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RELIGIÃO
Igrejas defendem uso da vestimenta em escolas, mas Chirac poderá proibir, em decisão a ser tomada nos próximos dias
Cristãos franceses apóiam véu islâmico
DA REDAÇÃO
Os intensos debates que vêm
acontecendo na França em razão
de uma possível proibição do uso
véus por meninas muçulmanas
nas escolas públicas se ampliaram
ontem, com a decisão das igrejas
cristãs de se posicionar contra a
medida.
Em carta conjunta enviada ao
presidente Jacques Chirac, as
igrejas Católica, Protestante e Ortodoxa afirmam que uma lei com
tal medida traria consequências
negativas e que um problema
muito maior a ser enfrentado é o
fracasso do país em promover a
integração dos cidadãos muçulmanos. A França tem a maior comunidade islâmica da Europa,
com cerca de 5 milhões de muçulmanos (as estimativas variam de 3
milhões a 6 milhões).
"Nossa convicção é que fazer
leis não é a maneira de resolver
positivamente esses problemas",
diz a carta, que ainda critica a
pressa dos políticos em adotar
uma proibição que poderá aumentar entre os muçulmanos o
sentimento de rejeição pela maioria da sociedade.
O Conselho Francês da Fé Islâmica naturalmente é contra qualquer medida proibitiva, argumentando que o Alcorão (o livro
sagrado muçulmano) exige que as
mulheres cubram suas cabeças e
que o princípio de liberdade religiosa da França garante as manifestações de fé.
Sociedade laica
Chirac deu indícios na semana
passada de que está disposto a tomar alguma medida para proteger o princípio, definido por lei
desde 1905, de que a França é uma
sociedade laica, que permite a liberdade de credo, mas não endossa nenhuma religião. Na última
sexta-feira, o presidente declarou
haver "alguma coisa agressiva"
em relação a véus.
Uma pesquisa de opinião divulgada no último fim de semana
apontou que 57% dos franceses
apóiam a proibição de símbolos
religiosos em escolas e repartições
públicas, e 41% manifestaram-se
contra.
A revista "Elle" também tomou
partido na questão e publicou um
apelo a Chirac assinado por mais
de 60 mulheres francesas de destaque. As atrizes Isabelle Adjani e
Isabelle Huppert e a designer de
moda Sonia Rykiel, entre outras,
pediram ao presidente que apresentasse projeto de lei proibindo
"esse símbolo visível da submissão da mulher".
Dois membros do gabinete já se
manifestaram contra a adoção de
lei proibindo os véus. O ministro
do Interior, Nicolas Sarkozy, e o
da Educação, Luc Ferry, disseram
que a medida iria criar mais problemas. No entanto os dois adotaram um discurso mais cauteloso
após as declarações do presidente.
Há cerca de três meses, Chirac
criou uma comissão para estudar
a questão e disse que se manifestaria após ler as conclusões apresentadas. O relatório da comissão
deve ser entregue nesta semana.
De acordo com uma decisão da
Justiça francesa em 1989, véus e
outros símbolos religiosos são
permitidos nas escolas do Estado
desde que não sejam "invasivos".
Como o termo permite variadas
interpretações, tem havido muitos conflitos envolvendo pais e diretores de escolas. Diversas meninas foram expulsas de escolas
neste ano por uso de véu.
Com "The Independent" e agências internacionais
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