São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

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EUA cobram indenizações da Venezuela

Porta-voz fala em "obrigações contratuais" com empresas que Chávez quer reestatizar, duas delas com sócios americanos

Bolsa de Caracas cai 18,66% e ações da telefônica Cantv caem 30,2%; empresas dos EUA e pequeno investidor são maiores prejudicados

DA REDAÇÃO

O governo americano cobrou da Venezuela que respeite os contratos e indenize as empresas afetadas por seu plano de reestatização. A resposta dos Estados Unidos ao plano anunciado pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, de nacionalizar uma empresa telefônica e uma distribuidora de energia, ambas com sócios americanos, veio por quatro fontes do primeiro escalão de Washington.
Outra reação foi a forte queda da Bolsa de Valores de Caracas, de 18,66%, e a desvalorização das ações das empresas que estão na mira de Chávez. No mercado paralelo, o bolívar, moeda local, desabou.
O porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, disse que "as nacionalizações têm uma longa e pouca gloriosa história pelo mundo". "Apoiamos o povo venezuelano, hoje é um dia triste para eles", afirmou. Além de cobrar respeito aos contratos, o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, chamou as nacionalizações de "propostas desgastadas".
O secretário (ministro) de Energia dos EUA, Samuel Bodman, falou que os contratos deveriam ser "invioláveis". "Se companhias americanas forem afetadas, esperamos que elas sejam compensadas de modo imediato e justo", disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Gordon Johndroe.
Os anúncios dos planos estatizantes foram feitos na segunda-feira, durante a posse dos ministros que acompanharão Chávez em seu segundo mandato, que vai até 2013.
Chávez toma posse hoje, quando prometeu dar mais detalhes sobre as novas medidas. Ele citou que pretende estatizar a Companhia Anônima de Telefones da Venezuela (Cantv), maior empresa de telefonia fixa e maior servidor de internet do país. Pelo seu discurso, deduziu-se que também a empresa Electricidad de Caracas deve ser reestatizada.

Empresas afetadas
Os investidores americanos na Venezuela são os maiores afetados com os anúncios.
Criada em 1930 como uma empresa privada e nacionalizada em 1951, a Cantv foi privatizada novamente em 1991.
Metade de suas ações foram vendidas pela bolsa de valores. A Cantv tem 10 mil acionistas na Bolsa de Caracas e outros 3.000 na Bolsa de Nova York. A americana Verizon ficou com 28,5% das ações, e a espanhola Telefónica, com 6,9%.
No ano passado, a Verizon negociou a venda de sua participação na Cantv para a empresa América Móvil, do magnata mexicano Carlos Slim, dono da Embratel e da Claro. A venda aguardava a aprovação das autoridades venezuelanas.
Com o anúncio de segunda-feira, as ações da Cantv caíram 30,2% na Bolsa de Nova York - o valor da empresa perdeu US$ 770 milhões. Para "proteger os pequenos investidores", a Comissão Nacional de Valores da Venezuela tirou as ações da Cantv e da Electricidad de Caracas do mercado.
Esta última foi comprada em 2000 pelo grupo americano AES (que é proprietário da Eletropaulo, no Brasil), por US$ 1,6 bilhão. Na época, Chávez recebeu bem a compra pelos americanos, que impediram que a empresa ficasse com a "oligarquia" venezuelana. As ações da empresa caíram 20% até sua retirada do pregão.
O bolívar se desvalorizou em 20% ontem no mercado paralelo e ficou cotizado em 4.200 bolívares, 700 bolívares a mais que na segunda-feira. A Venezuela tem um controle de câmbio desde fevereiro de 2003, com uma cotação oficial em 2.120 bolívares por dólar.


Com agências internacionais


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