São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2001

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FRANÇA

Por ser militar, a força policial não poderia realizar manifestações; atos reforçam crise do setor público no governo Jospin

Gendarmes exigem reajuste salarial em protestos inéditos

DO "THE INDEPENDENT", EM PARIS

Em um ato sem precedentes de desafio a seu status militar, gendarmes se manifestaram nas ruas de Paris anteontem pela primeira vez, exigindo melhores salários e condições de trabalho.
O protesto provocou um breve confronto entre os gendarmes -uniformizados e dirigindo carros, motocicletas e vans da Gendarmaria- e uma fileira das tropas de choque (CRS), portando escudos, que pertencem a outra força, a Police Nationale.
Não há empatia entre as duas, as principais organizações policiais francesas. A CRS se recusou a deixar seus "colegas" manifestantes passarem pela avenida Grande Armée até o Arco do Triunfo. Os 500 manifestantes uniformizados tiveram de fazer um caminho diferente para a sede regional da Gendarmaria, em Les Invalides.
Em teoria, os gendarmes, que fazem parte do Exército francês, não podem fazer greve, manifestações ou se sindicalizar. Os protestos de anteontem deram continuidade a eventos menores em cidades do interior durante a semana e são parte de uma série de desafios do setor público ao governo de centro-esquerda de Lionel Jospin antes das eleições de 2002.
Elas também são um sintoma de um problema maior nos pouco convencionais sistemas policial e judiciário da França, que levam alguns analistas a pedir que todo o aparato de investigações policiais e jurídicas seja reconsiderado.
No mês passado, foram os membros da Police Nationale -a força administrada por civis que opera em cidades e vilarejos- que estavam pedindo melhores salários, mais oficiais e a rejeição de uma lei que limita os poderes do Estado para prender pessoas sem acusação. A maior parte dos sindicatos policiais parece ter sido "comprada" com um bônus mensal equivalente a R$ 245.
Os 100 mil gendarmes, que operam majoritariamente nas áreas rurais, reclamam que são mais mal remunerados do que a polícia, que tem jornada de trabalho mais extensa e que atua num mundo cada vez mais violento.
No sudoeste da França, nas últimas três semanas, houve três episódios em que atiraram em gendarmes, dos quais um morreu.
O salário inicial do gendarme é o equivalente a R$ 2.450 por mês (no Estado de São Paulo, o piso dos policiais militares varia de R$ 1.000 a R$ 1.150, dependendo do número de habitantes da cidade).
Devido à regra militar que proíbe manifestações, os gendarmes não participaram dos protestos policiais na semana passada, mandando em seu lugar suas mulheres, que usavam os quepes típicos da Gendarmaria.
Na semana passada, os gendarmes engoliram seu orgulho e sua disciplina militar e encheram as ruas de Paris, pela primeira vez na história da França.



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