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Tempo para acordo de paz está no fim, diz Peres
BERNA G. HARBOUR
DO "EL PAÍS", EM MADRI
O ex-premiê israelense Shimon
Peres -contemplado com o Prêmio Nobel da Paz em 1994, após
assinar o acordo de Oslo e levar a
esperança de paz ao Oriente Médio- acaba de completar 80 anos
e ainda espera ver a situação se
acalmar na região.
Ele culpa os EUA e a Europa pelo impasse em que atolou o chamado "mapa do caminho" e afirma que o tempo para alcançar um
acordo está chegando ao fim para
todos. Acompanhado pelo embaixador israelense na Espanha,
Victor Harel, Peres concedeu a seguinte entrevista ao "El País", em
Madri.
Pergunta - Por que o sr. não concorda com o Acordo de Genebra?
Peres - Não sou contra. Foi uma
iniciativa positiva. Ela veio mostrar que existe uma parte no lado
árabe com a qual podemos dialogar e chegar a um acordo, e também que, teoricamente, o acordo
é possível. Pessoalmente, porém,
prefiro o "mapa do caminho",
porque talvez seja menor em termos de detalhes e maior em matéria de apoio. Para fazer a paz, é
preciso ter a maioria. Com o "mapa do caminho", acho que poderíamos consegui-la.
Pergunta - O Acordo de Genebra
acabou obtendo mais apoio do que
qualquer lado imaginava: Tony
Blair, Vladimir Putin, Jacques Chirac e até mesmo os EUA.
Peres - Sim, mas nem os EUA
nem a Rússia podem tomar decisões pelas partes envolvidas. Podem apoiar, sugerir, mas não
substituir.
Pergunta - E o senhor crê que o
"mapa do caminho" tenha o apoio
real da sociedade israelense e da
sociedade palestina?
Peres - Tem o apoio da direita e
da esquerda em Israel, logo, claramente, tem o apoio maior.
Pergunta - A realidade é que não
funciona. De quem é a culpa?
Peres - O Quarteto [EUA, União
Européia, Rússia e ONU] se pôs
de acordo sobre o projeto e depois, quando chegou a hora de levá-lo adiante, desapareceu. A divisão entre Europa e América é
muito negativa, porque para a paz
precisamos de uma posição harmoniosa entre eles. E, para reviver
o "mapa do caminho", o Quarteto
precisa se reunir e decidir sobre
ações concretas a empreender.
Pergunta - O sr. acha que o Israel
não tomou as medidas necessárias
para facilitar a paz?
Peres - Acho que nenhuma das
partes apoiou seriamente o ex-premiê [palestino] Abu Mazen.
Existem boas e más notícias em
toda situação: a boa é que os palestinos compreenderam que não
podem continuar do jeito como
estão para sempre. Se o fizerem,
entrarão definitivamente para o
mundo do terrorismo. Hoje o
mundo já não se divide entre Ocidente e Oriente, norte ou sul. Você é terrorista ou não é terrorista.
Se os palestinos não o fizerem, farão parte do bando dos terroristas. Muitos já se deram conta disso, são inteligentes.
Em Israel, o fato de o [partido]
Likud ter aberto mão da Grande
Israel é um fato importante, ao
menos teoricamente. Acredito
que o custo da Intifada e da piora
da situação econômica já esteja alto demais para os dois lados.
Outro fato importante é que as
partes já não têm tanto tempo. Os
palestinos porque, como eu já disse, se continuarem com o terror,
perderão sua oportunidade. E os
israelenses porque, se não admitirmos a declaração de um Estado
palestino, perderemos a maioria
demográfica. De cada cem crianças, 60 são palestinas e 40, judias.
Também a situação econômica, a
crítica internacional e a situação
no Oriente Médio, com um Irã
que pode ter a bomba atômica
dentro de três anos... Tudo isso
faz com que não tenhamos muito
tempo. Logo, são essas as boas
notícias. As más são que ninguém
demonstra uma vontade real de
passar da necessidade compreendida para a ação necessária.
Tradução de Clara Allain
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