São Paulo, quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

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Mulheres garantiram vitória de Hillary

Comparecimento de jovens ficou aquém do esperado; pesquisas indicando vitória de Obama ajudaram virada de senadora

Fator Bill Clinton e choro também pesaram, mas senador por Illinois se diz motivado a prosseguir; circo eleitoral foi para Michigan

Jim Cole/Associated Press
Simpatizantes de Hillary a recebem no discurso da vitória em Manchester, na madrugada de ontem


DANIEL BERGAMASCO
ENVIADO ESPECIAL A MANCHESTER

Enquanto os jovens eleitores de Barack Obama fizeram muito barulho (literalmente) às vésperas das primárias de New Hampshire, foram as mulheres mais velhas que arregaçaram as mangas, compareceram às urnas e deram a vitória a Hillary Clinton, que venceu a primária democrata no Estado com 39% dos votos contra 37% do senador de Illinois. Como não é raro no Estado, o resultado contradisse praticamente todas as pesquisas de intenção de voto, que davam Obama como vencedor com diferença de até 13 pontos percentuais.
Hillary diz que a diferença foi o debate da antevéspera. "Foi a primeira vez em que os principais candidatos foram questionados sobre o que fazemos, o que fizemos para ajudar outras pessoas, quais eram nossas realizações e o que queremos fazer para o futuro", disse em entrevista à rede NBC.
Dante Scala, professor de ciência política da Universidade de New Hampshire, diz que o resultado diferente não está relacionado à mudança de opinião dos eleitores, mas à importância que eles deram ao comparecimento às urnas, já que o voto nos EUA não é obrigatório. "O tempo estava lindo e ensolarado em New Hampshire, e parece que os jovens arranjaram coisas melhores para fazer, como esquiar [mesmo com o "calor" de 11 ºC, há muita neve acumulada]", disse à Folha.
"As pesquisas foram concluídas no domingo à noite, e muita coisa aconteceu nas outras 24 horas [a eleição foi na terça]. A humanização de Hillary, quase chorando, parece ter levado seus eleitores, especialmente as mulheres, a deixar de aproveitar o dia ensolarado para lutar por ela, nem que fosse para minimizar a margem da derrota", avalia Scala. Análise da revista inglesa "The Economist" ainda sugere que o "já ganhou" de Obama prejudicou o candidato no Estado.
"Em New Hampshire, independentes [eleitores sem filiação partidária] podem votar em qualquer primária (...) Talvez eles tenham pensado que Obama tinha garantido o voto Democrata (ele vai muito melhor do que Clinton entre republicanos e independentes)", diz a revista, que também cita o envolvimento de Bill Clinton e o momento de emoção na cafeteria como atrativos de voto.
Ontem, Obama se disse motivado a continuar a competição, apesar da derrota inesperada no Estado. "Minha voz está um pouco rouca, minha visão está um pouco turva, minhas costas estão um pouco doloridas, mas meu espírito está forte (...) Uma das coisas mais proveitosas de ontem é que nos lembra de que a mudança não é fácil."

Recorde
Mesmo sem os jovens indo em massa às urnas, o comparecimento na votação foi recorde, o que ajudou Obama (candidato de 47% dos que votaram em uma primária pela primeira vez) a encostar em Hillary. Foram 526.671 votantes, número 32,8% maior que o recorde anterior, de 2000.
Voluntário da campanha de Obama, Bill Kalahurka, 34, nunca tinha votado antes. "Nunca achei tão importante me posicionar como agora, com a possibilidade de um Clinton voltar à Casa Branca. Não que Bill Clinton tenha sido ruim, mas não agüento mais os mesmos sobrenomes nos governando. Imagine o compromisso com os lobistas que os Clinton já devem ter", diz ele, que conta ter vindo da Carolina do Sul e sido hospedado com outros cinco militantes por uma família que apoiava Obama.

Tudo vazio
O clima de ressaca eleitoral toma as ruas de Manchester, a maior cidade de New Hampshire. Cartazes e bandeirolas de candidatos entopem as lixeiras e ninguém mais usa broches dos candidatos nas ruas. Na sede dos voluntários da ex-primeira-dama -que anteontem distribuía suco e sanduíche-, ontem os funcionários trabalhavam com a porta trancada.
O staff de Hillary já estava longe, espalhado pelos próximos Estados a abrigarem votações: Michigan (dia 15), Nevada (dia 19) e Carolina do Sul (19 para os republicanos, 26 para os democratas). "Nós sempre soubemos que Nevada seria importante como o primeiro Estado do Oeste", diz Hilarie Grey, porta-voz da candidatura de Hillary no Estado, justificando o exército de voluntários que já se forma em Las Vegas.
A condução da campanha de Hillary Clinton, depois do "susto" em New Hampshire, é motivo de especulação. A maior participação do ex-presidente e candidato a primeiro-marido Bill Clinton é dada como certa.
Na charutaria Castro's, em Manchester, Tom Clougherty, 46, eleitor do republicano Mitt Romney, criticava-a. "Vamos ser sinceros? Chorar, até o Bush já chorou. Hillary sempre se mostrou artificial e não é agora que alguém vai mudar de opinião por isso", opinava.


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