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Retórica à parte, mudança assinala maior peso do Estado e traz riscos
RICHARD LAPPER
DO "FINANCIAL TIMES"
Quando, há pouco mais de
um mês, Hugo Chávez conquistou uma vitória arrasadora nas
eleições presidenciais, foi claro
ao falar de suas intenções radicais. Mesmo assim, a rapidez
com que agiu pegou muitas
pessoas de surpresa. Uma analista em Caracas da consultoria
Latin Source, Tamara Herrera,
diz que a velocidade das mudanças "foi um choque".
Algumas das medidas anunciadas podem ser mais retórica
do que realidade. As negociações com as empresas que operam na bacia do Orinoco já vêm
acontecendo há alguns meses.
É previsto que os investidores
vão concordar com os novos
termos, incluindo o controle
majoritário do Estado sobre
novos empreendimentos, do
mesmo modo como fizeram no
ano passado duas dúzias de outras companhias que operam
nos campos petrolíferos convencionais da Venezuela.
Mesmo assim, as novas medidas parecem, sim, conduzir a
Venezuela num rumo novo,
confirmando o papel crescente
do Estado na economia e um
modelo político mais centralizado. Quando Chávez chegou
ao poder, o governo seguia um
modelo econômico muito mais
pragmático. Após a tentativa
fracassada de golpe contra ele,
em 2002, Chávez foi pouco a
pouco aumentando o controle
do Estado sobre os preços e as
taxas de juros e tomou medidas
para restringir o acesso do setor privado a divisas.
A nacionalização de empresas como a Cantv, porém, deve
reduzir de modo dramático o
peso do setor privado na economia. Ganharão peso maior o governo, as joint ventures controladas pelo Estado, as cooperativas e as firmas comunitárias,
muitas das quais são dependentes do Estado.
As medidas anunciadas
abrem duas áreas de vulnerabilidade. Em primeiro lugar, Chávez pode começar a ter dificuldade maior em administrar os
desequilíbrios econômicos. A
ação hostil contra empresas estrangeiras deve resultar numa
redução dos investimentos nos
campos petrolíferos. As nacionalizações também podem intensificar as pressões sobre o
mercado de divisas.
Nacionalizações na escala
anunciada irão reduzir a confiança e incentivar a fuga de capitais. Tamara Herrera, da Latin Source, prevê aumento dos
preços e que o governo amplie
os controles sobre os preços.
Em segundo lugar, a adoção
de um modelo político mais
restritivo aumenta os riscos de
isolamento de Chávez na América Latina. No ano passado, a
Venezuela entrou para o Mercosul. Para ser membro desse
clube, a Venezuela precisa respeitar as regras democráticas
comumente aceitas.
Tradução de CLARA ALLAIN
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