São Paulo, quinta-feira, 09 de dezembro de 2010

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Rabinos vetam venda de casa a não judeus

Decreto religioso em Israel, sem força de lei, proíbe vender imóveis em cerca de 50 cidades, causando polêmica

Para presidente Shimon Peres, anúncio dos rabinos "abre uma crise moral fundamental no Estado de Israel"

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Rabinos-chefes de cerca de 50 cidades de Israel endossaram decreto que proíbe a venda de imóveis a não judeus, despertando fortes críticas e acusações de racismo por parte de líderes árabes.
O endosso dos religiosos dá força a um movimento iniciado no mês passado em Tsfat (norte), quando rabinos da cidade, considerada sagrada no judaísmo, emitiram uma ordem semelhante.
O decreto é inspirado em injunções bíblicas que os rabinos signatários interpretam como uma proibição à venda de terras a não judeus.
"Gentios [não judeus] têm estilos de vida diferentes do de judeus" e podem colocar vidas em risco, argumenta o decreto. Judeus que venderem casas a gentios devem ser evitados, completa.
Apesar de não ter força de lei, a ordem abala a delicada convivência com os árabes de Israel, 20% da população. E causa enorme constrangimento ao país que gaba-se de ser a única democracia do Oriente Médio. Os rabinos-chefes exercem função pública e são pagos pelo Estado.
Entre os signatários da carta estão rabinos-chefes de cidades importantes, como Yossi Sheinen, de Ashdod (quinta maior de Israel).
O presidente Shimon Peres reagiu num tom de condenação raramente usado por políticos em Israel contra autoridades religiosas.
"O anúncio abre uma crise moral fundamental no Estado de Israel", disse Peres. "Toca na essência e no conteúdo do Estado como Estado judeu e democrático."
O premiê Binyamin Netanyahu também não poupou críticas ao anúncio e garantiu que Israel "rejeita totalmente" o decreto religioso.
"Como nos sentiríamos se alguém dissesse para não vender apartamentos para os judeus?", questionou. "É proibido dizer coisas assim, especialmente num Estado judeu democrático".
Ahmed Tibi, um dos mais ativos deputados árabes no Parlamento israelense, chamou os rabinos que assinaram a carta de "skinheads".
"Tenho certeza de que o número de rabinos vai crescer", disse. "Uma vez que os árabes são um povo semita, isso é antissemitismo. Esses rabinos são skinheads agindo contra os árabes".
O decreto também causou um choque com autoridades religiosas que discordam da interpretação dos rabinos.
"Não há veto a vender casas a não judeus", disse o rabino-chefe de Ramat Gan, Yaakov Ariel, respeitado especialista em lei judaica.
A controvérsia acompanha o conflito palestino-israelense desde seus primórdios, quando os primeiros sionistas chegaram e passaram a adquirir propriedades.
No lado palestino, o veto é oficial e levado às últimas consequências. A Autoridade Nacional Palestina confirmou recentemente que a venda de terras a israelenses é uma ofensa grave, punida com pena de morte.


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