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ORIENTE MÉDIO
Com o líder palestino em xeque devido ao terrorismo, vários grupos já se credenciam ao seu posto
Crise arma tabuleiro da sucessão de Arafat
MARCELO STAROBINAS
DE LONDRES
Pesquisas de opinião e protestos
nas ruas da faixa de Gaza e da Cisjordânia apontam os extremistas
islâmicos do Hamas como a facção mais popular no momento
entre os palestinos. Segundo analistas, porém, engana-se quem
pensa que o grupo, que prega a
destruição do Estado de Israel,
chegaria ao poder em caso de colapso da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e de queda de seu
presidente, Iasser Arafat.
"Os nacionalistas [bloco identificado com o Fatah, partido de
Arafat" ainda têm o controle e a
legitimidade internacional, controlam os recursos e são mais fortes", disse à Folha, por telefone, o
palestino Khalil Shikaki, diretor
do Centro Palestino para Pesquisa Política e de Opinião. "O Hamas e o Jihad Islâmico são uma
ameaça a longo prazo. Talvez
dentro de dois anos tenham condições de se tornar governo."
Os acontecimentos dos últimos
dias alimentaram novas discussões sobre como será a era pós-Arafat. Israel lançou, na semana
passada, pesada campanha militar contra a ANP, em retaliação a
atentados suicidas que deixaram
25 mortos em Jerusalém e Haifa.
O premiê Ariel Sharon acusa
Arafat de fomentar o terrorismo e
exige que suas forças de segurança prendam os responsáveis pelos
ataques. Alguns ministros de seu
governo chegaram a defender a
eliminação do líder palestino.
Parte do gabinete israelense, incluindo o chanceler Shimon Peres, e líderes da União Européia
argumentam que a estratégia de
Sharon é perigosa. Arafat seria o
único parceiro possível para as
negociações de paz; minar seu poder ou derrubá-lo alçaria os extremistas islâmicos ao comando.
"A idéia de uma tomada do poder pelos radicais é absurda", observa o cientista político israelense Barry Rubin, vice-diretor do
Centro Begin-Sadat para Estudos
Estratégicos. "Basta observar o tamanho das forças nacionalistas e
as pesquisas de opinião. Mas isso
não significa que o Fatah ou a
OLP (Organização para a Libertação da Palestina) sejam "moderados". Esses grupos declararam
guerra contra Israel."
A incerteza sobre o futuro político dos palestinos é reforçada pela ausência de instrumentos legais
para a sucessão de Arafat. Interpretações contraditórias apontam para diferentes líderes da "velha guarda" da OLP, que acompanharam Arafat no exílio.
Segundo um projeto de lei, o
presidente do Conselho Legislativo Palestino, Ahmed Qurei (Abu
Alá), seria o sucessor direto de
Arafat, por período temporário.
Outros vêem Mahmoud Abbas
(Abu Mazen), secretário-geral da
OLP, como o futuro líder.
A ascensão de qualquer um deles significaria uma continuidade
política e agradaria a Israel -ambos participaram ativamente do
processo de paz dos anos 90. Nenhum deles, porém, tem apoio
popular e, segundo os analistas,
dificilmente conseguiriam se estabelecer na direção da ANP.
Rubin, que está escrevendo
uma biografia de Arafat, diz ser
precipitada essa discussão. Ao seu
ver, "Arafat ficará no poder até
morrer". O que, em todo caso, poderia acontecer dentro de não
muito tempo -aos 72 anos, sua
saúde está debilitada.
De acordo com sondagens recentes, em Ramallah, desde o início da Intifada (setembro de
2000), o apoio ao Hamas saltou de
23% para 31% da população. No
mesmo período, a aprovação ao
Fatah caiu de 33% para 20%.
Mais que o crescimento da influência interna dos extremistas
islâmicos, esses números revelam
que praticamente metade dos palestinos dos territórios não se
identifica nem com o Hamas nem
com "velha guarda" do Fatah.
"Jovem guarda"
Essas pessoas poderiam formar
a base da legitimidade de novos líderes do bloco nacionalista. Um
deles é Marwan Barghouti, líder
do Fatah na Cisjordânia e um dos
coordenadores dos protestos
contra a presença de tropas israelenses nos territórios ocupados.
Com o caos nas ruas e enterros
diários das mais de 700 vítimas
palestinas nos 14 meses de confronto, Barghouti, assim como
uma série de "chefes guerreiros"
regionais, passaram a agir com independência em relação ao poder
central da ANP.
Os chefes dos serviços de segurança de Arafat também se credenciaram como postulantes na
sucessão. Mohammed Dahlan,
comandante na faixa de Gaza, e Jibril Rajoub, na Cisjordânia, são,
nas palavras de Shikaki, "os jovens líderes que a velha guarda
conseguiu integrar ao processo
político e à ANP".
O cenário de transição mais
provável é o de uma disputa interna entre as facções do Fatah para
escolher o novo líder. Para Shikaki, os primeiros dias da era pós-Arafat possivelmente serão marcados por "anarquia" e, possivelmente, "violência" (leia abaixo).
Já Rubin espera uma transição
sem derramamento de sangue,
mas afirma que a sucessão se dará
após um processo dentro do próprio Fatah, do qual o Hamas estará excluído.
Esses argumentos são compartilhados pelo círculo próximo a
Sharon. O premiê não acredita
que o Hamas seja a única alternativa a Arafat. Por essa razão, já não
o vê como alguém a ser mantido
no comando a qualquer preço.
Os opositores a essa aparente
reviravolta estratégica esboçada
por Sharon tentam demovê-lo de
uma ação definitiva contra Arafat.
Dizem que, apesar do cansaço em
Israel com as múltiplas faces de
Arafat -pacifista, para a comunidade internacional; chefe guerreiro, para os palestinos-, os líderes da "jovem guarda" seriam
mais radicais que o atual presidente em futuras negociações.
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