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São Paulo, terça-feira, 09 de dezembro de 2003

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Tempo para acordo de paz está no fim, diz Peres

BERNA G. HARBOUR
DO "EL PAÍS", EM MADRI

O ex-premiê israelense Shimon Peres -contemplado com o Prêmio Nobel da Paz em 1994, após assinar o acordo de Oslo e levar a esperança de paz ao Oriente Médio- acaba de completar 80 anos e ainda espera ver a situação se acalmar na região.
Ele culpa os EUA e a Europa pelo impasse em que atolou o chamado "mapa do caminho" e afirma que o tempo para alcançar um acordo está chegando ao fim para todos. Acompanhado pelo embaixador israelense na Espanha, Victor Harel, Peres concedeu a seguinte entrevista ao "El País", em Madri.

Pergunta - Por que o sr. não concorda com o Acordo de Genebra?
Peres -
Não sou contra. Foi uma iniciativa positiva. Ela veio mostrar que existe uma parte no lado árabe com a qual podemos dialogar e chegar a um acordo, e também que, teoricamente, o acordo é possível. Pessoalmente, porém, prefiro o "mapa do caminho", porque talvez seja menor em termos de detalhes e maior em matéria de apoio. Para fazer a paz, é preciso ter a maioria. Com o "mapa do caminho", acho que poderíamos consegui-la.

Pergunta - O Acordo de Genebra acabou obtendo mais apoio do que qualquer lado imaginava: Tony Blair, Vladimir Putin, Jacques Chirac e até mesmo os EUA.
Peres -
Sim, mas nem os EUA nem a Rússia podem tomar decisões pelas partes envolvidas. Podem apoiar, sugerir, mas não substituir.

Pergunta - E o senhor crê que o "mapa do caminho" tenha o apoio real da sociedade israelense e da sociedade palestina?
Peres -
Tem o apoio da direita e da esquerda em Israel, logo, claramente, tem o apoio maior.

Pergunta - A realidade é que não funciona. De quem é a culpa?
Peres -
O Quarteto [EUA, União Européia, Rússia e ONU] se pôs de acordo sobre o projeto e depois, quando chegou a hora de levá-lo adiante, desapareceu. A divisão entre Europa e América é muito negativa, porque para a paz precisamos de uma posição harmoniosa entre eles. E, para reviver o "mapa do caminho", o Quarteto precisa se reunir e decidir sobre ações concretas a empreender.

Pergunta - O sr. acha que o Israel não tomou as medidas necessárias para facilitar a paz?
Peres -
Acho que nenhuma das partes apoiou seriamente o ex-premiê [palestino] Abu Mazen. Existem boas e más notícias em toda situação: a boa é que os palestinos compreenderam que não podem continuar do jeito como estão para sempre. Se o fizerem, entrarão definitivamente para o mundo do terrorismo. Hoje o mundo já não se divide entre Ocidente e Oriente, norte ou sul. Você é terrorista ou não é terrorista. Se os palestinos não o fizerem, farão parte do bando dos terroristas. Muitos já se deram conta disso, são inteligentes.
Em Israel, o fato de o [partido] Likud ter aberto mão da Grande Israel é um fato importante, ao menos teoricamente. Acredito que o custo da Intifada e da piora da situação econômica já esteja alto demais para os dois lados.
Outro fato importante é que as partes já não têm tanto tempo. Os palestinos porque, como eu já disse, se continuarem com o terror, perderão sua oportunidade. E os israelenses porque, se não admitirmos a declaração de um Estado palestino, perderemos a maioria demográfica. De cada cem crianças, 60 são palestinas e 40, judias. Também a situação econômica, a crítica internacional e a situação no Oriente Médio, com um Irã que pode ter a bomba atômica dentro de três anos... Tudo isso faz com que não tenhamos muito tempo. Logo, são essas as boas notícias. As más são que ninguém demonstra uma vontade real de passar da necessidade compreendida para a ação necessária.


Tradução de Clara Allain


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