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"Falta de proposta clara" derrotou Chávez, afirma ex-embaixador
Vladimir Villegas, afastado do cargo pelo presidente, diz que ainda o apóia
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Tido como uma voz moderada dentro do governo Hugo
Chávez, o jornalista Vladimir
Villegas deixou nesta semana o
cargo de vice-ministro das Relações Exteriores para Ásia,
Oriente Médio e Oceania, logo
depois de dizer que o presidente precisa "estar acompanhado
de pessoas que lhe digam as coisas". Foi a interrupção de um
longo período no poder, que incluiu o cargo de embaixador no
Brasil e de presidente da TV estatal venezuela, a VTV.
Nesta entrevista à Folha, Villegas diz que a falta de uma
proposta bem definida foi um
dos motivos que levaram à derrota no referendo:
FOLHA - Por que Chávez perdeu o
referendo?
VLADIMIR VILLEGAS - Há muitos
fatores. Por exemplo, algum nível de descontentamento com a
gestão de prefeitos, governadores. E tem a ver com a tendência natural dos venezuelanos
de não dar muita importância a
processos de consulta fora da
eleição presidencial. Além disso, a campanha esteve marcada
por medos e incertezas. Por
exemplo, não conseguimos definir claramente a natureza
completa do projeto socialista
porque nem entre nós isso está
definido. Também foi uma reforma muito complexa, com
muitos temas.
FOLHA - O sr. saiu do governo após
fazer críticas....
VILLEGAS - Não, quero esclarecer isso. Você tem toda a razão e
o direito de pensar, mas há vários meses havia pedido ao
chanceler para sair. Queria voltar à minha atividade como jornalista. Ele me pediu que esperasse até depois do referendo.
Eu esperei e logo se deram as
minhas declarações sobre o resultado. Casualmente ou não,
no dia seguinte às minhas declarações se dá a decisão de
aceitar a minha renúncia.
FOLHA - Nas suas declarações, o sr.
disse que o presidente precisa ouvir
críticas, e no dia seguinte saiu do governo. Existe autocrítica?
VILLEGAS - Se não existe, é preciso criar, porque é necessária.
Tem de haver um clima que
permita às bases e a todos que
queiram expressar seu ponto
de vista que o façam sem temor.
Também tem de haver um
espaço para dialogar com o resto da sociedade. Eu me refiro
aos setores médios, aos setores
democráticos da oposição.
FOLHA - É legítimo propor essa reforma constitucional novamente?
VILLEGAS - É um objetivo político que o chavismo propôs. E isso, desde que está previsto na
Constituição, é legítimo.
O problema está nos temas
que serão escolhidos para essa
reforma. Acho que é um debate
sumamente prematuro, não é
factível que isso possa ser feito,
por exemplo, no ano que vem.
FOLHA - Havia três anos, o governo
era muito mais aberto com a imprensa. Por que se fechou?
VILLEGAS - Os meios foram aumentando o enfrentamento
com o governo, assumiram um
papel político, substituíram a
oposição. Isso tem sua resposta. Mas não quer dizer que não
se tenham cometido erros na
política de comunicação.
FOLHA - A não-renovação da RCTV
foi um erro?
VILLEGAS - Não chamaria de erro; foi uma decisão conseqüente com o que o governo dizia,
que é o Estado quem controla o
espaço radioelétrico.
FOLHA - Brasil e Venezuela tiveram
um ano turbulento, com uma melhora no final. Como estão as relações neste momento?
VILLEGAS - Como todas as relações, teve seus momentos difíceis por razões da política. Há
setores do Brasil inimigos de
Chávez. Os mesmos interesses
econômicos que querem afetar
um governo revolucionário na
Venezuela agem em outros países, numa espécie de solidariedade interoligárquica. Se a direita brasileira é contra Chávez, fará com que a relação não
seja de aproximação. E Lula
tem faz um esforço maravilhoso tentando neutralizar isso.
FOLHA - O partido Podemos, o ex-general Raúl Isaías Baduel e agora o
sr. deixaram o governo ou de apoiar
Chávez. Há espaço político para governistas moderados?
VILLEGAS - Sou um jornalista
agora, mas continuo apoiando
o presidente claramente. Mas
essa é uma pergunta difícil.
Com relação ao Podemos, espero que exista um espaço para
podermos nos encontrar.
FOLHA - Chávez disse que sairá do
governo em 2013. O sr. acredita?
VILLEGAS - Respondo que o
mais seguro é: quem sabe?
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