São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

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Retórica à parte, mudança assinala maior peso do Estado e traz riscos

RICHARD LAPPER
DO "FINANCIAL TIMES"

Quando, há pouco mais de um mês, Hugo Chávez conquistou uma vitória arrasadora nas eleições presidenciais, foi claro ao falar de suas intenções radicais. Mesmo assim, a rapidez com que agiu pegou muitas pessoas de surpresa. Uma analista em Caracas da consultoria Latin Source, Tamara Herrera, diz que a velocidade das mudanças "foi um choque".
Algumas das medidas anunciadas podem ser mais retórica do que realidade. As negociações com as empresas que operam na bacia do Orinoco já vêm acontecendo há alguns meses. É previsto que os investidores vão concordar com os novos termos, incluindo o controle majoritário do Estado sobre novos empreendimentos, do mesmo modo como fizeram no ano passado duas dúzias de outras companhias que operam nos campos petrolíferos convencionais da Venezuela.
Mesmo assim, as novas medidas parecem, sim, conduzir a Venezuela num rumo novo, confirmando o papel crescente do Estado na economia e um modelo político mais centralizado. Quando Chávez chegou ao poder, o governo seguia um modelo econômico muito mais pragmático. Após a tentativa fracassada de golpe contra ele, em 2002, Chávez foi pouco a pouco aumentando o controle do Estado sobre os preços e as taxas de juros e tomou medidas para restringir o acesso do setor privado a divisas.
A nacionalização de empresas como a Cantv, porém, deve reduzir de modo dramático o peso do setor privado na economia. Ganharão peso maior o governo, as joint ventures controladas pelo Estado, as cooperativas e as firmas comunitárias, muitas das quais são dependentes do Estado. As medidas anunciadas abrem duas áreas de vulnerabilidade. Em primeiro lugar, Chávez pode começar a ter dificuldade maior em administrar os desequilíbrios econômicos. A ação hostil contra empresas estrangeiras deve resultar numa redução dos investimentos nos campos petrolíferos. As nacionalizações também podem intensificar as pressões sobre o mercado de divisas.
Nacionalizações na escala anunciada irão reduzir a confiança e incentivar a fuga de capitais. Tamara Herrera, da Latin Source, prevê aumento dos preços e que o governo amplie os controles sobre os preços. Em segundo lugar, a adoção de um modelo político mais restritivo aumenta os riscos de isolamento de Chávez na América Latina. No ano passado, a Venezuela entrou para o Mercosul. Para ser membro desse clube, a Venezuela precisa respeitar as regras democráticas comumente aceitas.


Tradução de CLARA ALLAIN


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