São Paulo, segunda-feira, 09 de dezembro de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Após manifestações, político questiona poder dos clérigos no país

Parlamentar pede referendo no Irã

DA REDAÇÃO

Um parlamentar reformista do Irã pediu ontem a convocação de um referendo sobre o poder exercido por clérigos conservadores não eleitos, um dia depois de uma manifestação pró-reformas em Teerã, a capital iraniana, ter atraído cerca de 8.000 pessoas.
A manifestação de anteontem, na Universidade de Teerã e em suas vizinhanças, mostrou que iranianos comuns estão dispostos a engrossar as passeatas pró-reformas, que, nos últimos três anos, contavam apenas com a participação de estudantes. Cerca de 70% dos 65 milhões de iranianos têm menos de 30 anos.
Os manifestantes, que entraram em choque com a polícia, pediam a libertação de presos políticos e gritavam "morte à ditadura", em contraste com os antigos lemas da Revolução Islâmica de "morte à América" e "morte a Israel".
Cerca de 200 pessoas foram detidas no protesto de anteontem, das quais cerca de 30 permaneciam sob custódia policial ontem, disse Ali Taala, diretor-geral do Departamento de Segurança e Assuntos Políticos do gabinete do governador de Teerã.
As manifestações de anteontem foram as maiores em duas semanas de protestos quase diários provocados pela condenação à morte do professor universitário reformista Hashem Aghajari, que questionara o fato de as escrituras sagradas do islã só poderem ser interpretadas pelos clérigos.
Segundo Taala, a maioria dos manifestantes foi às ruas após convocações em emissoras de TV iranianas baseadas nos EUA, que se opõem ferozmente ao poder dos clérigos muçulmanos no Irã.
As emissoras, apesar de serem ilegais no país, são muito populares entre iranianos, que recebem seu sinal por antenas parabólicas -também proibidas no Irã, mas amplamente disponíveis.
Os protestos, antes restritos às universidades, refletem o aumento da tensão no Irã, onde o presidente moderado Mohammad Khatami encontra forte resistência dos conservadores para introduzir as reformas que prometeu em sua campanha.
Centenas de estudantes realizaram passeatas pequenas e pacíficas em duas universidades de Teerã ontem.

Referendo
O parlamentar reformista Rajabali Mazrouei pediu o referendo em sessão do Parlamento transmitida ao vivo pela rádio estatal.
"Se vocês acreditam que o povo os apóia", disse Mazrouei, dirigindo-se aos conservadores, "então vamos convocar um referendo e permitir que o povo determine seu próprio destino".
O pronunciamento foi aplaudido pela maioria reformista do Parlamento, mas cerca de dez parlamentares de linha dura deixaram o plenário. "Você é um idiota", gritou Mohammad Mohammadi à Mazrouei.
Apesar da popularidade dos reformistas, os conservadores dominam postos para os quais não há eleição, como os do Judiciário e os das forças de segurança, além do de líder supremo (acima de Khatami), ocupado pelo aiatolá Ali Khamenei. Com isso, impedem mudanças no país islâmico.
Analistas políticos afirmam que as manifestações recentes da oposição, embora sejam as maiores dos últimos tempos, ainda são muito pequenas para abalar o poder dos conservadores.


Com agências internacionais


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