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São Paulo, terça-feira, 09 de dezembro de 2003

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RELIGIÃO

Igrejas defendem uso da vestimenta em escolas, mas Chirac poderá proibir, em decisão a ser tomada nos próximos dias

Cristãos franceses apóiam véu islâmico

DA REDAÇÃO

Os intensos debates que vêm acontecendo na França em razão de uma possível proibição do uso véus por meninas muçulmanas nas escolas públicas se ampliaram ontem, com a decisão das igrejas cristãs de se posicionar contra a medida.
Em carta conjunta enviada ao presidente Jacques Chirac, as igrejas Católica, Protestante e Ortodoxa afirmam que uma lei com tal medida traria consequências negativas e que um problema muito maior a ser enfrentado é o fracasso do país em promover a integração dos cidadãos muçulmanos. A França tem a maior comunidade islâmica da Europa, com cerca de 5 milhões de muçulmanos (as estimativas variam de 3 milhões a 6 milhões).
"Nossa convicção é que fazer leis não é a maneira de resolver positivamente esses problemas", diz a carta, que ainda critica a pressa dos políticos em adotar uma proibição que poderá aumentar entre os muçulmanos o sentimento de rejeição pela maioria da sociedade.
O Conselho Francês da Fé Islâmica naturalmente é contra qualquer medida proibitiva, argumentando que o Alcorão (o livro sagrado muçulmano) exige que as mulheres cubram suas cabeças e que o princípio de liberdade religiosa da França garante as manifestações de fé.

Sociedade laica
Chirac deu indícios na semana passada de que está disposto a tomar alguma medida para proteger o princípio, definido por lei desde 1905, de que a França é uma sociedade laica, que permite a liberdade de credo, mas não endossa nenhuma religião. Na última sexta-feira, o presidente declarou haver "alguma coisa agressiva" em relação a véus.
Uma pesquisa de opinião divulgada no último fim de semana apontou que 57% dos franceses apóiam a proibição de símbolos religiosos em escolas e repartições públicas, e 41% manifestaram-se contra.
A revista "Elle" também tomou partido na questão e publicou um apelo a Chirac assinado por mais de 60 mulheres francesas de destaque. As atrizes Isabelle Adjani e Isabelle Huppert e a designer de moda Sonia Rykiel, entre outras, pediram ao presidente que apresentasse projeto de lei proibindo "esse símbolo visível da submissão da mulher".
Dois membros do gabinete já se manifestaram contra a adoção de lei proibindo os véus. O ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, e o da Educação, Luc Ferry, disseram que a medida iria criar mais problemas. No entanto os dois adotaram um discurso mais cauteloso após as declarações do presidente.
Há cerca de três meses, Chirac criou uma comissão para estudar a questão e disse que se manifestaria após ler as conclusões apresentadas. O relatório da comissão deve ser entregue nesta semana.
De acordo com uma decisão da Justiça francesa em 1989, véus e outros símbolos religiosos são permitidos nas escolas do Estado desde que não sejam "invasivos". Como o termo permite variadas interpretações, tem havido muitos conflitos envolvendo pais e diretores de escolas. Diversas meninas foram expulsas de escolas neste ano por uso de véu.


Com "The Independent" e agências internacionais


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