os bilhões de dólares prometidos pelos países ricos na época dos acordos de paz não chegaram.
Mas os alvos de outrora -as onipresentes patrulhas israelenses- não circulam mais. Israel desocupou todas as grandes cidades de Gaza e Cisjordânia, exceto setores judaicos de Hebron.
As patrulhas agora são feitas pelas forças de segurança palestinas, um emaranhado de agrupamentos militares autônomos, subordinados somente a Iasser Arafat (presidente da Autoridade Nacional Palestina).
Os alarmistas temem que, se houver uma nova Intifada, ela será armada, realizada pela guarda palestina.
Na época da Intifada, psicólogos e educadores previram que a "geração das pedras" estaria deformada para sempre. Ela está crescendo e vendo o processo de paz definhar. Não é um bom sinal.



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