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VENEZUELA
Com popularidade em queda, presidente enfrenta amanhã, durante o locaute dos empresários, seu maior teste
Protesto contra Chávez divide Caracas
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A CARACAS
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, vive seu pior momento em três anos de governo e classificou dezembro como o "mês da
batalha". A "batalha", porém, é
principalmente de ruídos.
Os opositores fazem um "panelaço" sempre que o presidente fala pela televisão, e os aliados retribuem com foguetórios. O risco é
começar a pancadaria nas ruas.
Caracas, hoje, é uma cidade
conflagrada. Os líderes da poderosa Fedecámaras (a principal
central patronal) obtiveram apoio
da CVT (a maior confederação de
trabalhadores) para o "paro" (locaute) que convocaram para todo
o país amanhã. Os partidários de
Chávez reagem com focos de manifestações por toda parte.
As relações de Chávez com os
empresários nunca foram boas,
mas pioraram de vez com a edição principalmente de três das 49
leis aprovadas em regime especial
que o Congresso concede ao presidente. Foram as leis da reforma
agrária, da pesca e do petróleo.
A lei da reforma agrária estabelece um recadastramento geral de
terras, pois Chávez desconfia que
muitos latifúndios foram na verdade forjados. E permite a expropriação no caso de terras improdutivas acima de 5.000 hectares.
A lei da pesca veta o uso do sistema de "arrastão" porque ele não
respeita filhotes e espécies em
épocas reprodutivas.
E a reforma do petróleo garante
a participação do Estado em 51%
de todas as atividades relacionadas ao óleo, desde a exploração
até o refino, e aumenta os royalties pagos ao governo.
As críticas empresariais são
duas. Uma, de ordem política:
Chávez estaria sendo "autoritário" ao tomar decisões drásticas
sem consultas reais à sociedade
nem votações com quóruns tradicionais no Congresso. Outra, de
ordem econômica: julgam que
seus interesses estão sendo prejudicados e que o presidente assusta
os investidores internacionais.
Se os empresários fecham suas
fábricas em sinal de protesto por
12 horas amanhã, Chávez continua recorrendo à sua declinante,
mas ainda robusta, popularidade.
Segundo pesquisa do Instituto
Venezuelano de Análise de Dados, a gestão do presidente tem
4,3% de excelente, 15,4% de boa e
34,8% de regular a boa. Tudo somado, são 54,5% de aprovação.
Para os adversários, Chávez está
em franco declínio: ao tomar posse, em fevereiro de 1999, tinha
90% de aprovação. Para os aliados, ele mantém um índice invejável para um governante há três
anos no poder. Questão de ótica.
Ontem, Chávez reuniu centenas
de representantes indígenas (até
do Acre, no Brasil) no Panteão da
Pátria, centro da cidade. Hoje, é a
vez dos camponeses. Amanhã,
dia do seu grande teste, ele pretende colocar nas ruas partidários
com chapéus vermelhos e bandeiras do país. E, nos ares, aviões sobrevoando a capital, sob pretexto
do Dia Nacional da Aviação.
Faixas principalmente simpáticas a Chávez colorem as ruas próximas ao Congresso e ao palácio
presidencial: "Por Deus! Deixem
o presidente trabalhar", "Contra a
conspiração", "O povo exige estado de exceção".
A grande preocupação, sobretudo da poderosa Igreja Católica
local, crítica de Chávez, era com
confrontos abertos entre os dois
grupos. Líderes da igreja pedem
que os cidadãos exerçam seu "legítimo direito de manifestação"
sem violência. Chávez assumiu
um discurso de pacificação, conclamando "ao entendimento e ao
diálogo" e pedindo um recuo da
Fedecámaras. Em vão.
O presidente da entidade, Pedro
Carmona, pede uma "retificação
de rumos" e acusa o governo de
"trilhar um caminho que leva à
miséria e ao desemprego".
A Venezuela deve repetir neste
ano o crescimento de 3,2% do ano
passado, apesar das crises internacionais e da queda do preço do
petróleo, responsável por mais de
70% da economia do país.
Em setembro de 2000, o barril
do petróleo do tipo brent (cru)
custava US$ 34,50 em Londres.
Está, agora, em US$ 19,29. Mas,
segundo Chávez, se ficar em US$
20 já é suficiente para manter a
perspectiva de mais de 3% de
crescimento neste ano.
A crise, portanto, é principalmente nas relações entre um empresariado mal-acostumado e um
presidente que se julga dono da
verdade. Nem ele aceita a elite,
nem é aceito por ela.
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