São Paulo, quinta-feira, 09 de dezembro de 2010

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Anúncio de 2º turno provoca onda de protestos no Haiti

Para acalmar os ânimos, três candidatos podem ir à nova votação; manobra tem apoio de Brasil e outros

Aeroporto da capital, Porto Príncipe, além de repartições e comércio são fechados; tumulto já fez quatro mortos

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS
LUIS KAWAGUTI
DE SÃO PAULO

Milhares de haitianos foram às ruas protestar contra os resultados das eleições presidenciais no Haiti. Pelo menos quatro pessoas morreram e a capital foi tomada por barricadas.
Os manifestantes criticavam principalmente a eliminação do cantor de centro-direita Michel Martelly e a passagem do candidato governista Jude Célestin para o segundo turno do pleito.
A solução sugerida pelo CEP (Conselho Eleitoral Provisório) para acabar com os protestos é que três, e não dois candidatos, disputem o segundo turno da eleição em 16 de janeiro de 2011.
A manobra deve ser apoiada pela comunidade internacional, segundo o embaixador brasileiro Igor Kipman.
Pelos resultados preliminares divulgados anteontem deveriam ir para o segundo turno apenas a ex-primeira-dama Mirlande Manigat (31,37% dos votos), e o governista Jude Célestin (22,48%).
Porém, Martelly teve só 0,6% de votos a menos que Célestin (21,84%)
"O que comunidade internacional quer é que tudo seja feito pela via legal. A lei diz claramente que se houver igualdade entre o segundo e o terceiro candidato os dois vão para o segundo turno. Na prática o que houve é um empate técnico", disse o embaixador Kipman.
Em 2006 o país também foi varrido pela violência após suspeitas de irregularidades na contagem dos votos.
Na época, um grupo formado pela ONU e pelas embaixadas brasileira, americana, francesa e pelos apoiadores do Haiti achou uma solução jurídica para declarar eleito o presidente René Préval no primeiro turno sem maioria simples.
A ideia foi adotada pelas autoridades eleitorais, e a violência foi controlada.
Kipman disse que a comunidade internacional deve novamente oferecer seu apoio ao CEP, mas sem intervir no resultado da eleição.
Os partidos têm 72 horas para contestar o resultado preliminar. A Justiça eleitoral analisará os argumentos.

VIOLÊNCIA
O aeroporto da capital foi fechado, pois funcionários não conseguiram chegar para trabalhar. Nem comércio nem repartições públicas funcionaram.
A sede do Inité, o partido do candidato do presidente René Préval, foi incendiada, e rádios locais informaram que pelo menos quatro pessoas morreram, supostamente em conflitos com a ONU.
As manifestações, a maioria promovida por seguidores de Martelly, começaram ainda anteontem, momentos depois de o CPE (Conselho Provisório Eleitoral) divulgar os resultados da atribulada votação de 28 de novembro.

EUA
Ainda na noite de anteontem, a embaixada americana em Porto Príncipe lançou dura nota na qual chama os resultados iniciais da eleição haitiana de "inconsistentes" e cobra respeito à vontade popular haitiana.
Ontem, em nova nota, a representação americana exortava governo, CPE e atores políticos a trabalhar "por meio do sistema haitiano de contestação". À tarde, Martelly fez um pronunciamento numa rádio local chamando os resultados de "falsos" e exortando seus seguidores a seguir se manifestando pacificamente.


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