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WORLD TRADE CENTER
Grávidas que perderam os maridos em 11 de setembro vivem sentimento dúbio de alegria e tristeza
Mulheres esperam filhos órfãos de pai
MIREYA NAVARRO
DO "THE NEW YORK TIMES", EM NOVA YORK
Depois de três gravidezes que
não foram para a frente, José e
Paulina del Carmen Cardona estavam eufóricos no final do verão,
quando os meses se sucediam e
cada consulta com o médico do
pré-natal lhes trazia apenas boas
notícias sobre o bebê.
"Pergunte ao médico se é realmente menino", disse Cardona
naquela manhã de setembro,
quando a mulher se arrumava para ir ao médico e ele partia para fazer seu turno, das 7h30 às 15h30,
de escriturário na Carr Futures,
no World Trade Center.
O bebê é menino, sim, e seu nascimento está previsto para janeiro. Mas, ao lado da alegria, será
ocasião, também, de tristeza quase insuportável. Paulina Cardona
estava fazendo um exame médico
quando uma enfermeira entrou
na sala para anunciar que um segundo avião se chocara com as
torres gêmeas. O marido dela foi
uma das milhares de pessoas que
desapareceram.
Agora Paulina é uma das dezenas de viúvas que equilibram nascimento com morte, indagando-se com quem ela vai gritar ou em
quem vai segurar, buscando
apoio, durante o parto. Ou, ainda,
como ela vai fazer quando a criança varar a noite chorando e o que
ela dirá, anos depois, quando seu
filho lhe perguntar sobre o pai que
jamais terá conhecido.
"Eu o sinto chutando aqui dentro. Fico feliz, mais depois me sinto triste", contou Cardona, 33, falando do filho que leva no ventre.
"Quando estou triste demais, rezo
a Deus, pedindo que me torne forte como uma rocha. Mas às vezes
eu não aguento. Choro muito."
As organizações que prestam
assistência aos sobreviventes das
vítimas dos ataques, como a Cruz
Vermelha e o Fundo de Órfãos
das Torres Gêmeas, dizem não saber ao certo quantos dos mortos
deixaram viúvas grávidas, mas
acredita-se que seja um número
substancial. A maioria das vítimas
do World Trade Center era formada por homens na casa dos 30
ou 40 anos, muitos casados.
Algumas das viúvas dizem ter
consciência de que muitas pessoas as vêem com pena, até mesmo horror. "As pessoas olhavam
para mim e começavam a chorar", contou Jennifer Brennan, 31
anos, de Westchester County, Nova York, que estava grávida de sete meses quando perdeu o marido, Thomas, banqueiro de investimentos com a Sandler O'Neill &
Partners. Brennan conta que, nos
dias que se seguiram aos ataques,
"fiquei praticamente em prisão
domiciliar, porque ninguém queria me deixar sozinha. As pessoas
achavam que eu entraria em trabalho de parto".
Brennan, que também tem uma
filha de 20 meses de idade, mal tinha desfeito as malas -tinha se
mudado para uma casa nova em
agosto. Agora, tendo ao lado o filho Thomas Jr., nascido em 24 de
outubro, ela pretende mudar de
novo, desta vez para mais perto de
sua família. O bebê precisou ser
submetido a uma cirurgia cardíaca depois de nascer, mas se recuperou bem, diz ela.
No entanto, por mais que sua situação seja difícil, ela e outras viúvas disseram que se sentem abençoadas por ter seus bebês.
Kimberly Young Statkevicus, 31
anos, de Norwalk, Connecticut,
espera seu filho para janeiro e disse estar feliz porque seu filho mais
velho terá um irmãozinho. Ela
conta que foi difícil chorar a morte de seu marido, Derek, analista
de ações que trabalhava para a
Keefe, Bruyette & Woods, porque
ela estava tentando ficar forte
diante de Tyler, 15 meses de idade,
que pegou o hábito de tirar o retrato do pai da estante e beijá-lo.
"Embora algumas pessoas
achem minha situação terrível
-dois filhos com apenas um ano
e meio de diferença em suas idades, sem pai-, acho uma bênção
que eles terão um ao outro", contou Statkevicus. Mesmo assim, ela
disse que é realista. "Acho que vai
ser mais difícil quando o nenê
nascer", explicou. "Afinal, vou
encarar a parada sozinha."
Sonia Morron, 41 anos, perdeu
seu marido, o segurança Jorge,
quando estava grávida de três meses, e disse que, depois dos ataques, o bebê era a única alegria de
sua vida. Sua gravidez já era considerada de alto risco, e, pouco depois de 11 de setembro, ela começou a sofrer ataques de pânico e
pesadelos que a deixavam tremendo e encharcada de suor gelado. Um dia ela chegou a ficar cega
por alguns segundos. "Eu dizia a
meu filho: "Papai não está conosco, mas você, sim. Não vá embora,
você é a melhor coisa que tenho"."
Mas, no dia 4 de outubro, ela
perdeu o bebê. "Me senti como se
outra torre tivesse caído em cima
de mim", disse Morron. Ela fez
questão de um enterro completo,
porque, como explicou, "naquele
pedacinho de ser humano meu
marido está presente". Mandou
rezar uma missa para seu marido
e o "bebê Morron", como diziam
os cartões, e ergueu um túmulo
onde visita a ambos.
Tradução de Clara Allain
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