São Paulo, domingo, 10 de fevereiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Advogados querem chamar Clinton para depor

DE LONDRES

Político e orador experiente, Slobodan Milosevic vem preparando nos últimos dias o mais importante e, possivelmente, o mais longo discurso de sua carreira.
"Se permitirem que ele fale, ele dirá muitas coisas. Certamente o discurso vai durar mais de um dia", disse à Folha, por telefone, Dragoslav Ognjanovic, advogado de Milosevic.
"Do ponto de vista dele, não há um tribunal nem procedimentos judiciais. Ele vai, portanto, falar para o público, tentando explicar a verdade", completou.
A estratégia traçada até agora por Milosevic tem sido a de questionar a legitimidade do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia e atacar as autoridades que pretendem julgá-lo, acusando-as de promover a agenda política de países interessados em vê-lo detrás das grades, como os EUA e o Reino Unido.
"Não é apenas Milosevic que está sendo acusado aqui em Haia", disse Ognjanovic, um dos quatro advogados (dois iugoslavos, um francês e um holandês) que trabalham na defesa.
"Estamos tentando ajudá-lo a mostrar que é completamente ilógico acusar alguém de planejar construir uma "Grande Sérvia" dentro da própria Sérvia, isso é impossível", acrescentou.
Embora tenha dito que vai se defender sozinho, sem advogados, por achar que o tribunal é inexistente, Milosevic tem contado com assessoria jurídica. Essa equipe de advogados, que já cuidava anteriormente da defesa dele em acusações de escândalos financeiros e corrupção em Belgrado, mantém encontros praticamente todos os dias com seu cliente na prisão de Scheveningen, em Haia.
Entre os seus planos para dificultar a tarefa da promotora Carla del Ponte e colocar o tribunal em situação embaraçosa perante o público, Milosevic e seus advogados pretendem convocar para depor um grande número de célebres autoridades internacionais.
Figuram nessa lista o ex-presidente americano Bill Clinton, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e o general Wesley Clark, comandante das forças da Otan durante a campanha de bombardeios à Iugoslávia na Guerra de Kosovo, em 1999.
"Milosevic vai chamar muitas pessoas para testemunhar: políticos, ex-políticos, pessoas comuns", adiantou Ognjanovic. "O tribunal, na minha opinião, tem a obrigação de convocar as pessoas que ele chamar." (MS)


Texto Anterior: Estratégia do ex-ditador foi perfeita, diz analista
Próximo Texto: Artigo: Antiamericanismo vira pretexto político
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.