São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2007

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"Falta de proposta clara" derrotou Chávez, afirma ex-embaixador

Vladimir Villegas, afastado do cargo pelo presidente, diz que ainda o apóia

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Tido como uma voz moderada dentro do governo Hugo Chávez, o jornalista Vladimir Villegas deixou nesta semana o cargo de vice-ministro das Relações Exteriores para Ásia, Oriente Médio e Oceania, logo depois de dizer que o presidente precisa "estar acompanhado de pessoas que lhe digam as coisas". Foi a interrupção de um longo período no poder, que incluiu o cargo de embaixador no Brasil e de presidente da TV estatal venezuela, a VTV.
Nesta entrevista à Folha, Villegas diz que a falta de uma proposta bem definida foi um dos motivos que levaram à derrota no referendo:

FOLHA - Por que Chávez perdeu o referendo?
VLADIMIR VILLEGAS
- Há muitos fatores. Por exemplo, algum nível de descontentamento com a gestão de prefeitos, governadores. E tem a ver com a tendência natural dos venezuelanos de não dar muita importância a processos de consulta fora da eleição presidencial. Além disso, a campanha esteve marcada por medos e incertezas. Por exemplo, não conseguimos definir claramente a natureza completa do projeto socialista porque nem entre nós isso está definido. Também foi uma reforma muito complexa, com muitos temas.

FOLHA - O sr. saiu do governo após fazer críticas....
VILLEGAS
- Não, quero esclarecer isso. Você tem toda a razão e o direito de pensar, mas há vários meses havia pedido ao chanceler para sair. Queria voltar à minha atividade como jornalista. Ele me pediu que esperasse até depois do referendo. Eu esperei e logo se deram as minhas declarações sobre o resultado. Casualmente ou não, no dia seguinte às minhas declarações se dá a decisão de aceitar a minha renúncia.

FOLHA - Nas suas declarações, o sr. disse que o presidente precisa ouvir críticas, e no dia seguinte saiu do governo. Existe autocrítica?
VILLEGAS
- Se não existe, é preciso criar, porque é necessária. Tem de haver um clima que permita às bases e a todos que queiram expressar seu ponto de vista que o façam sem temor.
Também tem de haver um espaço para dialogar com o resto da sociedade. Eu me refiro aos setores médios, aos setores democráticos da oposição.

FOLHA - É legítimo propor essa reforma constitucional novamente?
VILLEGAS
- É um objetivo político que o chavismo propôs. E isso, desde que está previsto na Constituição, é legítimo. O problema está nos temas que serão escolhidos para essa reforma. Acho que é um debate sumamente prematuro, não é factível que isso possa ser feito, por exemplo, no ano que vem.

FOLHA - Havia três anos, o governo era muito mais aberto com a imprensa. Por que se fechou?
VILLEGAS
- Os meios foram aumentando o enfrentamento com o governo, assumiram um papel político, substituíram a oposição. Isso tem sua resposta. Mas não quer dizer que não se tenham cometido erros na política de comunicação.

FOLHA - A não-renovação da RCTV foi um erro?
VILLEGAS
- Não chamaria de erro; foi uma decisão conseqüente com o que o governo dizia, que é o Estado quem controla o espaço radioelétrico.

FOLHA - Brasil e Venezuela tiveram um ano turbulento, com uma melhora no final. Como estão as relações neste momento?
VILLEGAS
- Como todas as relações, teve seus momentos difíceis por razões da política. Há setores do Brasil inimigos de Chávez. Os mesmos interesses econômicos que querem afetar um governo revolucionário na Venezuela agem em outros países, numa espécie de solidariedade interoligárquica. Se a direita brasileira é contra Chávez, fará com que a relação não seja de aproximação. E Lula tem faz um esforço maravilhoso tentando neutralizar isso.

FOLHA - O partido Podemos, o ex-general Raúl Isaías Baduel e agora o sr. deixaram o governo ou de apoiar Chávez. Há espaço político para governistas moderados?
VILLEGAS
- Sou um jornalista agora, mas continuo apoiando o presidente claramente. Mas essa é uma pergunta difícil.
Com relação ao Podemos, espero que exista um espaço para podermos nos encontrar.

FOLHA - Chávez disse que sairá do governo em 2013. O sr. acredita?
VILLEGAS
- Respondo que o mais seguro é: quem sabe?

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